Em uma tarde de sábado no rio de janeiro, um dia antes de embarcar para Havana (Cuba), onde ia apresentar O Céu de Suely, de Karim Aïnouz, no 28º Festival Internacional de Cinema Latino-Americano, a protagonista Hermila Guedes tinha dois compromissos: uma sessão de fonoaudiologia e uma de fotografia - com direito a entrevista - para a Rolling Stone. A primeira, em Copacabana, foi desmarcada. Para a outra, todos estavam a postos, à espera. Frio na barriga. Será que nosso encontro teria o mesmo destino da fita de O Céu, que (acreditem) rasgou justamente no dia em que eu finalmente consegui sair cedo da redação para ir ao cinema assistir? Assim como deu certo o remendo feito pelo projecionista, também parecia que tudo começava a se resolver quando a atriz ligou para avisar que estaria no hotel, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade.
Não parecia um dia de verão carioca, o céu de Hermila estava meio nublado. Porém, linda, com seu shortinho jeans, uma blusa preta e uma bolsa estilosa a tiracolo, tudo distribuído entre seus 49 quilos e 1,65 metro de altura, ela nem ligava para o vento e entrou na van animada com o papo que já estava rolando sobre Recife e Olinda (onde vive com a mãe, Célia, a irmã, Hermana, e dois sobrinhos). Dali, íamos ao encontro do fotógrafo, no centro - sem trânsito, pouco menos de uma hora de viagem. Primeiro, a pernambucana pediu desculpas por não estar, conforme o combinado, em Copacabana: "É que minha aula de fono foi desmarcada. Estou tentando trocar o 'de' pernambucano pelo 'de' carioca. Isso vai ser mais importante ainda agora que estou interpretando uma gaúcha". Dias antes, ela começara a gravar sua participação como Elis Regina, dos 20 anos até sua morte, para o especial Por Toda a Minha Vida, exibido pela TV Globo em dezembro último.
Talvez esse tenha sido um dos únicos momentos em que Hermila, 26, demonstrou tensão: "Adorei o convite porque o programa mistura documentário e ficção. Estou feliz, mas também preocupada porque venho de cinema, em que você tem tempo para preparar a personagem. Na TV, é tudo muito rápido, tenho medo de fazer errado". Ah, claro, ela pareceu insegura também ao confessar o que estava sentindo em relação à ausência do namorado, o diretor de filmes publicitários Mino: "Ele é baiano e mora no Rio. Mas foi para lá ver os amigos logo no fim de semana que vim para cá. Fiquei meio triste".
Atriz de carne e osso, hermila guedes é tudo que um(a) repórter pode querer da profissão. Assim como foi unanimidade entre os críticos do filme de Karim Aïnouz - que lhe rendeu o Troféu Redentor, ou melhor, o prêmio de Melhor Atriz do Festival do Rio -, os quase dez profissionais envolvidos com a produção da reportagem para a Rolling Stone também se encantaram com a moça, até então desprovida da entourage que costuma acompanhar as celebridades. Enquanto ela era maquiada e penteada, o fotógrafo até brincou: "Vamos aproveitar que não tem assessor para perguntar tudo".
E olha que Hermila já pode ser considerada uma estrela de cinema. Além de O Céu de Suely, tem no currículo Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, o curta-metragem Entre Paredes, de Eric Laurence, e dois filmes que ainda vão para a tela grande: Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, e Deserto Feliz, de Paulo Caldas. Mas, entre a maquiagem, a escolha das roupas, os cliques e alguns cigarros, ela provou que é uma mulher que fala. Tudo. "Sou muito franca. Não fico fingindo o que não sou. Se tiver que chegar bêbada em casa, eu chego. Tudo é muito claro para mim. Na época em que era tabu, ia para as boates gay com meus amigos. Ia para a casa do meu namorado e consegui até abrir espaço para levar quem estivesse namorando para dentro da casa da minha mãe. Tudo bem que isso foi aos 22 anos e eu já botava dinheiro lá. Mas, para uma menina que veio do interior, isso era um horror. Quando perdi a virgindade, aos 18, minha mãe queria me obrigar a casar", lembra Hermila, que viveu em Cabrobó, interior de Pernambuco, até pouco depois do assassinato de seu pai, que era policial, em uma tocaia.
