Em Esú, Baco Exu do Blues desconstrói o “mito” e busca o “humano”, até mesmo na cama
“Sua expectativa em mim está me matando”, declara Diogo Moncorvo, 21 anos, em “En Tu Mira”, antes de confessar: “Homem não chora. Foda-se, eu estou chorando”. Baco Exu do Blues, como se autodenomina o baiano que é um dos novos expoentes do hip-hop, passou por um período de perrengues e sofrimento interno, antes de solidificar sua obra lançando o disco de estreia, Esú, inteiro calcado na música brasileira e em dramas pessoais.
O álbum saiu em setembro, mas começou a nascer um ano antes, quando foi ao ar “Sulicídio” (parceria com o pernambucano Diomedes Chinaski): um grito entalado, uma furiosa crítica ao preconceito do Sudeste com a cultura nordestina, sem poupar nomes de MCs. “Sulicídio” incomodou tanto que rendeu duas respostas diretas: “SulTaVivo!”, do Costa Gold, e “Disscarrego”, do Nocivo Shomon.
“Não é pessoal contra a galera. Só peguei quem estava no topo no momento para mostrar que eu conseguia rimar tão bem quanto eles”, conta Baco, que foi instantaneamente endeusado, mas também sofreu com a repercussão negativa de frases em que manda “fãs soropositivo” para o camarim dos inimigos e usa o termo “traveco”. “Na minha intenção, não tinha ofensa”, explica. “Era uma coisa irônica [fazendo referência] a algo que já foi dito, e não por mim.” Ele parou de cantar “Sulicídio” nos shows.
“Isso foi foda, me fez repensar. “Fiquei fodido, não queria sair de casa. Pensei em suicídio”, o rapper admite.
Hoje, o artista elabora com clareza as origens da depressão que o deixou mais recluso enquanto trabalhava no debute. “Me colocaram num patamar que eu não queria”, diz. “Ouviram um ‘feat’ meu e falaram: ‘Não está no padrão Baco’. Qual é o ‘padrão Baco’? Eu sou o padrão, eu sou o Baco. A galera acha que todo mundo quer ser mártir, mas só quero fazer minha arte.”
Todos estes assuntos acabaram entrando torta ou diretamente em Esú, obra em que ele parece buscar o que há de humano em si. “Te Amo Disgraça” já é uma das grandes músicas de 2017. “Ela foi feita a partir do refrão”, ele conta. “Fui ao supermercado com a minha mina, compramos um vinho, sabe qual é? Comecei a escrever e já fiz o refrão ali. Aí só botei os acontecimentos depois [risos] e deu certo. Mas é porque foi um casal real, né, mano?” Até para transar, Baco é humano – e ele não vai te deixar com dúvidas disso. “A música brasileira tem essa coisa de endeusar o casamento: o homem cavalheiro que vai conquistar uma mulher. A minha é a crônica de um casal. Não como as pessoas querem que ela seja, mas como ela é.” Baco quer ser exatamente como ele é
QUANDO COMEÇOU 2015
PARA QUEM GOSTA DE Rincon Sapiência, Djonga, Don L
OUÇA “En Tu Mira”, “Esú” e “Te Amo Disgraça”