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O Homem Mais Odiado da Internet

Hunter Moore quer se tornar um novo rei da mídia, mas do modo antigo – por meio de drogas, mulheres e pornografia. Se ele tiver de rastejar na sarjeta a noite inteira, esse é só o preço do negócio

Alex Morris Publicado em 12/11/2012, às 13h50 - Atualizado em 04/12/2012, às 11h35

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<b>PRAZER SEM LIMITES</b> Hunter Moore reflete depois de uma longa noite em Nova York - PETER YANG
<b>PRAZER SEM LIMITES</b> Hunter Moore reflete depois de uma longa noite em Nova York - PETER YANG

É preciso dizer que Hunter Moore, 26 anos, dorme bem. dorme profundamente, como uma pedra, e tem sonhos lindos e maravilhosos nos quais, por exemplo, ele se vê de posse de uma grande fortuna (“Eu encontro um baú do tesouro e acordo pensando: ‘Meu Deus, tenho todo esse tesouro!’”). Na verdade, ele poderia estar sonhando isso enquanto é levado no banco traseiro de um Toyota Matrix azul-claro, com o vidro aberto, o vento nos cabelos, o sol brilhando, a música tocando, a cabeça inclinada em um cochilo inocente. Ao lado, no volante, seu parceiro ocasional de viagens, o DJ Android Rights, o conduz por Poughkeepsie, Nova York, e, menos especificamente, mas mais cosmicamente, em direção a seu futuro destino, que ele vê como aberto, brilhante e cheio de fortuna.

Para os que escolhem usar a internet meramente como uma ferramenta de produtividade e, portanto, não sabem quem é Hunter Moore – e, no que lhe diz respeito, esse número está caindo diariamente –, o cochilo inocente pode não significar muito, mas com certeza será uma surpresa para os que o reconhecem como o fundador do site IsAnyoneUp.com, um portal de, digamos, vingança pornô que permitiu que ex-namorados de posse de fotos comprometedoras de suas ex as enviassem para Moore. Ele primeiro confirmava se a infeliz candidata tinha mais de 18 anos e, depois, publicava as imagens online, para delírio e zombaria dos quase 350 mil visitantes que ele afirma entrarem no IsAnyoneUp diariamente. Junto com as fotos, ele incluía nome completo, perfil em redes sociais e cidade onde a pessoa morava, o que garantia que a foto apareceria no Google, o que também garantia que, rapidamente, a mãe, o chefe da ex e todo mundo visse a garota online, sem lingerie.

No decorrer dos 16 meses de vida do website, esse foi o destino de uma finalista do American Idol, da filha de um grande doador do partido republicano, do baixista da banda Passion Pit, da rapper Kreayshawn, de uma perua do programa Real Housewives, de diversas donas de casa reais, mães, professoras, anãs e de uma cadeirante, entre muitos outros – de 15 a 30 por dia. A BBC nomeou Hunter “o homem mais odiado da internet”. O Facebook o baniu para sempre e, depois, reconhecendo que havia sido enganado, também expulsou Alan, o gato de 27 kg dele (Moore reagiu postando uma foto do próprio pênis). O PayPal o bloqueou. O Anonymous tentou invadir o site. Depois de fotos dela aparecerem no IAU, uma mulher foi até a casa de Moore com o pai, que o golpeou no ombro com uma caneta, cuja remoção exigiu uma ida ao hospital e deixou uma cicatriz medonha (seu primeiro pensamento: “Meu Deus, vai ser o melhor post já publicado”). Ele recebeu ameaças de morte e adquiriu o hábito de trocar o número do telefone todo mês. Com medo de ser assassinado enquanto dorme, foi morar por um tempo com a avó.

Daí, a coisa ficou séria. Depois de Moore aparecer no programa de Anderson Cooper para ser confrontado por duas garotas cujos seios apareceram no IAU, os verdadeiros esquisitões começaram a aparecer, enviando coisas realmente pesadas – pornografia infantil, animal, nada de vingança básica – que a equipe do IAU precisava limpar todos os dias. Não querendo ficar de fora, o médico Drew Pinsky o recebeu em seu programa para uma lição de moral de uma mãe muito irritada (a resposta de Moore: “Sinto muito que sua filha tenha sido ‘ciberestuprada’, mas agora ela entende de tecnologia”). Surgiram alegações de invasão, pois diversas vítimas do IAU descobriram que um certo [email protected] vinha mexendo em arquivos de seus computadores antes de as fotos aparecerem no site. Moore alega que o IAU era protegido pela Lei da Decência nas Comunicações de 1996, que não permite que sites sejam responsabilizados pelo conteúdo enviado por usuários. Com a bênção de um advogado, que conheceu vendendo drogas em São Francisco, Moore às vezes respondia a cartas de intimação com um simples “hahaha”. Só que, em maio, o FBI chutou a porta dele e apresentou um mandado para busca de evidências de invasão. Ele ficou “morrendo de medo”.

