Precursor de inovações na teledramaturgia, Jayme Monjardim vislumbra o futuro da ficção autoral na TV
O diretor Jayme Monjardim foi o protagonista de um dos mais marcantes respiros estéticos promovidos nas telenovelas com o clássico Pantanal, transmitido pela extinta Rede Manchete há mais de 20 anos. Desde então, o enorme apego com uma identidade de direção fez com que ele protagonizasse desavenças e rupturas com diversos dos autores dos folhetins que dirigiu – publicamente, Benedito Ruy Barbosa, Lauro César Muniz e Glória Perez, cuja novela América ele deixou no meio da trama. Agora, à frente de Flor do Caribe, nova novela das 18h da Rede Globo, Monjardim, 56 anos, se vê livre para surfar na onda da modernização da linguagem visual e narrativa promovida recentemente pela emissora – vide em produtos como Cordel Encantado, A Vida da Gente (também dirigido por Monjardim) e Avenida Brasil. “A televisão está chegando mais e mais perto da imagem do cinema”, afirma.
Flor do Caribe parece ser uma novela mais leve, mas seu estilo costuma ser dramático. Como funciona essa combinação?
É uma novela leve sim, mas com muitos ingredientes dramáticos. Por exemplo, a traição do melhor amigo, segredos do passado, um pai que leva a culpa para que o filho tenha oportunidades. É importante mesclar temas com densidades diferentes para dar ritmo e encorpar uma novela. Acho que uma das características principais é a sutileza. É delicada em relação à forma. Tudo é bonito, romântico, colorido, suave. Ao mesmo tempo, tem uma história que é forte, esse triângulo amoroso que o [autor] Walther Negrão propôs.
As novelas recentes têm apresentado novidades estéticas e de direção. Há mesmo um momento de experimentação na televisão?
É um caminho natural da evolução da qualidade do material que captamos. É importante manter uma busca constante pela excelência, o diferencial. Estamos usando uma tecnologia moderna, que consegue retratar o mais fielmente a luz que queremos dar para a novela. Para isso, usamos uma série de novas câmeras. Como nas gravações na base aérea de Natal, em que filmamos o voo dos caças em 360 graus para transportar os telespectadores para dentro dos aviões. E o público perceberá essa mudança na imagem na tela.
Avenida Brasil se tornou um ícone da nova era das novelas. Acostumou-se a atribuir a graça ao texto de João Emanuel Carneiro, mas a direção e a fotografia também eram bastante inovadoras. Com mais espaço para trabalhos autorais, como fica a divisão entre autor e diretor?
Essa inovação começou antes de Avenida Brasil, em produções como Cordel Encantado e A Vida da Gente. O trabalho do autor e do diretor não muda, a colaboração continua sendo importante e necessária. Não adianta ele escrever a cena de um jeito e a direção dar um tom diferente do que ele pensou. É uma troca intensa durante toda uma novela, como o que acontece entre o Negrão e eu. É uma parceria antiga.
As novelas ficarão, como no cinema, mais conhecidas pela direção do que pelos autores?
Estamos caminhando para um resultado mais autoral e “colaboracional” entre as duas partes. Já se entende que um não consegue realizar um bom trabalho sem o outro. E o telespectador já começa a reconhecer as assinaturas dos diretores, a luz, o ritmo, o tipo de trama.
Você teve mais casos de atritos com autores do que a maioria dos diretores de novela. Por quê?
Não acho que tenham sido tantos assim, mas talvez o motivo seja meu envolvimento próximo nas produções. Faço questão de acompanhar a escalação do elenco e a implantação da trama. Sigo conversando e trocando com o autor, da sinopse ao capítulo final.