Alexandre Assis Brasil, o Guri, já passou noites em claro, com a guitarra deitada ao lado dele na cama de casal. Conta que só conseguia adormecer quando o dia já havia amanhecido e a luz do sol entrava implacável pelas frestas da veneziana. “Ficava me remexendo na cama, de olhos fechados. Quando percebia que não conseguiria dormir, pegava a guitarra e tocava”, diz o músico de 28 anos. Os frutos desse período insone estão no primeiro disco solo dele, Quando Calou-Se a Multidão, no qual mantém o apelido que ganhou quando ingressou na banda gaúcha Pública, como o guitarrista caçula da turma.
Trata-se de um trabalho movido a desamores – não apenas uma paixão perdida mas também o próprio desapego ao instrumento que o tirou de Porto Alegre e o trouxe a São Paulo. Há dois anos, Guri começou um processo de se “desapaixonar” pela guitarra. O Pública parou com os shows e abriu uma nova janela de oportunidade para o músico, que se viu requisitado para tocar com nomes como Bárbara Eugênia, Junio Barreto e Otto. “Nunca quis ser um guitarrista conceituado”, diz Guri. A responsabilidade de fazê-lo voltar a se apegar à guitarra foi de Fernando Catatau, do Cidadão Instigado. “Ele tem umas 20 guitarras em casa e cuida de cada uma com muito carinho”, conta.
Quando Calou-Se a Multidão seria um disco liderado pelo violão, “mas não aguentei e comecei a colocar as guitarras”, revela Guri. A entristecida “Diz”, segunda do álbum, reverbera ecos das linhas melódicas de David Gilmour, do Pink Floyd, primeira banda de rock ouvida por ele, quando ainda morava em Santana do Livramento (RS), quase na fronteira com o Uruguai. A temática das canções segue por amores tortuosos, saudades e derrotas. “Eu faço música para me aliviar, entende?”, diz. “Depois que terminei este disco, consegui me libertar de alguma coisa que ainda me prendia ao passado.” E Guri, enfim, conseguiu dormir em paz.