João Gilberto
© Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes
O samba "chega de saudade" é considerado o marco zero da bossa nova. Apesar do nascimento do gênero ser contabilizado em 1958, com a gravação do violonista e cantor baiano João Gilberto na Odeon, na verdade a gênese é do ano anterior. Em 1957, Tom Jobim produziu para o selo Festa o disco Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, que trazia apenas parcerias dele com o poeta Vinicius de Moraes. Entre os temas estava "Chega de Saudade". No arranjo, Jobim já dava as linhas mestras do que viria a ser a "batida da bossa" e em meio ao grandioso arranjo de orquestra já ponteava o violão de João Gilberto. Mesmo com "Chega de Saudade" figurando em Canção do Amor Demais, a bossa nova estabeleceu seus contornos defi nitivos a partir do disco de João Gilberto. Os sambas-canção lacrimosos davam lugar a versos que falavam de "abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim". As vozes poderosas de Vicente Celestino ou Silvio Caldas encontravam concorrência nos quase sussurros de João. E havia a incontestavelmente revolucionária batida do violão do baiano, que mesclava marcação rítmica inovadora e preceitos jazzísticos. Alguns pesquisadores alegam que essa batida teria sido inspirada na do norte-americano Barney Kessel ao acompanhar a cantora Julie London na gravação de "Cry Me a River" em 1956. Há similaridades, é fato, mas João Gilberto imprimiu suingue próprio ao tema. Entre os muitos intérpretes que gravaram "Chega de Saudade" estão o próprio Tom Jobim, Rosa Passos, Stan Getz, Toninho Horta, Joe Henderson e César Camargo Mariano.