Tudo bem que o IsAnyoneUp estava tornando Hunter não apenas infame mas também famoso, com um séquito formado por garotos tatuados, defensores da liberdade de expressão, e jovens meninas que aspiravam aparecer no site de Hunter e dormir com ele, não necessariamente nesta ordem (no Twitter, a tietagem que recebe é assustadora – “Se você tivesse Aids, eu transaria contigo do mesmo jeito só para dizer que peguei de você”, escreveu uma fã). Ainda assim, ele fechou a empresa e o vendeu para o site antibullying Bullyville.com e tentou se reformular como um amigo dos oprimidos, ao mesmo tempo em que dizia na TV coisas como “não sei como você pode me acusar – foi você quem tirou a foto” e “é 2012, o que acha que vai acontecer? Alguém vai monetizar essa coisa, e eu era a pessoa para fazer isso”.

Em outras palavras, quem diabos este cara realmente era? Que psicoses obscuras podiam ser responsáveis por tanta maldade? Haveria algo parecido com uma alma humana do outro lado da tela?


O homem mais odiado da internet mora em uma casa comum e bege em uma rua cheia de outras casas comuns e beges, em uma cidade tranquila e arborizada ao norte de Sacramento. De madrugada, ou melhor, ao raiar do dia, Moore deita sua cabeça grande e inteligente nos lençóis azuis em seu quarto de infância. Um computador com dois monitores fica sobre uma escrivaninha repleta de adesivos de skate, e sobre a cabeceira está pendurada uma camiseta emoldurada – um vestígio de sua primeira empreitada profissional. Abriu a empresa de camisetas na 8ª série, pouco depois de ser expulso da escola católica particular (“Eu era um moleque raivoso”). Antes de abandonar o ensino médio alguns anos depois, iniciou uma comunidade online sobre o game Diablo 2 e abriu um negócio de promoção de festas locais, cujos lucros o fizeram sentir que ficar sentado na sala de aula era perda de tempo. “Daí, fiz 18 anos e comecei a trabalhar de verdade.” O “trabalho de verdade” incluiu se tornar cabeleireiro para um website de fetiches pornôs, ganhar uma gorda indenização de uma loja brega por assédio sexual, usar o dinheiro para viajar pela Europa e Japão, antes de passar um ano na Austrália porque “as baladas são demais lá” e voltar para casa após pegar sarna. Depois disso, abriu uma empresa de festas sexuais que fazia “festas gay, orgias, todo tipo de coisa”, vendeu a operação quando começou a ficar “preocupado, porque era quase prostituição” e passou a considerar a próxima maneira de usar a simbiose entre mídia sexual e sexo a seu favor.

O IsAnyoneUp foi um acidente feliz. “Estava transando com uma garota que era noiva de um cara de uma banda semifamosa, e todos meus amigos a queriam ver nua porque ela era muito bonita”, ele explica. Quando enfrentou dificuldades técnicas para mostrar aos amigos as fotos que ela havia mandado, percebeu que poderia publicá-las em um domínio que havia comprado para uma possível promoção de festas. Com o tempo, os amigos adicionaram fotos próprias e, uma semana depois, ao checar os dados, Moore se surpreendeu ao ver que o site tinha 14 mil visitantes. “Pensei: ‘Posso ganhar dinheiro’.” E ganhou – às vezes faturando até US$ 30 mil por mês.

Estamos na sala de estar quando ele me conta essa história. Cabeças de cervos estão penduradas nas paredes junto com fotos da família (Moore se chama Hunter porque o pai adora caçar). Ele está sentado, clicando em posts enviados ao Tumblr do IAU – que agora lida com nus que os próprios retratados enviam – e postando mensagens instigadoras no Twitter para suprir a demanda (hoje, por exemplo, é a “segunda-feira dos homens com seios”). É assim que ele passa o tempo quando está em casa. Como os pais se aposentaram e se mudaram, ele praticamente comanda a casa, que é imaculadamente limpa e agressivamente classe média. Moore também não é o que eu esperava. Tem as tatuagens, as roupas pretas, mas, assim que abre a porta, é simpático e acolhedor. Quer beber algo? Está com muito frio? Precisa mudar a temperatura? Quer ver fotos das minhas sobrinha? Ah, não olhe para essa foto de um ânus, é nojenta. Tem cupcakes na cozinha.”

