Pixinguinha
© Pixinguinha/João de Barro
A mais famosa melodia da música popular brasileira continua eterna, apesar dos pesares: mesmo tendo sido escrita há mais de 90 anos, mesmo distorcida por centenas de releituras e regravações (algumas honradas, outras nem tanto), mesmo desmitificada ao embalar as mais diversas campanhas publicitárias, de cafezinho a sobremesa para crianças. Alfredo da Rocha Vianna Jr. ainda não era o Pixinguinha quando começou a ser chamado de prodígio, encantando com sua musicalidade incomum e facilidade para instrumentos e improvisos. Se até hoje ele é considerado o grande gênio musical brasileiro, foi porque garantiu seu espaço desde cedo. Aos 13, já flautista (começou com o cavaquinho), gravou sua primeira participação em um disco. Criativo, escreveu a melodia de "Carinhoso" quando tinha menos de 18 anos, entre 1916 e 1917 (a data não é precisa nem entre historiadores). Deixou a canção escondida por alguns anos, melindrado com as alegações de que seria muito americanizada (ou "jazzificada") e estruturada de maneira diferente da do choro tradicional. A primeira gravação, instrumental, foi acontecer apenas em 1928. Quase dez anos depois, João de Barro, pseudônimo do onipresente compositor Braguinha, escreveu a letra que a eternizaria de uma vez por todas. A interpretação clássica de Orlando Silva, de 1937, é de arrepiar até os desavisados. Mas os méritos da canção sempre vão para Pixinguinha, instrumentista virtuoso, maestro, arranjador e verdadeiro fomentador do que era então considerada a verdadeira música popular brasileira. De Marisa Monte a Elizeth Cardoso, de Paulinho da Viola a Francisco Alves, de Elis Regina a Marcelo Camelo, dezenas fizeram suas interpretações apaixonadas de "Carinhoso". Há uma frase atribuída a Vinicius de Moraes que diz que se "não fosse Vinicius, queria ser Pixinguinha". Aparentemente, não era só ele que pensava assim.