Markus Persson é o maior rock star dos games. Mas é possível que ele jamais grave o "segundo disco".
A manhã permanece úmida em Estocolmo, e a porta do escritório de Markus Persson está fechada. As persianas das janelas que dão vista para os 35 empregados da Mojang, a empresa que ele dirige, estão abaixadas. O assistente diz que ele está em uma reunião com Jakob Porser, cofundador da empresa.
Quarenta minutos depois, descubro por que tive de esperar: Persson – um dos maiores pagadores de impostos da Suécia, criador de uma empresa com valor estimado em cerca de US$ 2 bilhões – estava no computador jogando um jogo de tiro em primeira pessoa, fones de ouvido ao redor do pescoço, clicando com o mouse, com os olhos fixos na tela. Porser estava sentado ao lado fazendo o mesmo.
Careca e gordinho, Persson me cumprimenta amigavelmente e volta ao jogo, Borderlands 2. É o tipo de game de alto orçamento que é o completo oposto de qualquer coisa que a empresa dele produza, mas Persson diz que está obcecado há semanas: “Sinto que está me consumindo”. Toda sexta, Persson permite que a equipe jogue videogame ou trabalhe em projetos pessoais, mas a impressão que se tem é a de que o resto da semana também não é tão puxada. Além da mesa de sinuca, do pinball e da sala de cinema, há uma parede com retratos pintados a óleo de toda a equipe posando como aristocratas do século 19.
Conhecido pelo apelido “Notch”, Persson é cordial e amigável em pessoa, mas frequentemente parece estar escondendo algo. Ele sorri com tanta frequência que é quase como um tique nervoso e, quando fala, dá a entender que não consegue parar de se divertir com o rumo que a vida dele tomou. É rotineiro para ele dar festas com presentações de DJs milionários, como Avicii. Em 2011, contratou Deadmau5 para tocar em uma festa em Las Vegas à qual supostamente o príncipe Harry compareceu. Em 2012, ele transformou uma casa de shows parisiense em uma orgia de LEDs e pirotecnia, com atrações como Skrillex e A-Trak. No ano passado, levou a equipe inteira para Mônaco. Um álbum de fotos no escritório mostra os empregados chegando em uma frota de jatos particulares, dirigindo Ferraris e fazendo festa em um iate.
Tudo isso é possível graças a Minecraft: um projeto paralelo de Persson que se tornou o mais improvável sucesso da década, atraindo um número estimado de 100 milhões de jogadores a explorar e criar em mundos feitos de blocos. Não há instruções, não há fases a passar ou objetivos óbvios. O jogador pode explorar um mundo quase infinito, coletar recursos, cavar túneis e construir tudo que imaginar enquanto evita os diversos perigos (cair de penhascos, queimar-se em lava quente, ser atacado por zumbis).
No coração desse mundo está Persson, um programador independente que se tornou uma figura de destaque no mundo da tecnologia – e que parece despreocupado em tentar dar prosseguimento ao
seu primeiro sucesso. Em 2011, ele deixou Minecraft nas mãos de Jens Bergensten, que então era líder da equipe de programação. Nenhum dos projetos novos da Mojang parece particularmente ambicioso: o jogo mais recente, Scrolls – um projeto pessoal de Porser –, dá lucro, mas, segundo Persson, rende “migalhas” em comparação a Minecraft. A outra nova iniciativa da empresa é Minecraft Realms, um serviço de assinatura que facilita a grupos de pessoas jogarem juntos.
Persson passou a infância em um vilarejo rural chamado Edsbyn e aprendeu sozinho a programar em um computador Commodore 123. Nunca completou o ensino médio, mas com 18 anos foi contratado como programador por uma empresa de webdesign e circulou por empregos na área de tecnologia no início dos 2000. Uma cena de games independentes surgia na Suécia, e Persson encontrou o futuro sócio, Porser, quando trabalharam em um estúdio chamado King. “Ele é divertido e bem estranho, algo que gostei nele”, diz Porser. “Ele consegue ser superfeliz ou superdeprê. Não tem meio-termo.”
