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Nada Surf lança álbum “filosófico” e se prepara para turnê no Brasil

Segundo o vocalista Matthew Caws, o ainda inédito The Stars are Indifferent to Astronomy é “mais rápido, mais curto e mais alto”; leia entrevista

Pablo Miyazawa Publicado em 07/12/2011, às 12h13 - Atualizado em 09/12/2011, às 13h32

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Nada Surf - Divulgação
Nada Surf - Divulgação

“Em algumas horas teremos o produto finalizado.” Naquela tarde de agosto, Matthew Caws (na foto, o primeiro da esquerda para a direita) comemorava o fim da mixagem do mais novo álbum do trio norte-americano Nada Surf. “Vai se chamar The Stars are Indifferent to Astronomy”, o vocalista/guitarrista conta, animado, completando que era a primeira vez que mencionava o nome do álbum para a imprensa.

Surgido em meados dos anos 90, o Nada Surf – complementado pelo baixista Daniel Lorca (segundo da esq. para a dir.) e o baterista Ira Elliot (à direita) – experimentou o gosto fugaz do sucesso com um hit certeiro na MTV, “Popular”, em 1996. The Stars are Indifferent to Astronomy, o sétimo da história do grupo, previsto para o final de janeiro, deve ser “mais rápido, mais curto e mais alto” do que os trabalhos anteriores e será sobre outras emoções além do amor”, nas palavras de Caws, 44 anos. Outra novidade do disco – e da turnê que começará em 2012 - é a guitarra solo de Doug Gillard, ex-membro do Guided by Voices. “Ele havia tocado em nosso disco de covers (If I Had a Hi-Fi, de 2008) e foi ótimo. Dessa vez eu não quis que ele ficasse de fora”, comemora Caws.

Mesmo antes do lançamento de The Stars..., fãs brasileiros já se movimentam para trazer o Nada Surf ao país através do esquema de crowd funding, organizado pelo site MusicMob . “Tive momentos ótimos na turnê de 2004 e me lembro de dizer aos fãs que voltaríamos logo”, diz o vocalista. “Não voltamos, e ainda sinto mal com isso. Quero cumprir essa promessa.” Leia a seguir a entrevista completa com Matthew Caws.

Você já consegue apontar qual é a direção do próximo disco?

Bem, musicalmente, é um pouco mais rápido e mais alto que os dois últimos discos. É isso: mais curto, mais rápido, mais alto. Eu acho que sempre percebemos a tendência de sermos uma banda mais pesada ao vivo do que em estúdio. Às vezes tocamos versões mais rápidas das músicas nos shows, e dessa vez estamos tentando que essa diferença não seja tão grande assim. A ideia é fazer um disco e tentar reproduzir nele a energia de show ao vivo. Me desculpe, sei que esse é o tipo de coisa que um milhão de pessoas repete [risos]. Os clichês existem por alguma razão, certo? Então, nos esforçamos para que a sonoridade não mudasse tanto dos ensaios para [as gravações] no estúdio. Porque já aconteceu de eu tocar uma música de um jeito no ensaio, e na hora de gravar, pensar: “Tenho que tomar cuidado, vamos levar com mais calma”. E dessa vez, fiz questão de manter a mesma energia.

Como fazer para manter essa energia? Vocês gravaram ao vivo, todos juntos?

Sim, esse é o jeito que tentamos fazer na maioria das vezes. Tocamos juntos ao vivo e daí eu cantei por cima, e adicionamos depois umas guitarras, teclados e tal. Mas cada canção é basicamente nós três tocando juntos.

Seria uma maneira de recapturar o espírito mais solto dos primeiros discos do Nada Surf?

Não estávamos exatamente tentando recuperar alguma coisa. Se acabar dando essa sensação, tudo bem. É só algo que precisávamos tirar da música e trazer para a gente – algumas sensações novas. É até engraçado. Eu comprei uma guitarra há um tempo, e ela tem um formato diferente e outro peso se comparada a outras guitarras que tive. Toquei em um show com ela recentemente e senti que as músicas soavam de uma maneira nova, apenas pelo fato de o objeto que eu estava segurando me passar uma sensação diferente. De vez em quando, naquelas turnês muito longas, fizemos umas coisas só para ter a sensação de as coisas estarem diferentes. Por exemplo, começamos a fazer uns set lists bem esquisitos. Uma vez, em Nante, na França – que por sinal é o berço do Realismo... aliás, foi um belo acidente o fato de termos escolhido essa noite para fazer isso, eu estava no palco e falei: “Vocês querem ouvir o repertório no sentido normal, ou ao contrário?” E o legal é que todo mundo gritou: “Ao contrário!”. Nós tocamos primeiro as duas músicas do bis e saímos do palco [risos]. Aí, voltamos e tocamos 16 músicas na sequência. Foi tão legal, porque cada música nos soou como nova. Simplesmente porque tocamos o repertório do final para o começo, o que já é bem esquisito... bem, você entendeu o meu ponto.

