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Nostalgia que Vende

Aplicativos para celular ajudam a aumentar a popularidade da clássica máquina fotográfica Lomo

Tiago Agostini Publicado em 18/10/2011, às 14h36 - Atualizado em 25/11/2011, às 12h22

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Nostalgia que Vende - DIVULGAÇÃO
Nostalgia que Vende - DIVULGAÇÃO

“Tudo que é retrô, vintage, é legal porque te remete a alguma coisa que você já viveu no passado”, acredita o fotógrafo Ike Levy, que justifica assim o sucesso recente de câmeras analógicas no mundo digital. Fazer foto com “defeito” se tornou cool e descolado – basta perceber a quantidade de imagens do aplicativo Instagr.am (para iPhone), que simula fotos analógicas, postadas todos os dias nas redes sociais. Outro termômetro é o culto às Lomos, câmeras de plástico de origem russa que possuem até uma comunidade online dedicada só a elas. Exemplificando esse sucesso, a segunda loja oficial da Lomography no Brasil será aberta até o final do ano, em São Paulo. A primeira, no Rio de Janeiro, funciona há dois anos. As câmeras, no entanto, são objeto de desejo no país há pelo menos uma década. “Buscando por câmeras analógicas na internet me deparei com a Lomo, por volta de 2001”, recorda o fotógrafo Julio França. Em um fórum norte-americano, ele descobriu outros brasileiros apaixonados pela grife e, em pouco tempo, criaram a LomoBr, lista de discussão ativa até hoje e que serve como ponto de encontro e fórum para troca de equipamentos.

A Lomo surgiu em 1982, em São Petersburgo, na Rússia, inspirada em um modelo japonês. A princípio existia um único modelo, o LC-A, até que um grupo de amigos austríacos descobriu a câmera nos anos 90 e, fascinados por suas imagens com cores vívidas e as bordas pretas, foram atrás da fábrica. Tempos depois, foi fundada a Lomography, empresa que hoje tem alcance mundial. “A ideia é você esquecer tudo que sabe sobre fotografia e começar a descobrir coisas novas, quebrar um padrão estabelecido”, comenta França, sobre a liberdade do processo com esse tipo de máquina. Como a Lomo não tem flash, seu obturador fica aberto até capturar a imagem. As diferentes incidências de luz aliadas às lentes feitas de plástico fazem com que o resultado final seja impossível de prever. Apesar dessa imprevisibilidade, há fotógrafos que defendem que o uso da Lomo acaba aperfeiçoando o olhar profissional. “Com a Lomo você pensa mais, até porque há o gasto com filme, revelação...”, diz Pedro Cupertino, fotógrafo e ex-baterista do Fresno. “Se você tirar 80 fotos, uma no mínimo vai ficar boa. Quando saio para fotografar penso muito em cada clique, para que sejam poucos, mas bons”, completa.

Ike Levy é um dos profissionais que leva a lomografia a sério: comprou sua primeira câmera do tipo há cinco anos e desde então aumentou a coleção para 11 modelos. Sempre com três delas na mochila, Levy não se restringe a fotografar o cotidiano. “Em todo trabalho que faço, sugiro alguma foto com Lomo”, diz. A decoração do restaurante Paris 6, em São Paulo, é um bom exemplo: todas as fotos da capital francesa que adornam o ambiente foram feitas por Levy, utilizando câmeras Lomo.

Por trás do sucesso, porém, há um grande projeto de marketing da Lomography. “É impressionante, eles conseguiram transformar um produto ruim em algo bacana, com todos aqueles efeitos”, comenta o fotógrafo Silvio Tanaka, que utiliza Lomos desde 2005. A possibilidade de cada lomógrafo poder criar um perfil no site da Lomography para compartilhar seu trabalho também é um atrativo. Tanaka ressalta ainda o caráter democrático da Lomo: “Você não precisa ser um artista para fazer imagens bonitas, os efeitos trabalham a seu favor”.

É peculiar, no entanto, que a popularização das imagens artísticas no estilo das Lomos tenha acontecido justamente no meio digital, com softwares como o Instagr.am. “O aplicativo permite registrar o cotidiano com uma praticidade enorme, além de você compartilhar instantaneamente com o mundo todo. É fascinante”, Levy explica. França também comemora a popularização, mas vê com ressalva algumas tendências reforçadas pelo uso do aplicativo. “De repente as pessoas começam a tirar foto do próprio pé, umas coisas que não têm nada a ver”, diz. No final, independentemente do equipamento, o que vale é o olhar de quem está atrás da lente.