O verniz de normalidade só confunde as coisas, então, mais tarde, ligo para Jeanette, mãe de Hunter, que soa surpreendentemente equilibrada e não surpreendentemente estupefata com a carreira do filho. No dia em que ele nasceu, houve uma tempestade tão forte, que arrancou a porta do celeiro na fazenda em que a família morava na época. Talvez isso explique as coisas, acredita Jeanette. Ela quer que eu saiba que a irmã mais velha de Moore era missionária, que “somos pessoas normais. Ele teve uma educação normal” – bom nos esportes, amigos, fins de semana caçando com o pai. Só que Hunter nunca foi normal. Não dava para intimidá-lo. Se você o mandasse vestir uma calça, ele se escondia embaixo da cama, se o proibisse de fazer uma tatuagem, ele faria uma do próprio rosto no braço. No entanto, ele também podia ser doce, engraçado, carismático. “Só é possível entender quando se tem um filho assim”, diz Jeanette. Agora, ela espera que “esta vida louca se transforme em outra coisa”.

Moore também meio que espera isso. Adoraria “dominar o mundo, como um P. Diddy branco”, mas o problema é que “este é o mundo real”, e para alguém que não tem educação a internet pode ser uma alternativa de carreira viável se você sabe ler e manipular suas tendências. Isso envolve dar às pessoas o que elas querem, o que, segundo Moore, é “machucar umas às outras”, “se vingar de quem as magoa” e também ver os outros fazendo “coisas idiotas”. O fato de ele só conhecer as pessoas que publica “como elas são: um avatar na internet”, e de sentir que está representando um personagem também ajuda. Mas, às vezes, não: “Quero dizer, tenho partes da minha personalidade nas quais sou um babaca, mas, quando chegar ao ponto de estar 100% representando um personagem, provavelmente não vou mais querer fazer isso”. Por enquanto, fica feliz em postar fotos de seu pênis “com um monte de gatos atrás dele editados no Photoshop”, mas nunca, jamais, publicaria uma foto de sua mãe ou irmã: “Está maluca? Por que eu faria isso?”


Antes de ir dormir, Moore pensa em coisas interessantes para pedir às pessoas pelo Twitter no dia seguinte, como esfregar um salame no pênis ou enfiar objetos na vagina. Então, elas enviarão com prazer fotos de si mesmas fazendo essas coisas para ganhar uma camiseta e/ou aumentar seu número de seguidores. Algumas garotas arranjaram trabalhos lucrativos na indústria pornô por terem aparecido no IAU. Algumas conheceram seus maridos assim. Com toda essa energia criativa fluindo, a pergunta a ser feita é: o que será da marca IAU agora que o site fechou de vez? “Basicamente fui comprado para acabar com o Hunter Moore.” Só que Hunter Moore acredita que pode fazer de Hunter Moore uma marca, que caos suficiente na internet agora está associado ao seu nome, que ele pode surfar nesta onda até atingir a grandeza. Enquanto isso, foi procurado para escrever um livro sobre suas escapadas sexuais, está querendo fazer um reality show, planeja um novo site que pode trazer o pornô da vingança de volta, ao mesmo tempo em que terá um componente de rede social “para que as pessoas possam transar mais rápido do que o normal”, e está viajando pelos Estados Unidos fazendo festas IsAnyoneUp, nas quais dá uma de DJ.

Moore quer me mostrar como sabe dar uma boa festa, só que, antes disso, quer ir até São Francisco para jantar com a namorada. Sim, ele tem uma namorada. Pode ser inacreditável pensar que qualquer mulher entregaria o coração a alguém para quem tantas outras enviam partes muito diferentes de sua anatomia, e eu estava preparada para essa suposta namorada nunca se materializar. Estava errada. Fomos buscá-la em uma casa de verdade. Fomos a um restaurante de verdade. Ela tem um nome, Kirra. E olha só: parecia haver uma energia de namorados de verdade entre estes dois, Kirra e Hunter. Ao falar ao telefone ou se despedir, ele diz “te amo” do jeito preocupado e instintivo de quem diz isso a ela o tempo todo. No entanto, apesar da beleza loira e sensual de Kirra, eles não consumam este amor há muito tempo. Moore sabe que sexo casual e insignificante faz parte do trabalho, e não acha justo transar com estranhas e com Kirra também. Por outro lado, Kirra deixa Moore fazer o que quiser, desde que não fique sabendo. Ela me diz: “Não é um relacionamento típico, acho”.

