Em autobiografia, Eduardo Araújo recorda causos e parcerias de cinco décadas de carreira
Eduardo Araújo tem mais importância na história da música brasileira do que comumente se imagina. O cantor se consagrou nos anos 1960, na época da Jovem Guarda, sendo lembrado pelos hits que teve nesse período, como “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo”, “Goiabão” e “O Bom”, apelido que carrega até hoje. Mas Araújo foi além da Jovem Guarda, investindo no rock e em parcerias, sendo notável a que teve com Tim Maia. Hoje, há muita gente ligada nas misturas sonoras dele – jovens entusiastas do vinil pagam um bom preço nos LPs que Araújo lançou décadas atrás.
O cantor, que em julho completará 75 anos, conta sua história na autobiografia Pelos Caminhos do Rock (Editora Record), com lançamento marcado para terça, 25, na Livraria da Vila Fradique Coutinho, em São Paulo, com um pocket show às 19h. No livro, ele recorda a trajetória de músico desde o começo, quando morava em Joaíma, interior de Minas Gerais. “Mas não é uma biografia convencional”, explica Araújo, que vem se ocupando do trabalho há aproximadamente oito anos. “Eu achei que seria meio chato ficar car apenas na cronologia. As histórias vão surgindo e eu vou contando do meu jeito. E vou falando dos personagens que conheci.”
Não faltam figuras seminais no livro de Araújo. Carlos Imperial, Wilson Simonal, Luiz Gonzaga, a falecida esposa, Silvinha, e muitos outros são retratados de forma vívida. Tim Maia ganha destaque na narrativa. “Conheci o Tim logo que comecei a morar no Rio de Janeiro, no começo dos anos 1960. Foi quando o Imperial juntava a turma no Clube do Rock. Mas aí o Tim foi para os Estados Unidos”, relembra. Quando voltou ao Brasil, Tim Maia ficou surpreso ao ver que antigos colegas, como Roberto e Erasmo Carlos, haviam se tornado grandes astros. Só Araújo deu uma força ao futuro mestre do groove nacional no momento de dureza: “O Tim foi morar comigo e falava o tempo todo: ‘Dudu, fica ligado, a onda agora é a soul music, esse negócio aí, o boogaloo’”. Depois de irem até uma loja de discos importados e comprarem LPs de Arthur Conley, Otis Redding, Aretha Franklin e outros, os dois começaram a arquitetar A Onda É Boogaloo, que saiu em junho de 1969. “O título veio de um disco do The Fantastic Johnny C chamado Boogaloo Down Broadway. Eu e Tim trabalhamos muito na concepção e na gravação, ajustando os ritmos e os timbres da black music norte-americana com o tipo de balanço que era feito no Brasil.” Araújo conseguiu um
contrato para Tim com a Odeon, mas o soulman não ficou por lá. Foi para a Philips, também com uma forcinha do amigo, e finalmente se consagrou no autointitulado LP que lançou em 1970.
Em O Bom (1967), seu primeiro trabalho, Eduardo Araújo antecipava a mistura de rock e sons do Nordeste que tempos mais tarde voltaria a ganhar fôlego nas mãos de outras gerações. “Eu morava no noroeste de Minas, perto da Bahia. Juntar tudo sempre foi algo bem instintivo para mim”, diz o músico. A partir de meados do anos 1970, ele deixou as grandes gravadoras e começou a trabalhar de forma independente. Depois de tanta estrada, o cantor não gosta de ser rotulado como um artista da Jovem Guarda. “Para mim, aquilo não foi um movimento musical. Foi só um programa de TV”, afirma. “Fiquei naquela onda por pouco tempo. O que eu faço é rock, sempre foi. E nada me deixa mais feliz do que saber que agora estão redescobrindo o que fiz décadas atrás.”