Campanhas, shows intimistas e contratação de especialistas: sabia como funcionam as estratégias para aumentar as chances de vitória na premiação
Quando Harry Styles deu entrevista ao programa de TV This Morning, em 15 de outubro, o primeiro álbum solo do cantor, um sujeito normalmente tímido com a imprensa, já tinha sido lançado havia cinco meses e ele não tinha nenhuma data nova de show para promover, mas, para especialistas, seu timing foi perfeito – a Academia da Gravação havia acabado de enviar cédulas a 12 mil eleitores do Grammy para decidir os indicados. Os vencedores serão premiados no dia 28 de janeiro. “Harry Styles estava cotado para Álbum do Ano, então isso dava a ele visibilidade durante o período de votação”, afirma uma fonte de uma gravadora. Outra fonte acrescenta: “Alguém como Harry fazer algo para um grupo demográfico mais velho como o do This Morning é exatamente o que um bom gerente de relações públicas aconselharia. ‘Queremos que os eleitores saibam que você não é um quinto de um grupo pop adolescente, é um artista sério’.”
Nos últimos anos, concorrentes ao Grammy têm promovido campanhas mais agressivas. As gravadoras fazem os artistas participarem de eventos da Fundação Grammy e garantirem aparições em veículos com os quais os eleitores simpatizam. Antes do Grammy de 2016, Kendrick Lamar gravou o Austin City Limits para a PBS e deu uma entrevista de alta repercussão para a NPR. “Quero ganhar todos”, disse a um repórter (levou por Melhor Álbum de Rap). Alguns até pagam por acesso a listas de correspondência que alegam revelar eleitores secretos do Grammy. “Fica mais intenso a cada ano”, afirma Daniel Glass, presidente da Glassnote Records, que está promovendo Childish Gambino para um Grammy. “Como eleitor, sou atingido pessoalmente por e-mails com ‘para sua consideração, por favor, vote em mim!’ em um nível que nunca vi. Os limites do decoro e da classe estão sendo rompidos.”
Veja a lista completa de indicados ao Grammy 2018
Comitês de eleitores do Grammy mudam todo ano; para votar, você precisa ter contribuído em seis faixas lançadas comercialmente. Para entrar na mira dos eleitores, alguns artistas participam de conversas intimistas no palco do Grammy Museum. Styles, Julia Michaels, Zac Brown Band, Steve Martin e Lindsey Buckingham e Christine McVie, do Fleetwood Mac, fizeram isso. “Isso aumenta o conhecimento sobre seu artista”, diz Bob McLynn, empresário de Lorde, Sia, Green Day e outros. “Você faz eventos durante todo o ano do mesmo jeito que um ator cotado para o Oscar participa de vários eventos para a Academia.” Alguns artistas vão ainda mais longe: a banda indie The Head and the Heart visitou os escritórios do Grammy e tocou no MusiCares Person of the Year – Tom Petty, neste ano. Embora o grupo tenha visto isso como apenas uma maneira de homenagear um herói, esse evento é considerado uma ótima forma de aparecer para possíveis eleitores. Uma pessoa próxima à banda acrescenta: “Quando artistas estão na estrada, você também tenta ver se podem fazer [programas] em escolas do Grammy, nos quais as crianças fazem perguntas. Os artistas acham recompensador e você aparece nas newsletters do Grammy”.
Também há métodos secundários. Monique Grimme, coproprietária do selo indie de Bongo Boy Records, fez networking, ganhou acesso a um painel de mensagens exclusivo para eleitores e compilou uma lista de 8 mil prováveis votantes. Os clientes podem pagar US$ 125 para que ela envie um e-mail em massa à sua lista, destacando uma banda ou um artista. Monique afirma que os sucessos incluem artistas indie, como Fantastic Negrito, que venceu o prêmio por Melhor Álbum de Blues Contemporâneo em 2017. “Estávamos tentando achar uma forma de nos diferenciarmos”, afirma Philip Green, coempresário de Negrito, acrescentando que os e-mails foram apenas parte da campanha. Uma fonte importante de uma gravadora adverte que essas listas não são confiáveis: “Me sinto muito mal quando o pessoal contrata terceiros, porque as listas deles não chegam a nossos membros”.
O Portugal. The Man, que foi indicado, se juntou à pressão do Grammy, publicando anúncios em jornais. “Você precisa ter um perfil durante esse período [de votação], senão as pessoas não se lembrarão de seu disco”, afirma o empresário da banda, Ritch Holtzman. Chance the Rapper fez o mesmo em 2016. “No começo pensei: ‘As pessoas fazem anúncios pelo Grammy – por quê? Parece bobo’”, tuitou. “Depois pensei... ‘Vou fazer um monte deles.’”