Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Mundo das Maravilhas

O coração inconsequente, as noites maldormidas e as adoráveis manias de Taylor Swift, a invencível princesa do Pop

Brian Hiatt | Tradução: J.M. Trevisan Publicado em 07/01/2013, às 17h29 - Atualizado em 09/01/2013, às 17h52

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
<b>JUSTA?</b> Taylor diz que nunca foi injusta com os exnamorados que cita em músicas - THEO WENNER
<b>JUSTA?</b> Taylor diz que nunca foi injusta com os exnamorados que cita em músicas - THEO WENNER

É assim que Taylor Swift soa quando está desesperada: “Oh, meu Deus. Oh, MEU DEUS. OH, MEU DEUS. OH, MEU DEUS”. O bronzeado dela está ficando pálido; os olhos, tão azuis, estão praticamente rodopiando de pânico. Mas ela não fez nada tão desastroso, não começou uma guerra nuclear, nem falou um palavrão ao vivo em uma rádio country ou fez upload do próprio álbum mais recente, Red, no BitTorrent: estamos em uma estrada industrial desolada na frente de um estúdio em Nashville, em um fim de tarde quente de agosto, com ela dirigindo a Toyota SUV preta – e acabou de dar ré e bater em um carro estacionado. Ela nunca aprendeu como usar o GPS do carro, estava tentando se achar com o Google Maps no iPhone, percebeu que estava indo para o lado errado, começou a virar, ainda segurando o telefone, e… bateu.

“Oh, meu Deus”, Taylor repete, parando para respirar. Ela dá outra olhada no carro que atingiu. “Oh, é o carro do meu baixista?” Pode apostar que sim. “Tudo bem, é do meu baixista!” Ela não soaria mais aliviada nem se tivesse recebido o perdão no corredor da morte. Saindo do carro, ela se desculpa com o confuso funcionário, que acabou com um carro levemente amassado. “Vou pagar, prometo! Pode acreditar! Oh, meu Deus, eu sinto muito. Entrei em pânico porque fui para o lado errado e ele [aponta para mim] ia achar que eu sou uma motorista horrível e aí acabei dando ré em outro carro. Esta já é a pior entrevista que ele já fez na vida!” Um dos seguranças dela, que supostamente deveria nos conduzir discretamente, sai de outro carro meio abalado: “Você está bem?” Logo retomamos a jornada até um restaurante local, desta vez com Taylor seguindo o guarda-costas, que serve como GPS humano. Problema resolvido. Taylor Swift ainda passa os dez minutos do caminho se recuperando. “Não acredito que havia um carro atrás de mim.” No momento em que ela bateu, imaginou-se sendo levada algemada para uma cadeia, onde ficaria presa. “Tenho um monte de ansiedades e medos que terminam sempre comigo em um carro de polícia”, ela diz, o rabo de cavalo balançando enquanto chacoalha a cabeça. “Eu sou tão, tipo, de seguir regras, e evitar acidentes. Então isso é perfeito.”

Aos 23 anos, a cantora norte-americana está sempre esperando que sua sorte chegue ao fim. Foi assim inclusive quando a irresistível e nada country “We Are Never Ever Getting Back Together” tornou-se a primeira faixa dela a chegar ao primeiro lugar da parada Hot 100 – até onde ela imagina, pode ser que tudo vá por água abaixo a partir daqui. “Estou sempre com medo que, tipo, algo vá acontecer”, diz, “e que eu não vá conseguir mais fazer isso e tudo vá terminar em um dia. Parte do medo vem de amar tanto o que faço, e de não querer perder.”

Assista à participação dela no programa Punk’d, da MTV, em que Justin Bieber encoraja Taylor a lançar fogos de artifício de uma varanda de frente para o mar – e então faz com que ela pense que deu início a um enorme incêndio em um barco: o rosto dela demonstra a mesma expressão de terror do tipo “ohmeudeusohmeudeus”. “Sabe que tive sérios pesadelos, acordando durante a noite por umas três semanas depois disso? Achei mesmo que estava tudo acabado. Fiquei pensando: ‘Justin só tem 17 anos, vai para a prisão juvenil, mas eu vou para a cadeia feminina de verdade’.”

