Acompanhamos, de dentro da Netflix, o lançamento da série Demolidor
O relógio marcou 0h, na Califórnia. Isso quer dizer 4h no Brasil (horário de Brasília) e, no último dia 10 de abril, também significou que havia chegado o momento da estreia de Demolidor, primeira série feita em parceria pela Marvel e a Netflix. Aliás, a primeira de cinco produções que já estão firmadas em contrato, de forma que o sucesso do programa é mais essencial que o de costume.
“Quando a Marvel apresentou a proposta, queria fazer algo diferente do que fez até hoje. Queria contar histórias serializadas, mas que fossem muito focadas em cada personagem. E só a Netflix, com essa proposta de lançar temporadas inteiras [de uma vez], poderia aceitar a proposta deles de pensar em cinco séries paralelamente”, diz a executiva de programação original, Allie Goss.
Na sede da empresa, em Los Gatos, perto de São Francisco, as mesas de trabalho estão vazias, mas a “sala de guerra”, centro operacional de onde é acionada a manivela que libera o streaming, está apinhada de gente. Engenheiros e linguistas, acompanhados de perto por cinegrafistas e pela imprensa internacional, estão de plantão para garantir que o lançamento mundial da atração ocorra sem qualquer bug nos mais de 40 países em que o serviço está presente.
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Uma hora antes, mais ou menos 15 pessoas já estão a postos com seus notebooks, cercadas por televisões que mostram interfaces em diferentes idiomas, para que seja checado, assim que o streaming for liberado, se nenhuma palavra entrou errada. Cada pessoa ali está designada para uma função muito específica de verificação da operação (aparelhos móveis, desktops, smart TVs, etc.).
Um minuto após a meia-noite todos já saberão se deu tudo certo e os garçons poderão começar a distribuir champanhe para o brinde que se tornou tradição no QG, quando acontecem as estreias de maior porte da empresa. Além disso, conseguem desde o primeiro momento monitorar em tempo real os acessos ao programa, quantos usuários assistiram tudo de uma vez, quantos viram apenas o primeiro episódio – enfim, a empresa já vai armazenando os dados de que precisa para continuar lançando um hit autoral atrás do outro.
Ao fundo dessa sala de guerra, um telão mostra o fluxo de acesso ao programa de um lado e, do outro, os tuítes que mencionam o nome da série e a palavra Netflix. Diferentemente do que o termo militar “sala de guerra” pode indicar, o clima é tranquilo. Os engenheiros garantem que, exceto pela primeira temporada de House of Cards, a equipe que faz o “encodamento” da série (ou seja, que programa os episódios com suas respectivas legendas e para os mais diferentes perfis de velocidade de internet), sempre tem tudo pronto pelo menos dez dias antes da data de estreia. “Acho que esse conceito de antecedência deve ser alienígena para jornalistas”, brinca um deles.
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Entre 23h e 0h, o telão exibindo os tuítes mostra 33 menções por minuto a “Daredevil” (nome original do programa), segundo a medição da própria empresa. Logo depois disso, a quantidade de menções aumenta tão rapidamente que fica impossível ler qualquer coisa. “Quando começamos, a marca não era tão adorada quanto é hoje”, diz o diretor de mídias sociais, Eric Pallotta. Ele emenda, rindo: “Usando ações simpáticas nas redes, como gravar vídeos com nossos elencos, conseguimos diminuir bastante o número de pessoas que nos xingam online”.
Para quem vê de fora, a reação nas redes é essencial por ser a única medição que se tem para saber a repercussão de um programa lançado pela empresa – a Netflix nunca revela a audiência dos vídeos que disponibiliza (nem mesmo os de conteúdo não original, adquiridos através de licenças específicas para cada território). “Números só interessam a anunciantes e jornalistas. E não temos anunciantes. As pessoas não assistem ou deixam de assistir pelos números”, justifica Jonathan Friedland, chefe de comunicação da Netflix.