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Nova Viagem a Pepperland

As várias edições comemorativas do álbum estão recheadas de belas surpresas

Mikal Gilmore Publicado em 21/06/2017, às 18h25 - Atualizado às 18h35

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<B>Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band</B>
Ilustração: Goni Montes - Ilustração: Goni Montes
<B>Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band</B> Ilustração: Goni Montes - Ilustração: Goni Montes

Em 2006, os Beatles convenceram o produtor George Martin a sair da aposentadoria para remixar e rearranjar várias canções que seriam usadas no espetáculo Love, do Cirque du Soleil, encenado em Las Vegas. Para ajudá-lo, Martin trouxe o filho Giles, que criou um projeto revelador que serviu para nos lembrar do impecável trabalho do pai nos anos 1960. Giles acaba de conduzir outro projeto histórico: a edição expandida de 50 anos de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a indiscutível obra-prima dos Beatles. Ele não apenas honra o legado do George, morto em 2016, aos 90 anos, mas também constrói algo totalmente novo. O relançamento chega em vários formatos: CD simples, disco duplo, box com CDs e dois DVDs (contendo vídeos e uma mixagem 5.1 do álbum original) e vinil duplo. Todas as novas edições incluem versões alternativas das faixas clássicas.

Essa ambição revisionista poderia parecer meio arriscada. Afinal, Sgt. Pepper’s é considerado o momento supremo do rock e um trabalho essencial para entender a tal mística dos anos 1960 – um exemplo de como aquela geração forjou novas ideias. Mas este novo Sgt. Pepper’s revela maravilhas, particularmente na remixagem em estéreo. Em 1967, a versão mono era o foco e George Martin se esforçou muito para criá-la. Para Giles, a mixagem estéreo era apenas uma exigência do mercado. Mesmo assim, foi com ela que as pessoas mais se familiarizaram ao longo dos anos. Giles queria nesta nova versão um efeito “mono 3D” – e ele conseguiu. O álbum agora salta dos alto-falantes: o som é afiado, vivo e ressonante.

A batida de Ringo Starr, que é a força propulsora de “Lucy in the Sky with Diamonds”, ganha gravidade e torna a faixa ainda mais alucinógena; “Getting Better” tem realçada uma agressividade que trai a mensagem do título; já “A Day in the Life” adquire uma profundidade assustadora. A canção sempre se destacou no espectro de Sgt. Pepper’s como uma viagem fantasmagórica. É uma visão de sonhos, morte, caos e revelação, e nos mantém em alerta até o fim, mesmo depois do oceânico acorde de piano. Agora, as fronteiras da canção vão ao infinito.

Os discos extras têm registros iniciais das faixas, quando elas ainda estavam sendo desenvolvidas pelos músicos. É fascinante ouvir as origens espartanas de “Strawberry Fields Forever” e também de “A Day in the Life”. Algumas canções, sem dúvida, ficaram melhores depois que a banda acrescentou efeitos de estúdio.

O take 4 de “Being for the Benefit of Mr. Kite!” é assustador, mas o take 7 se mostra mais caloroso, realçando o baixo pulsante de McCartney e o ataque de Starr aos pratos da bateria. Ainda assim, versões alternativas de “With a Little Help from My Friends”, “Lovely Rita” e outras demonstram que, antes de os overdubs e outros efeitos serem aplicados às faixas, havia uma banda coesa e focada. Sgt. Pepper’s representa a união e a imaginação do quarteto.

Nós perdemos muitas coisas desde o verão de 1967, incluindo qualquer chance de ingenuidade. Mas agora, graças a Giles Martin, podemos ouvir o apogeu dos Beatles da maneira como foi concebido para ser ouvido. Isso não vai consertar os problemas do mundo, no entanto, 50 anos depois, Sgt. Pepper’s continua a nos intrigar, e isso é um generoso milagre.