Edy Star, colaborador de Raul Seixas, celebra 80 anos com disco novo e relembra o passado notável
Alguns artistas nascem para atingir milhões de pessoas; já outros não alcançam as grandes massas, mas tornam-se figuras cult. Nesta categoria está incluído o cantor, ator, performer e artista plástico Edy Star. Na longa carreira do artista baiano, estão duas verdadeiras pérolas da música brasileira: o álbum coletivo Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, que ele gravou em 1971 com Raul Seixas, Miriam Batucada e Sergio Sampaio, e Sweet Edy, trabalho solo dele lançado em 1973. Esses LPs são constantemente redescobertos pelas novas gerações e ajudaram a cimentar o status de cult da obra de Edy.
Edy Star, cujo nome verdadeiro é Edivaldo Souza, completou 80 anos no dia 10 de janeiro. Uma das formas como marcou a data foi com o lançamento do CD Cabaré Star (Saravá Discos). Este é o primeiro trabalho solo dele desde o longínquo Sweet Edy. Ele explica por que houve um intervalo tão grande entre os lançamentos. “Eu nunca mais quis fazer outro disco, apesar dos vários convites”, explica. “Mas, quando vi que os meus 80 anos estavam se aproximando, pensei: ‘por que não’? Edy conta que vários produtores se aproximaram dele, mas nada rolou. Foi só com Zeca Baleiro que tudo aconteceu: “O Zeca veio com seu conhecimento e com aquela incrível banda que ele tem. Ele entendeu o conceito que eu queria, que era o de fazer um cabaré, um álbum que fosse ao mesmo tempo uma espécie de show”.
Para este cabaré, Edy conseguiu juntar convidados que correspondessem ao espírito do trabalho. São todos velhos amigos dele, como Caetano Veloso, Ney Matogrosso e Ângela Maria. Para representar a nova geração da música brasileira, o cantor chamou Felipe Catto, que aparece em “Perdi o Medo”. “Gosto da postura dele e também do jeito como ele coloca a voz.”
Apesar de Edy ter seu nome ligado a Raul Seixas devido ao cultuado Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, ele já conhecia o Maluco Beleza muito antes dessa empreitada. Raul saiu da Bahia e havia se mudado para o Rio de Janeiro, onde trabalhava como produtor da gravadora CBS. Ele chamou Edy e produziu um compacto para ele. Raul ficou entusiasmado com a colaboração conjunta e veio com a proposta do LP. “O Raul queria um disco bem experimental, uma mistura de Frank Zappa com o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, usando vinhetas e com bom humor. Eu, o Raul, a Miriam Batucada e o Sergio Sampaio estamos caracterizados na capa como as tribos urbanas da época”.
Já com Sweet Edy, ele tornou-se o símbolo máximo do glam rock feito no Brasil. Na época, o Secos & Molhados fazia sucesso com o rosto pintado e visual exótico, mas o som deles era uma MPB folk. Edy foi quem realmente pegou o espírito do glitter, fazendo um rock bem marcado e com letras transgressoras. “Eu me apresentava na noite carioca e o João Araújo, diretor da gravadora Som Livre, viu a minha performance e me convenceu a gravar o disco.”
Outros projetos virão este ano. Um deles é um documentário sobre a vida do artista. “O filme está em fase de montagem”, conta Edy. E ele pretende fazer mais um show relativo ao lançamento de Cabaré Star, desta vez contando com a presença de Cida Moreira, Ângela Maria e Johnny Hooker. Hoje, com 8 décadas de vida, ele pretende aproveitar cada minuto que tem: “Já sobrevivi a um câncer e a duas tentativas de suicídio. Então, o tempo para mim é algo muito precioso”.