O lado mais conceitual do post-rock dita o álbum de estreia do Labirinto
A parafernália de instrumentos que parecia não caber no estúdio no dia em que a banda Labirinto fez um webcast ao vivo para a TV Trama não estava lá. O andar de cima da Casa Dissenso - misto de loja, selo, estúdio de gravação e pequeno espaço para shows, em São Paulo - está praticamente vazio. Erick Cruxen e Muriel Curi, casal que forma o núcleo do Labirinto, conversam com Bruno Pietoso, antigo membro do grupo, que saiu e retornou para tocar lap steel e sintetizadores na formação atual. Fora o papo tranquilo, ouvem-se poucos sons sob o céu carregado que antecipa mais um dilúvio vespertino na capital. Se houvesse uma trilha sonora para o momento, a música do Labirinto seria ideal. O primeiro álbum do grupo, lançado em 2010, traz seis longas faixas de angústia contida e clímaces estrondosos e inesperados, como os temporais que nunca se sabe onde vão cair. Mais do que o pior castigo religioso, Anatema encerra um outro significado para "maldição" em seu título, segundo Cruxen. "É uma história elíptica, como se fosse o eterno retorno", ele explica. "Tem um começo, mas não tem um fim. Na verdade, o fim volta para o começo. Um começo, talvez reformulado, reconfigurado."
Conceitual? Até o talo e com muito orgulho. Para chegar aí, o Labirinto foi aprimorando seu som em diferentes formações nos quatro EPs, lançados em CD-R - Pseudo-Segurança Compensatória (2005), um split com a banda Ordinária Hit; Cinza EP (2006); Labirinto EP (2007); e Etéreo (2009) - e nas faixas que fizeram para a coletânea Dis (2008).
O background dos fundadores do Labirinto - Cruxen (guitarra) e Muriel (bateria), além de Daniel Fanta (guitarra e piano) e o ex-integrante Joaquim Prado (guitarra, baixo e sintetizadores) - estava no hardcore e no metal. O desvio comum a muitos artistas do estilo foi para o post-rock. "Foi Godspeed You! Black Emperor que mudou a vida", Cruxen declara. "Os caras conseguem ter um lado contestador político-social e as músicas são lindas. Não precisa ser um agressivo feio", ele completa.
Anatema, que também sai em vinil, foi gravado em três estúdios diferentes, em São Paulo. Foi produzido por Cruxen e Muriel e finalizado em Chicago, no lendário estúdio de Steve Albini. "Não tinha ninguém no Brasil que eu conhecia que poderia fazer um trabalho tão legal", Cruxen fala sobre Greg Norman, que já produziu Pelican e Russian Circle (ambas de som instrumental pesado), e mixou o disco.
A ideia do atual sexteto (noneto quando estão no palco) é levar em frente o conceito contido no álbum. "Pretendemos entrar em estúdio novamente no fim do ano", ele diz aludindo a sequelas cinematográficas. "Este disco vai ter continuação."