A noite anterior, em Rochester, Nova York, foi excelente – daquelas que faz Moore acreditar em um futuro promissor. Ele estava dando uma festa no Dub Land Underground e tinha combinado de encontrar uma garota de Buffalo na qual estava de olho e que havia acabado de completar 18 anos. “Vou transar com ela e tirar várias fotos”, Moore anunciou enquanto outro fã da internet – o primeiro a fazer uma tatuagem do IAU – começava a distribuir doses de bebida. Em menos de 20 minutos, ele estava fazendo exatamente aquilo. Não apenas transou sem camisinha com a garota – pequenininha, de cabelos escuros e com um vestido rosa ainda menor –, mas ela foi aberta o suficiente para permitir que ele derramasse vodca em sua vagina e a lambesse. O único problema com a Garota do Vestido Rosa é que Hunter não gozou, mas, atualmente, isso não é raro. É um risco trabalhista, acredita, ficar “insensibilizado” dessa maneira. “Tenho de tomar alguma coisa”, diz, “para entrar no clima.”

De qualquer maneira, logo ele teve de se apresentar. No palco, com o DJ Android Rights, também conhecido como Ryan, e uma dançarina muito graciosa chamada Kat, Moore começou o show anunciando “acabei de transar com uma garota no camarim, então, obrigado pela hospitalidade” e oferecendo doses grátis de vodca, que Kat começou a distribuir do palco. Era uma terça-feira e 165 pessoas tinham pago entrada e, agora, dançavam aerobicamente, incluindo o rapaz que mais tarde disse a Moore: “Que pena que o site fechou, era minha fonte diária de notícias”.

Uma hora depois, o camarim estava todo enfumaçado. Moore aceitou um cigarro de maconha, mas, naquela noite, conseguiu comprar cocaína. “Droga, não sinto meus lábios!”, reclamou. Então, a Garota do Vestido Rosa voltou, com outra menina cuja roupa curta deixava a calcinha aparecer e era claramente menos atraente, mas também mais bêbada. Moore balançou a Garota da Calcinha no joelho enquanto a de Vestido Rosa observava, do sofá.

“Você vai me mostrar a bunda?”, perguntou à da Calcinha. “Meu Deus, você é muito gostosa.”

“Não!”, ela protestou.

“Mostra a bunda para ele”, falou a do Vestido Rosa.

“Se todos mostrarem ao mesmo tempo, eu topo”, murmurou a da Calcinha. “Quero que seja mútuo.”

Vestido Rosa revirou os olhos, mas se levantou do sofá. Elas mostraram a bunda ao mesmo tempo.

“Cara, você transaria conosco?”, Moore perguntou à da Calcinha depois de ela se recompor.

Ela pensou por um momento. “Acho que sim.”


Então, uma amiga estraga-prazeres da Garota do Vestido entra, insistindo para irem embora. Só que Moore não queria realmente transar com a da Calcinha: o que ele queria era mais cocaína, e a da Calcinha também. E como. Ainda naquela noite, no hotel, ela aceitou cheirar uma fileira no pênis ereto dele enquanto ele tirava uma foto e colocava no Tumblr. Ele ainda não queria transar com ela – não era tão gostosa assim. Falando sério, Moore não consegue dormir com qualquer uma. Em algum momento da madrugada, ele a mandou embora.

Assim foi em Rochester. Vamos para Poughkeepsie, onde, depois de seis horas de estrada e uma multa por um vidro traseiro com visão obstruída, o público na festa é muito estudantil e não é tão legal. Mesmo assim, no final, cinco garotas estão no palco sem blusa, dançando tanto que a maquiagem escorre dos cílios. Moore parece estar se divertindo, então, é um pouco difícil explicar o que acontece em seguida. O show acaba e Moore e Ryan estão no teatro escurecido atrás da boate, Ryan está fumando maconha, quando Moore menciona que talvez possa começar a trabalhar com a mesma empresa que agenda os shows do Daft Punk e, portanto, talvez comece a fazer turnês com a dupla (depois ele explicou: “Eu estava só falando besteira”). Com a notícia, Ryan expressa surpresa agradável ou descrença total – dependendo do ponto de vista – e Moore lhe dá um soco no rosto. Ryan vai até a mesa de suvenires com sangue jorrando do nariz e manchando a camiseta, alguém chama a polícia, que chega com a sirene tocando e faz uma busca superficial no local antes de anunciar que Moore desapareceu. Ryan pergunta como registrar um boletim de ocorrência.