Quando tinha 10 anos, ela foi com a mãe e a irmã mais nova, Hermana, para a carnavalesca Olinda. Depois acabou em Recife, onde estudou Turismo (e chegou a trabalhar em uma agência de viagens), iniciou o curso de Letras na Universidade Federal de Pernambuco e estreou no teatro meio de brincadeira. Lá não era um lugar estranho para a família, apesar de estar a quase oito horas da cidadezinha onde Hermila passou a infância. Para a capital de Pernambuco, ela ia com a mãe todo verão cumprir a agenda de visitas ao dermatologista que tratava de seu vitiligo. Nesse momento, deu para entender por que a atriz não estava preocupada se chovia ou fazia tempo bom naquele dia. "Era obrigada a ficar no sol para que os remédios fizessem efeito", contou. "Tenho vitiligo desde pequena, no olho, na perna, no braço... O meu é simétrico: onde nasce um, nasce outro igualzinho do outro lado. Mas estacionou. Outro dia até vi que nasceu uma pintinha bem pequenininha, depois de um momento de estresse."
De pele bem branquinha e com os olhos claros do avô paterno (o cabelo, segundo ela, é pixaim por causa das avós, uma mulata e uma negra), Hermila é traumatizada por causa das vezes que teve insolação e ficou com "duas bocas" (leia-se lábios ressecados). Ela aturou o sol por obrigação também naquela fase conturbada da vida, a adolescência: "As pessoas me chamavam de Michael Jackson porque era branca demais e tinha o cabelo cacheado. Ficava muito puta! Ia à praia só para não ser chamada assim". O astro pop de cara cirurgicamente modificada vira, então, o assunto em pauta: "Gosto de dançar as músicas dele, mas não gosto da pessoa Michael Jackson. Ele diz que aquilo é vitiligo. É mentira, tenho vitiligo e você não fica branco daquele jeito. Tem tratamento!"
- Vai ver que ele se estressou, proponho um debate.
- Putz, então se estressou muito, né?, exclama Hermila encerrando a questão ao soltar mais uma de suas deliciosas gargalhadas (que são altas e duradouras).
Música, aliás, é uma coisa sobre a qual a pernambucana gosta de falar. Os conterrâneos Eddie, Bonsucesso Samba Clube e DJ Dolores encabeçam sua lista de preferidos. Clássicos como Elis Regina e Maria Bethânia também fazem a cabeça da atriz. "Adoro voz feminina. Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, Vanessa da Mata, Céu... De onde ela é mesmo?", pergunta. A Céu é de São Paulo. "A voz dela é linda", afirma.
O bom gosto musical, segundo Hermila, não é hereditário: "Meu pai gostava de Roberto Carlos em sua fase cafona (anos 80) e minha mãe adora música axé e pagode. Estaria perdida se tivesse puxado a ela". Dançar é uma das atividades preferidas da atriz. Mas não é em qualquer lugar. "Não gosto de ir a boate. Também não sou muito de show. Prefiro festa. De música brega, curto o chamado cult-brega. Em Recife tem uma banda, a Tanga de Sereia, que mistura Gretchen com Amado Batista. Aí a gente dança junto, que nem lambada. É maravilhoso!"
Quando sai, Hermila bebe todas. "Tenho cara, né?", pergunta. Sem uma resposta positiva, explica: "Não sei beber socialmente. Quando bebo, bebo de verdade". Caipiroska e vinho são as bebidas alcoólicas que mais lhe interessam. Uísque a derruba. "Estou acostumada com cerveja, então saio tomando uísque em goladas. Aí não dá certo." Foi em um desses porres que ela chamou a atenção do diretor Karim Aïnouz. "Ele me falou que uma vez, em um carnaval no Recife, me viu em uma festa. Eu, fantasiada, enfiava a mão com uma luva no copo de uísque dele e depois chupava o dedo. Ele adorou isso. E me disse também que já pensava em mim para o filme, mas mesmo assim quis que fizesse o teste de elenco."