Elin Zetterstrand, com quem Persson mais tarde se casaria, disse que ele “parecia legal, muito inteligente e um pouco triste”. Foi em 2009, durante as horas livres que tinha enquanto trabalhava em uma empresa de álbuns de fotos online, que ele começou a criar Minecraft. Programou a versão original do jogo sozinho, em uma semana. Os gráficos simples, baseados em blocos, foram resultado da impaciência dele. “Eu só queria fazer um jogo que desse dinheiro suficiente para que eu pudesse criar outro jogo”, diz.
No primeiro ano, Minecraft vendeu cerca de 20mil downloads. Ao fim de 2010, já era comum que vendesse essa quantidade em um único dia. A comunidade só crescia: jogadores faziam tutoriais em vídeo apontando bugs; canais do YouTube eram criados para registrar as proezas dos usuários. Minecraft era mais do que um jogo – era uma plataforma. Rapidamente, Persson se tornou a maior celebridade dos games, com 1,6 milhão de seguidores no Twitter.
Após a morte do pai, no final de 2011, Persson iniciou um projeto com um nome impronunciável, 0x10c – um jogo ambicioso, que muitos viram como o sucessor de Minecraft. Mas Persson se sentiu assombrado pelas expectativas, e o estresse falou mais alto. Ele havia se casado recentemente, mas o relacionamento afundou. Persson admite que o sucesso teve relação com o fracasso do casamento. “Eu nunca tive meus anos de diversão adolescente, porque estava em casa aprendendo programação”, diz. “Tive a oportunidade de fazer o que quisesse. Podia ir a Nova York, explorar as coisas...” Ele e Elin acabaram se divorciando.
Em 2013, Persson anunciou que estava abandonando o trabalho em 0x10c – um “bloqueio criativo”. Em agosto do mesmo ano, ele postou em seu blog que não tinha mais vontade de tentar “nada grande”.
Atualmente, persson diz que só quer trabalhar em coisas que sejam divertidas. Ele mora sozinho em uma cobertura com vários andares em Östermalm, área de Estocolmo “onde moram as pessoas ricas”, diz, sorrindo. Pergunto se está namorando, e ele ri: “Eu não chamaria de namorada, mas, parafraseando um comediante, ‘tem uma mulher que ficaria brava se eu dissesse que não tenho uma namorada’”. Em breve ele se mudará para uma nova cobertura, ainda em construção. Quando estiver pronta, explica, será a mais cara de toda Estocolmo.
Por enquanto, caso Persson não invente um sucessor à altura de Minecraft, ele tem um plano de 10 anos para a empresa. “Espero que continuemos faturando, mas, se isso não acontecer, tudo bem”, diz. “No último ano, diríamos aos empregados: ‘Se não ganharmos dinheiro este ano, a Mojang estará morta. Talvez vocês queiram começar a procurar novo emprego’.”
Ele faz tudo parecer fácil. Mas, quando pergunto se esse papo casual é uma fachada para tirar a pressão de cima de si mesmo, ele confessa. “Você está certo”, diz. “Acho que a única forma de fazer algo grande e divertido de novo é se eu não esperar que isso aconteça.”
Semanas depois, Persson me escreve um e-mail: “Estou programando de novo, enfim”, ele conta, timidamente. “Provavelmente não dará em nada, mas me sinto produtivo.”
Gênio Perturbado
Como o suicídio do pai abalou a criatividade do dono do Minecraft.
Quando Markus Persson tinha 12 anos, os pais se divorciaram. O pai então se mudou para uma cabana afastada e começou a sofrer de depressão. “Ele foi para a cadeia por roubos, invasões, porque abusou de substâncias”, diz Persson. O pai sempre o apoiou e o encorajou nos dias iniciais de Minecraft. Ao mesmo tempo, os demônios pessoais dele ressurgiam. “Ele tomava remédios para depressão e bipolaridade, e abusou”, fala Persson. “Então, voltou a beber.” Em 14 de dezembro de 2011, o pai cometeu suicídio. “Foi chocante. Levei um tempo para perceber que aquilo era real.” Hoje, Persson tem a preocupação de que as nuvens negras que cegaram o pai também o sigam por aí. “Com a criatividade, tenho altos nos quais fico produtivo e baixos de não conseguir produzir. Tenho isso com o meu humor também.”