Mas em sua maior parte a jornada da vida de Taylor tem sido tranquila, com pouquíssimos buracos pelo caminho: era uma terrível jogadora de futebol na 4a série; não se deu bem no basquete apesar da altura; nunca conseguiu abrir as pernas em espacate; tinha dificuldades em matemática. Também teve de lidar com algumas garotas maldosas na escola, e, mais recentemente, como você deve ter ouvido falar, teve alguns namorados problemáticos. Os dentes de cima são um pouquinho pra frente; e com 1,80 m, a postura dela não é das melhores. E, claro, houve aquela vez em que Kanye West roubou o microfone dela e começou a tagarelar coisas sobre Beyoncé – o que ainda não é engraçado para ela. Taylor acabou entendendo que a vida – inclusive a dela – é imprevisível, incontrolável. Confusa. O episódio com West fez com que “percebesse que nada segue exatamente do jeito que você planejou”, ela diz. “Só porque você fez um bom plano não quer dizer que vai ser funcionar.”


Taylor parou de ler notícias sobre si própria depois do incidente no Grammy, e instituiu um veto que a proíbe de procurar o próprio nome no Google. Também se conformou, mais ou menos, com o fato de que a época em que só recebia elogios da imprensa se foi. “Tenho de encarar um dia de cada vez”, ela explica. “Não acho que alguém seja visto como uma coisa só, só boa, no sentido de bem comportado, sempre respeitosa. No começo, quando havia matérias bem pequenas sobre coisas que não eram verdade, achei que isso significava que meus fãs não apareceriam no meu próximo show. Mas agora, bate na madeira – onde tem madeira? Preciso bater na madeira – me sinto como se meus fãs me apoiassem e eu os apoiasse também.” E ela sabe que não pode ser sempre a mocinha. “Faz parte da dinâmica de uma boa história”, diz. “Todo mundo é complicado.”

De certa forma não é surpreendente descobrir que Taylor Swift só foi tomar seu primeiro drink quando completou 21 anos, a idade legal para se beber nos Estados Unidos. “Eu sabia que não conseguiria me safar se bebesse quando era menor”, ela conta, bebericando uma Coca-Cola Diet. “Eu não me importava em saber o que estava perdendo, e sabia que era ilegal, e que com a minha sorte ia acabar sendo pega. E aí você pensa no que todas as mães e garotinhas vão pensar de você. Ainda não sou de beber muito, mas tomo uma taça de vinho de vez em quando.” E já ficou bêbada? “Não vou falar desse assunto! Ninguém quer me imaginar bêbada!”

Ela tem sonhos recorrentes, fruto da tal ansiedade, e um deles, claro, envolve ser presa por um crime que não cometeu. “Fico tentando dizer a eles que não fiz nada”, ela conta, “e eles não escutam, ou minha voz não sai.” Há um outro sonho: “Me vejo em uma sala com pilhas de roupas espalhadas pelo chão, e não consigo limpá-las. E, não importa o que eu faça, elas continuam se acumulando e eu não consigo me mexer. Me deixa louca! Queria poder limpá-las, porque eu adoro limpar. Mas as pilhas ficam cada vez maiores, ou aparecem pilhas no teto e eu nem sei como isso é possível”. Ela sabe de onde vem esse pesadelo. “Acho que tenho um medo enorme de as coisas ficarem fora de controle”, justifica. “Perda de controle, inconsequência e agir sem pensar são coisas que me assustam, porque as pessoas se ferem assim. Quando você diz que alguém é ‘control freak’ e tem TOC ou é ‘organizada’, sugere que seja uma pessoa de natureza fria, e eu não sou. Sou muito aberta no que diz respeito a acolher as pessoas. Mas gosto da minha casa arrumada, e não gosto de causar confusões que ferem as pessoas… Não quero decepcionar ninguém, ou a mim mesma, ou fazer o mal para um monte de gente.”

Ela nunca fez terapia. “Eu me sinto muito sã”, diz.

Basta uma ouvida por cima nas músicas de Taylor Swift – e a temática de Red continua assim – para perceber em qual parte de sua vida ela permite que a confusão reine. “Vejo o amor como algo que deve ser seguido”, ela conta, “e sofrido, se for para sofrer. Você tem de deixar de lado o que todo mundo pensa. Tem de ser uma mentalidade do tipo ‘nós contra o mundo’. Tem de fazer dar certo dando prioridade a ele, e se apaixonando bem rápido, sem pensar muito. Se eu pensar muito sobre um relacionamento, eu me convenço a desistir.” E por que ela prefere homens na casa dos 30 – John Mayer, Jake Gyllenhaal? “Tenho regras para várias áreas de minha vida”, ela diz. “O amor não vai ser uma delas.” Antes de ficar com o ex-namorado Conor Kennedy, ela divulgou publicamente o interesse na história da família Kennedy, e tinha mencionado que leu um livro de 960 páginas chamado The Kennedy Women. “Estranho”, ela diz. “Oh, meu Deus, eu sei. É tipo: há umas coincidências na minha vida que são estranhas.” Mais recentemente, ela tem sido vista constantemente na companhia de Harry Styles, do One Direction.