A cena não saiu da cabeça do cineasta, que, inspirado pela mão e pela luva, abusou da sensualidade casual de Hermila em O Céu de Suely. No filme, ela é Hermila (mesmo nome), que depois de voltar de uma temporada em São Paulo para seu Ceará natal, com o bebê Mateus nos braços, e perceber que foi abandonada pelo pai de seu filho, inicia a venda de bilhetes, a R$ 15 cada um, de uma rifa cujo prêmio é uma "noite no paraíso com Suely", seu codinome a partir daquele momento. De menininha apaixonada a uma quase prostituta, a personagem enfrenta o preconceito, termina a relação que retomou com o ex-namorado João (João Miguel) e vai até o fim, para conseguir o dinheiro que vai ajudar a Tia Maria (Maria Menezes) e a avó Zezita (Zezita Matos) e para se mandar da cidade novamente. Por telefone, de São Paulo, Karim confirmou algumas das histórias da atriz e contou outras: "Levei algumas atrizes a Iguatu, a cidade onde filmamos, para ver como elas se comportavam naquele universo. Um dia, estávamos passando por uma ponte e, a uma certa distância, havia uma outra, só que de trem. Hermila correu e disse que, na verdade, queria estar lá. Se ainda tinha alguma dúvida de que seria ela a protagonista, esse fato foi determinante para minha decisão. A personagem precisava ter essa angústia de não querer estar onde está. E eu já achava ela uma figura interessantíssima desde o episódio da luvinha. Aquela cena foi trash, mas muito elegante. Achei o máximo."
A maior dificuldade do cineasta foi justamente desconstruir a elegância de Hermila: "O melhor teste de elenco, para mim, é fazer o ator beber água. Ela não só bebe água, como fuma com muita classe. E as roupas?! Qualquer coisa bagaceira fica linda nela. Tive que trabalhar isso." Com um quê de anjo pornográfico, a atriz fez tudo que o diretor pediu. Só nega que tenha cumprido a ordem de fazer sexo de verdade com o baiano João - com quem já havia contracenado em Cinema, Aspirinas -, em uma cena forte em que aparece quase nua. Se durante as filmagens o casal não conseguiu relaxar suficientemente, na vida real os dois entraram de cabeça nos personagens. [Pausa dramática]. "Fiz teste para Cinema, Aspirinas e não passei. Mas o Marcelo (Gomes) queria que estivesse no filme e escreveu um papel para mim. Passei só três dias com os meninos (João e o alemão Peter Ketnath) e mal conversei com eles", recorda.
- Já em O Céu de Suely, vocês tiveram tempo para tudo, dou a deixa.
- Em O Céu de Suely... interrompe a frase, como de costume, faz cara de safadinha, quero dizer, faz cara de boas lembranças, e ri...
- Intimidade total?, pergunto.
- Total! Acho que foi até demais, gargalha Hermila.
- Passou dos limites?
- Passou, analisa.
- Foi bom pra você?
- Foi ótimo!, exclama, antes de completar: "Enquanto durou... A gente namorou durante as filmagens, mas depois não deu certo. Voltamos para a vida real. E, também, estava começando o assédio por causa de Cinema, Aspirinas e o João passou a viajar muito. Mas ele foi muito legal comigo, me ajudou. Estávamos preparados para a cena de sexo, mas não aconteceu. Não deu para ficar à vontade. Não sei por que não rolou".
"Para mim, o ator tem que se entregar. E pedir isso a ela foi um teste. Queria ver os limites de Hermila. Ensaiamos de todas as maneiras: ela com roupa, sem roupa. Mas o mais importante não era sabermos se, na hora H, eles transariam... Precisava que construíssem uma relação de afeto, assim como foi necessário que eu, como diretor, tivesse essa mesma relação com os atores. Por mais que a penetração não tenha rolado, quando o João segura e chupa o peito de Hermila, ele está indo na carne dela. Aquilo é de verdade. E nós todos confiávamos muito uns nos outros", explica Karim. Aliás, durante os ensaios de O Céu, Hermila mudou também sua importância no filme. Ela chegou no Ceará com a proposta de ser a prostituta interpretada pela coadjuvante Georgina Castro, mas acabou protagonista. "Quinze dias antes de começarmos a filmar, Karim mudou tudo. Para mim, não mudou muita coisa, porque a Fátima Toledo (preparadora de elenco) costuma trabalhar a personalidade do ator. Eu falava que era Suely e ela dizia que eu era Hermila", conta a atriz.
