Ao radiografar um universo em desencanto, o Film Noir trouxe urgência e elegância ao cinema
O fundamentais da história do cinema. Nos Estados Unidos, onde foram produzidas as mais célebres obras do gênero, ele ?oresceu na segunda metade dos anos 1930; a fase clássica seguiu até o ?nal dos anos 1950. Mas o Noir não foi exclusivamente um produto hollywoodiano – vários países europeus também o adotaram. Acredita-se que o estilo, inclusive, tenha sido batizado pelo crítico franco-italiano Nino Frank em meados da década de 1940.
Vários elementos são identificáveis em um filme do cinema noir. Nesses longas, encontramos detetives particulares durões que tentam fugir do passado; mulheres fatais ora malvadas, ora com coração de ouro; vigaristas de todas as estirpes sociais; policiais corruptos; e jornalistas fracassados. Os personagens eram falhos de caráter e repletos de ambiguidades morais e desvios psicológicos. Em meio a tantos mistérios aparentemente insolúveis, havia um ar de erotismo velado. Só existia espaço para anti-heróis e os fi nais eram quase sempre infelizes.
Filmes como Relíquia Macabra (1941), Pacto de Sangue (1944), Laura (1944), Farrapo Humano (1945), Gilda (1946), A Dama de Shanghai (1948), O Terceiro Homem (1949), Fúria Sanguinária (1949), Crepúsculo dosDeuses (1950) e No Silêncio da Noite (1950) definiram o gênero e seguem cultuados. Entre os astros que deram cara a essas obras alguns dos mais reconhecidos foram Rita Hayworth, Marlene Dietrich, Barbara Stanwyck, Humphrey Bogart, Edward G. Robinson, Ray Milland,
Orson Welles e James Cagney.
Visualmente, o cinema noir foi formatado graças a várias in?uências externas. O gênero se bene?ciava da fotogra?a em preto e branco. A ambientação cheia de sombras e contrastes.
foi herdada do expressionismo alemão, levado aos Estados Unidos por cineastas como Fritz Lang e Michael Curtiz. O neorrealismo ita- liano emprestou veracidade e características do semidocumentário. O chamado realismo poético do cinema francês, com seu fatalismo e seres amaldiçoados, também foi importante na construção do arco narrativo e da estética comuns a essas obras.
Por vezes o estilo se confunde com outro ciclo seminal do cinema norte-americano, que foi o dos filmes sobre gângsteres, surgidos nos anos 1930 como reflexo da Grande Depressão e da Lei Seca. A literatura pulp, exemplificada pelo trabalho de autores como Raymond Chandler, Dashiell Hammett e W.R. Burnett, forneceu matéria-prima sobre o pessimismo urbano daquele período. Existiam muitas similaridades de ambientação entre o noir e os filmes de gângsteres. Em ambos os estilos, a ação se passa em ambientes fechados e soturnos – casas de apostas, bares de segunda – e tem como foco a criminalidade e a decadên- cia da alma e dos bons costumes.
O auge ficou para trás, mas o mundo de sombras e dúvidas do noir original não morreu. Ele passou por transformações e deu lugar ao que hoje é chamado de neo-noir. Chinatown (1974), Blade Runner, o Caçador de Androides(1982), Veludo Azul (1986), Atração Fatal (1988), Los Angeles: Cidade Proibida (1997) e Drive (2011) são alguns filmes contemporâneos bem são alguns filmes contemporâneos bem conhecidos que se apoiam na estética clássica do noir.
Palavra Final
Livro disseca as características e as obras do gênero cinematográfico
Existem inúmeras fontes de consulta sobre o cinema noir, mas Film Noir 100 All-Time Favorites (Taschen) é um estudo bastante completo sobre o assunto. A obra, sem previsão de lançamento no Brasil, foi editada por Paul Duncan e Jürgen Müller. Nela, os autores e outros estudiosos listam os precursores do gênero, os antigos clássicos que até hoje são 2 celebrados e também os longas do chamado neo-noir. Algumas das imagens históricas que acompanham a publicação estão reproduzidas nesta matéria.