Baixe a música “When I Was Young”, do novo disco do Nada Surf.

Acompanhando os discos do Nada Surf, é possível perceber que as músicas, assim como os temas das letras, se tornaram mais amplos para interpretações. Como você acha que a banda evoluiu de um disco para o outro?

Uau, eu adoraria ter uma resposta pronta para isso... Eu acho que... [pensa]. Eu vou divagar aqui para ver se chego a algum lugar. Acho que o primeiro disco é sobre entender os relacionamentos. E nos discos seguintes, é sobre compreender o amor, o que é uma coisa bem diferente. O “tentar entender como os relacionamentos funcionam” foi substituído por “tentar entender como a outra pessoa funciona”, ou “como eu me comporto emocionalmente”. Mas esse disco novo não tem muitas canções de amor. Ele é mais sobre o mundo e... bem, eu sou péssimo em responder sobre do que se trata o disco. Eu tive momentos na vida em que estava frustrado e ficava olhando para dentro de mim. E continuo sempre a olhar para dentro o tempo todo, mas às vezes eu me forço a olhar para fora também. Porque você pode ficar louco se apenas olhar para si mesmo, sabe? Mas, voltando: esse disco diz respeito a outras emoções além do amor. Todas as músicas, em geral, apontam que eu gostaria de ter um melhor controle sobre eu mesmo. Mais disciplina mental.

Dá para dizer que a maioria de suas letras fala sobre experiências pessoais? Ou você consegue escrever sob o ponto de vista de outras pessoas? Quando escreve, a primeira coisa que vem à cabeça é algo que você mesmo faria ou diria?

Sim, geralmente, é o meu ponto de vista. Um ponto de vista abstrato, de acordo com o tipo de ser humano que eu me sinto - mesmo que não seja sobre a minha vida especificamente. Mas me sinto decepcionado em relação a isso. Eu gostaria de às vezes escrever sobre outra pessoa, mas não consigo. Tem essa música do disco Let Go, chamada “Fruit Fly”. E eu estava tão empolgado, porque pelo menos no primeiro minuto, a música é sobre um inseto [risos], não sobre mim. Mas aí, é claro: quando entra a bateria, eu começo a me sentir como a tal mosca, e a música se torna sobre mim, mas como [se eu fosse] uma mosca.

De certa forma, eu acabo escrevendo algo que pode ser definido como “filosofia barata”. Meu pai é um filósofo, e o título do disco novo é algo que ele disse uma vez. Eu não me considero um filósofo, mas tenho pensado nessas coisas mais constantemente, querendo compreender mais como funcionamos. Tem um livro que sempre leio e reli durante o processo de gravação: Meditações, de Marco Aurélio. É maravilhoso. É algo escrito há dois mil anos que é um melhor livro de autoajuda do que tudo que existe hoje no gênero nas livrarias.

Você foi jornalista, editava a revista especializada Guitar World e largou o trabalho quando o Nada Surf começou a fazer sucesso, em 1996. Você chegou a escrever um editorial se despedindo dos leitores.

Eu havia me esquecido que fiz isso. É bom ouvir sobre isso, porque às vezes até me esqueço de que passei por essa transição. Tudo aconteceu tão rápido e foi tão inesperado, foi quase como se não tivesse acontecido comigo. E escutar você falando me faz lembrar que realmente fiz essa mudança de “querer ser um músico” para realmente me tornar um. Porque me lembro quando o editor de outra revista de música acabou passando pela mesma coisa – ele saiu para tocar na banda da PJ Harvey, o John Parish. Me lembro que na época li sobre isso e pensei: “Uau!”.

Você diria que seu trabalho como jornalista o ajudou a compreender melhor seu papel de artista?