Taylor escreveu algumas das canções mais românticas de sua geração – e tenta viver como se estivesse em uma comédia romântica. “Amo filmes que terminam com duas pessoas ficando juntas”, revela. “Ainda mais se tiver chuva e um aeroporto, ou uma das pessoas correndo ou uma confissão de amor.”

Ela também compôs músicas de término de relacionamento que, a seu próprio modo, rivalizam com “Idiot Wind”, de Bob Dylan, em termos de crueldade. “Dear John”, de 2010, uma suposta evisceração de John Mayer, é a mais brutal: “Não acha que 19 é muito jovem para ser manipulada por seus jogos sombrios e doentios?”. Mas “Trouble”, do novo álbum, chega perto: “Você nunca me amou ou a ela ou a ninguém”, ela canta. “Em todos os meus relacionamentos fui boa e justa”, ela explica, defendendo-se. “O que acontece depois que eles se acostumam com isso não é problema meu. Se escrevo sobre eles de um jeito que eles não gostam, é porque me machucaram muito. Contar uma história só funciona se você tem personagens. Não acho que seja maldoso. Acho que maldade é magoar alguém durante um relacionamento.”


Mayer, por sua vez, declarou à Rolling Stone que “Dear John” “realmente me humilhou”, e acusou Taylor Swift de compor usando um artifício barato. Na primeira vez que tento perguntar a ela sobre isso, Taylor tapa os ouvidos com as mãos, dizendo: “Seja gentil e não me conte [o que ele disse]”. No dia seguinte, sou mal-educado o suficiente para transmitir a declaração de Mayer, e ela responde firme. “Não coloquei o nome e o sobrenome dele na música! É ele vestindo a carapuça – quando tinha um álbum para divulgar.” Mas ela não usou o primeiro nome dele? “Não disse nada sobre a identidade da pessoa. ‘Dear John’ é uma expressão e um conceito bem conhecido.” E por que não ligar para esses rapazes e dizer tudo isso diretamente? Ela olha para mim como se eu fosse louco. “E cadê a diversão nisso?”

Além da influência das comédias românticas (Simplesmente Amor é a preferida dela), a intimidante visão de Taylor sobre o amor vem dos avós maternos, que foram casados por 51 anos, e morreram com uma semana de diferença um do outro. “Eles ainda eram loucamente apaixonados aos 80”, conta.

Não existe o verbo “ficar” na Swiftlândia: “Não”, diz, franzindo o nariz. “Cadê o romance? Cadê a mágica? Simplesmente não sou uma garota assim.” Aliás, os hackers nem precisam se incomodar com o celular dela: “Há coisas interessantes nele, como mensagens de texto”, ela diz. “Mas você não vai achar nenhuma foto minha nua.”

Taylor Swift está convencida de que é a mistura exata da personalidade de seus pais – ela pensa como a mãe, mas age como o pai. “Minha mãe está sempre pensando na pior hipótese possível. Meu irmão e eu a chamamos de Inteligência Central Andrea. Se você tem uma dor de cabeça, ela é capaz de lhe dizer 15 coisas que podem ser a causa, sendo que todas terminam no pronto socorro ou em morte. Mas ela sabe dar as melhores festas. Também é cheia de compaixão e gentil e disciplinada e tem a cabeça muito no lugar na hora de dar conselhos.” O pai é o sonhador nato, embora ela recuse a dizer se a letra sobre “a filha cuidadosa de um pai descuidado” é autobiográfica: “Minha mãe pensa nas coisas em termos realistas e meu pai sempre nos termos de quem sonha acordado”.

Seria fácil assistir a Taylor em todas aquelas premiações tipo Grammy e VMAs e concluir que ela é uma enganação – nas palavras dela, uma cheerleader fingindo que ainda faz parte da plateia. Mas se ela parece não ter noção do próprio sucesso, é porque a ideia é essa mesmo. “Só não quero viver desse jeito”, diz. “Não quero me acomodar nunca, porque é aí que você fica defensiva e difícil de lidar. É isso o que pode acontecer se você coloca na cabeça que as pessoas estão analisando cada movimento que você faz. Por isso tento alegremente me manter o mais alheia a isso quanto possível.” Ela ri. “Por favor, não estrague tudo. Eu vivo em um mundinho muito feliz!”