Cazuza receberá uma série de homenagens – e até retornará aos palcos
Há certos movimentos que surgem na área do entretenimento e não podem ser explicados de maneira satisfatória. Lucinha Araújo, mãe do cantor e compositor Cazuza, alega “coincidência” ao comentar o fato de que há quatro iniciativas diferentes e simultâneas para homenagear o filho dela, que neste mês completaria 55 anos – uma data importante, mas não exatamente uma efeméride que inspira lembranças.
Além de uma exposição no Museu da Língua Portuguesa e um musical ainda em fases iniciais de planejamento, há dois tributos encaminhados. O primeiro será em setembro, no Rock in Rio. Depois de levar ao palco uma celebração da carreira de Renato Russo em 2011, o festival fará o mesmo por Cazuza, que se apresentou na primeira edição do evento com o Barão Vermelho, em 1985. À frente do projeto Cazuza – O Poeta Está Vivo estão nomes como Frejat, curador e desenvolvedor do show, a própria Lucinha, o produtor Liminha, como diretor musical, e Maurício Nunes, na direção geral.
Coube a Frejat selecionar os artistas que melhor homenageariam a obra do amigo e colega de banda. “Escolhi pessoas que fizeram parte da história dele, mas também aqueles que têm uma presença forte do Cazuza em suas formações artísticas. Queria deixar representadas as gerações”, diz, explicando que no elenco há artistas que o inspiraram e que foram inspirados por Cazuza – entre eles, Ney Matogrosso, Maria Gadú, Bebel Gilberto, Rogério Flausino e Paulo Miklos. “Brasil”, “O Tempo Não Para” e “Preciso Dizer Que te Amo” são algumas das canções do repertório, pensado de forma a agradar uma massa ampla, segundo Frejat.
Vice-presidente executiva do Rock in Rio, Roberta Medina não se incomodou com a reclamação jocosa de Lucinha Araújo de que tal homenagem “demorou a acontecer”. “O Cazuza faz parte da história do Rock in Rio e o Frejat é parceiro da casa há muito tempo, sabemos que trabalhar junto dá certo”, ela explica. “Fora a amizade dele com Cazuza e toda a qualidade dele como músico.”
Em novembro, é a vez de um projeto mais ousado. Seguindo a tendência internacional de levar hologramas de artistas aos palcos (especialmente os que já morreram), a produtora Se7e Ar7es, em parceria com a empresa francesa de tecnologia 4DMotion, está desenvolvendo um Cazuza holográfico. A ideia será usar esse artista virtual em uma série de shows que, a pedido da Sociedade Viva Cazuza, terá a função de fechar o ciclo de comemorações com performances de 90 minutos, 20 deles protagonizados pela projeção do músico. Omar Marzagão, da Se7e Ar7es, explica que há anos quer trazer a tecnologia ao Brasil e enxerga a homenagem mais do que à altura do investimento. “O projeto virou algo pessoal, porque todo mundo que entrou está interessado na homenagem, em estar de volta ao palco com o amigo. Ninguém está fazendo por dinheiro”, garante. “É muito ousada a ideia de utilização da imagem dele, e achei que era muita areia para o meu caminhão”, argumenta o músico George Israel, colaborador na idealização. “Cazuza não pertence a mim, aliás, a ninguém. Sugeri ao Omar que fôssemos mais abrangentes e montei a banda composta pelos parceiros [de Cazuza]”, explica, referindo-se a Arnaldo Brandão, Leoni, Guto Goffi e Rogério Meanda, além do diretor musical Nilo Romero.
Mathieu Rochat, que supervisiona a criação do Cazuza em holograma, explica que a tecnologia usada trará uma experiência inédita para os brasileiros. Trata-se de um trabalho de três meses – e 16 pessoas – para criar 20 minutos de imagens. “O movimento humano não pode ser recriado pelo computador, senão fica robótico. Usamos um coreógrafo que imitou a maneira dele de se mexer e usamos [sensores] captores no corpo, pegando olhos, boca, tudo. Esse material é inserido em um sistema que desenvolve o CGI [sigla para computer-generated imagery]. Estudamos os movimentos dele em determinados momentos de cada canção”, Rochat explica, contando que foram utilizados vídeos do início da carreira do cantor como principal referência.
Em meio a tantas homenagens, Lucinha se diz preparada para a experiência de rever o filho no palco. “Já passei por tudo que alguém poderia passar neste mundo”, diz. “Vou pagar para ver.”