Às 2h47 da manhã, depois de uma ida ao hospital para determinar se o nariz de Ryan está fraturado, estou de volta ao hotel quando recebo uma mensagem de texto de Moore: “Você está no hotel, podemos conversar?” Ligo para ele, que pergunta se estou bem. Pede mil desculpas. Ryan o estava ameaçando e ele tem uma família para sustentar, não só a si mesmo, mas também os pais e a avó. “Deixa eu ir até o hotel e conversar com você no lobby, só por alguns minutos”, diz. Recuso o pedido e vou dormir.

Vejo Moore pela última vez em Nova York. Está inquieto. Na noite anterior, tinha sido DJ na festa Trash!, no Webster Hall, e as pessoas ficavam subindo no palco, sem perceber que um stripper vestido de caubói aguardava impacientemente para fazer sua apresentação. Insultos foram trocados. Moore jogou um flaconete de cocaína no caubói, e eles começaram a brigar. Em seguida, policiais estavam algemando Moore e ele estava sendo revistado sobre o capô de um carro de polícia. Então, em vez de dar uma festa digna de astro do rock no porão do Hotel Chantelle, ele passou horas atrás das grades, enquanto um grupo de garotas usando corpetes de couro, meia-calça rasgada e sapatos de salto altíssimo posava para fotos com alguns policiais um tanto entusiasmados fora da delegacia. Mesmo depois de ser liberado e voltar ao hotel Hudson, na cama com a amiga Jazmin e uma garota loira e magra, ele ainda se sentia mal com a situação. “Tipo, caras matariam por um ménage e eu pensando: ‘Deus, posso dormir agora?’.”

Agora, caminhando pelas ruas do West Village depois do anoitecer, Moore pensa no fato de ter se metido em uma encruzilhada. “Eu deveria me acalmar, mas não posso. É meu negócio”, afirma. “O que vou fazer? Viver louco, sóbrio ou coisa assim?” É como a vez em que viu o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, em um bar em São Francisco e pensou: “Se eu der um soco na cara dele agora, pode ser a melhor decisão de negócio que já tomei, porque isso me tornaria muito famoso. Tipo, a não ser que eu estuprasse Steve Jobs”. Ele teria tentado, se não fossem pelos seguranças. Moore sabe que esses pensamentos podem ser um pouco loucos, mas é como tem de raciocinar agora – em quantidade de acessos, análises e conduzindo as massas da internet por seu caminho. Um dos dias de maior tráfego que já teve foi quando foi golpeado no ombro por uma caneta.

Comemos hambúrguer em uma lanchonete nojenta. Ele me conta que não é procurado pelo FBI há meses, mas isso não quer dizer que está inocentado. Mesmo assim, não está preocupado. Tem certeza de que algumas fotos de nu no IAU foram obtidas por invasão, mas jura que nunca invadiu o computador de ninguém, que nem saberia por onde começar. Também não teve mais notícias de Ryan. “Por que teria? Quem se importa com aquele cara?” Então, fica profundo: diz que o dia mais feliz de sua vida foi quando vendeu o site, que “arruinar a vida das pessoas com fotos de nu não era o emprego ideal”. Diz saber que é muito egoísta, que foi a psicólogos, que gosta quando eles o escutam. Diz que já fez coisas por dinheiro que nem acredita: “Coisas das quais não se fala – nada gay, nada de homens, mas não tenho orgulho disso”. Alega que a única coisa que o empolga é ganhar dinheiro.

Falando em empolgação, ele precisa ir embora agora. Chega de profundidade de Hunter Moore, chega de examinar a alma. Há uma stripper de Nova Orleans que ele tem de encontrar no hotel, e não quer deixá-la esperando. Transará com ela, talvez irá tirar algumas fotos e, depois, tentará ter uma boa noite de sono. Enquanto dorme, provavelmente continuará sonhando.