Não sei dizer se ajudou. A verdade é que eu não acho que fui um bom jornalista. Nunca me achei muito bom nisso, e o fato é que admiro tantos jornalistas. Acho que, mais do que qualquer coisa, eu envergonhei entrevistados. Se eu não achava que a entrevista ia bem, eu conseguia me imaginar transcrevendo a entrevista, pensando: “Argh! Não consegui nada!” Sempre que a entrevista ia mal, eu assumia que era por culpa minha, nunca do artista. “Ah, eu não preparei boas perguntas”. Eu me lembro de entrevistar os Beastie Boys. Eu estava tão cansado - e olha que eu adoro a banda - e me lembro de pensar: “Eu não tenho pergunta alguma. E eles estão aborrecidos. Estou estragando tudo!” [risos]

Há uns anos vocês deram uma pausa com a banda e arrumaram outros empregos – você até trabalhou em uma loja de discos. Chegou a pensar em parar com a banda, ou fazer música com outras pessoas?

Aquilo foi depois que fomos dispensados pela [gravadora] Elektra após o disco Proximity Effect (1998). Ele acabou nunca sendo lançado nos Estados Unidos, então estávamos meio que esperando para recuperar os direitos, o que demorou muito tempo. Acho que parte da razão pela qual não acabamos com a banda foi preguiça; se a gente parasse, eu não acho que conseguiria justificativa para começar outra banda do zero. Se acontecesse, nós seriamos obrigados a ter carreiras profissionais de verdade [risos]. Eu não sabia se era isso o que eu queria fazer da vida, então fiquei trabalhando na loja de discos e esperando. Às vezes eu chegava até a esquecer que havia feito parte da banda. A cada dois meses surgia alguém na loja e começava a conversar sobre música, e em algum momento eu citava que havia tocado no Nada Surf. A pessoa dizia: “Ah, é? Eu gosto da sua banda!” E eu pensava: “É mesmo... Talvez eu devesse voltar” [risos].

Eu sou na verdade muito grato aos fãs europeus. Depois que o Proximity Effect foi lançado na Europa, eu continuava a receber mensagens pela internet, e-mails... e isso fez eu jamais me esquecer que havia algo que eu ainda tinha de fazer. Na verdade, essa foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido conosco, porque tivemos que começar de novo. Tivemos o luxo de fazer o terceiro disco como se fosse o primeiro, ou seja, sem nenhuma pressa. Porque ninguém se importava. Ou melhor, estou me contradizendo: as pessoas estavam esperando por nossa volta, mas não havia nenhuma gravadora nos pressionando. Foi como se pudéssemos reordenar as cartas musicalmente, por assim dizer. E já que não havia pressão alguma, a gente podia pensar: “Bem, que tipo de música queremos fazer agora?”. Tínhamos orgulho dos dois primeiros discos, mas era como se pudéssemos fazer tudo por diversão de novo. Às vezes é difícil manter o espírito de liberdade quando aquilo é o seu emprego – mesmo que seja um trabalho o qual me sinto muito sortudo de ter. E sinto que preciso sempre valorizar muito o que temos hoje, porque já tivemos antes e perdemos. É um privilégio. Até hoje me surpreendo quando saímos em turnê. “Meu deus, é de verdade! É isso o que eu faço da vida!”

Em 1996, a música “Popular” tocava muito na MTV e o Nada Surf se tornou conhecido. Você teve algum tipo de preocupação sobre não querer se tornar uma “banda de um sucesso só”? Chegou a pensar “como vou superar isso?”

Bem, nós colocamos bastante pressão sobre nós mesmos quando estávamos escrevendo o Proximity Effect. Na época, eu meio que conclui que seriamos mesmo uma banda de um só sucesso. Porque eu não achava que seria possível ter uma música tão grande como “Popular” novamente. Ela é tão diferente das outras, e tem um apelo engraçado, aconteceu de forma acidental. Era mais uma música performática. Quando começamos a tocá-la vivo, em shows em bares para 20 amigos, eu nem cantava uma letra. Eu tinha um livro de onde tirei os versos, e eu chamava um amigo qualquer para subir ao palco para ler para mim. Era tipo uma pequena experiência. Quando o primeiro disco saiu [High/Low, 1996], eu tinha 27, 28 anos. Como as coisas meio que aconteceram tarde para nós – e repito, a gente nunca deixou de dar valor às coisas –, então eu me sentia bem satisfeito. Se fosse para ser uma banda de um sucesso só, para mim estava ótimo [risos].

O que você lembra da passagem da banda pelo Brasil em 2004?

Foi um show em São Paulo, um em Curitiba, um em Londrina, dois no Rio e um em Taubaté. Tenho certeza de que iremos voltar, vamos voltar. Tive momentos ótimos no Brasil e me lembro bem de dizer a alguns fãs que nós voltaríamos logo. E não voltamos ainda, e eu ainda sinto mal com isso e quero cumprir essa promessa. Não vejo a hora de retornar.