-E o que a Hermila da vida real já fez parecido com a do filme? Algo que pudesse te inspirar para a gravação de alguma cena, questiono, pensando na transa, sem o menor tesão, com o ganhador da rifa. Bingo! Nem sempre ela consegue ser honesta com seus sentimentos, como eu pensava, e responde:
- Acho que já fiz muita coisa como ela. Tive sensações verdadeiras durante as filmagens. Não de ter me vendido para trepar com um cara que nunca vi, mas muitas vezes já trepei com quem não queria. Sabe quando você acha que é o cara e não é? Aí, você percebe que não quer aquilo, mas já está ali e não tem jeito. Você acaba se violentando um pouco. É horrível!
O susto veio mesmo quando ela soube que seu nome batizaria também a moça que carrega uma mecha loira cafoooona nos cabelos, assim como aconteceu com os outros atores: "Karim viu que chamar pelo nome verdadeiro criava uma intimidade e resolveu fazer isso. Fiquei meio... Poxa, já era uma entrega tão grande... Vivia a personagem 24 horas por dia. Mas não podia dizer não. Acabei relaxando. Aquele mundo não é meu mesmo. Em Cinema, Aspirinas, o Marcelo também pensou em usar meu nome. Acho que é porque é estranho". O nome surgiu para a mãe de Hermila como idéia da avó, que tinha uma cunhada chamada assim. "Mas meu nome de batismo é superenfeitado, com Y e dois Ls. É H-E-R-M-Y-L-L-A", soletra. "Tirei os excessos, primeiro, porque as pessoas não escreviam corretamente. Muitas mal conseguem falar certinho. Sai Hermínia, Hercila, Herila, tudo menos Hermila."
A atriz diz ainda que não segue a moda da personagem do filme: "Ela é completamente diferente de mim. Aquela franja loira, nunca faria aquilo. Ela é toda errada, viu que aquilo era moda em São Paulo e achou que ia ficar bem nela. Ando de minissaia porque em Recife é quente, mas não uso plataforma, tamanco, aquelas coisas. Gosto de tênis. E acho que as cores das roupas dela são muito 'cheguei'. Sou básica; para mim, quanto menos, melhor. Gosto de cores, mas dou pequenos toques no visual. Customizo roupas, mas nada de mais", declara. Maquiagem, se puder, ela dispensa: "Não curto muito, primeiro porque me preocupo em não estragar minha pele. E tem outra coisa... Maquiagem, você usa, se acha linda e, depois, fica querendo mais. Aí, eu me pergunto: 'Bicho, você não tem tempo de ficar feia nunca? Você não se dá esse direito?' É melhor ir me acostumando comigo assim".
Se em Deserto Feliz, Hermila interpreta uma prostituta "leve", porque é urbana, meio amarga e com um senso de humor maravilhoso, em Baixio das Bestas, ela é uma prostituta do interior, sofredora. "Meu papel em Deserto é bem maior do que em Baixio, mas a puta do filme de Claudio Assis é pesada. São poucas cenas, mas, em uma delas, ela é estuprada pelo badboy interpretado por Matheus Nachtergaele. Tinha muita curiosidade de fazer um filme com Claudio, entender como ele dirige, como é esse porra-louca trabalhando. Foi ótimo! Pena que foi por pouco tempo", lamenta.
Com um sorriso estampado na cara, Hermila conta que foi por causa de O Céu de Suely que conheceu lugares incríveis e viveu cenas de cinema na vida real. Para acompanhar o lançamento do longa, a atriz foi a Veneza (na Itália) e à Grécia. Voltando da primeira viagem, encontrou Patrizio, com quem teve um rápido affair. "Não conhecia nada fora do Brasil. Tudo lá é muito lindo. Parece que você está em um filme. O Patrizio é um comissário de bordo italiano que fala português. Por causa dele, fui para Roma, onde passei três dias. Foi uma paixão cinematográfica. Acabou porque a distância atrapalha. Um dia ele me ligou e descobriu que já estava com Mino... Mas a gente continuou se falando".
- Peraí... João, Patrizio, Mino... Você se apaixona muito? Se entrega demais?
- É difícil falar sobre isso, me apaixono e desapaixono facilmente. Sou o tipo de pessoa que é chamada por aí de namoradeira", gargalha. Estou com o Mino há uns dois meses, mas se não der certo, normal. Sempre levei pé na bunda, principalmente quando amei demais. Eu me entrego e fico chata, grudenta. Sou muito ciumenta também. Na verdade, sou insegura, e aí vem o ciúme. Cobro do cara e tem gente que não gosta. Pior que entendo, porque já estive do outro lado e também não gostei. Mas estou tentando me controlar um pouco."
Sagitariana e com ascendente em Virgem - que ela garante ser o que segura sua onda -, Hermila Guedes corre riscos. "Sou meio santa, meio puta. Gosto de aventuras, mas tem sempre algo que me puxa e me faz ter limite", comenta. Sonhos, ela tem vários, entre eles o de construir uma família. Medo? Existe um: "De ficar sozinha. Sou uma pessoa solitária, mas a idéia da solidão por falta de escolha me amedronta. Gosto de ir ao cinema sozinha, trabalhar sozinha, isso é bom para a concentração. Mas a idéia de estar assim o tempo todo, não dá. Meu sonho é ter um marido, uma casinha, filhos. Tenho medo de não conseguir realizar isso.
Apesar de seu telefone celular tocar o tempo todo com mensagens e ligações, amigos, Hermila diz que tem poucos. E não parece estar muito preocupada com isso. "Não sou muito de grupo. Para falar a verdade, hoje só tenho um amigo com quem saio junto. Não, espera, mentira... Tenho um amigo que digo que é de verdade, e mais algumas pessoas que estão se transformando em amigos. Com amizade tenho muito cuidado, porque é uma relação muito íntima. O amigo de hoje pode ser o superinimigo de amanhã. É muito pior do que uma relação amorosa. Tenho uma amiga há dez anos, a Luciana, que quase não vejo mais. Às vezes, fico muito puta, porque ligo e ela nem quer saber de mim. A gente marca de se encontrar e ela fulera. Esse outro amigo é recente, o Cléber, ele dirigiu uma peça minha. A gente não passa um dia sem se ligar, até quando estou viajando. Entendi que amizade você tem que cultivar, senão perde mesmo."
Se, na profissão e no amor, a atriz vem colhendo bons frutos, Hermila ainda não teve grandes conquistas quando o assunto são bens materiais. "Ajudei minha mãe a comprar um apartamento, mas a única coisa que tenho é um computador", afirma ela, que toma conta da própria agenda, mas pede ajuda à mãe para cuidar do seu dinheiro. Aliás, a proximidade com a mãe é o que Hermila destaca como o maior diferencial entre ela e Suely: "O que eu não faria - pode ser até que um dia faça, porque sou uma pessoa mutante - é me desapegar da família. Sou muito ligada a tudo. Quando saio, mesmo se for para viajar, me sinto um pouco perdida. Sabe, não tenho nada. Quero ter minha casa, mas, por enquanto, a casa da minha mãe é a minha. Gosto da idéia de voltar para lá."
Já no fim da entrevista e da sessão de fotos, que durou quase seis horas, a atriz contou como seria se ela rifasse uma noite no céu com Hermila Guedes: "Não precisa de muita coisa. Tem que ter um vinho, uma banheira com espuma e eu, de preferência, nua". Tudo devidamente perguntado, respondido, fotografado e, o melhor, sem qualquer tipo de censura, era hora de levar a atriz de volta ao hotel, onde ela dormiria e de onde sairia para, no dia seguinte, viajar. A equipe foi se despedindo à medida que a van ia percorrendo os bairros do Rio de Janeiro. Hermila continuava confessando sentimentos íntimos e fazendo com que todas as mulheres da equipe (éramos a maioria) aderissem ao papo sobre namoro, carência afetiva, pé na bunda, terapia para agüentar os próprios dramas etc. Todos saíram satisfeitos, com a certeza de que acabamos de conhecer uma pessoa doce. E se Hermila não gosta de sol, então tomara que chova, para sempre.