Favoritos de nomes como Clapton, Cash, Dylan e Beck, violões Martin & Co. chegam ao 175º aniversário cultuados como nunca
A música popular norte-americana de hoje guarda pouquíssimas semelhanças com relação à forma como ela era criada e disseminada em 1833. Na época, ainda não havia cultura de massa, tampouco gêneros musicais como blues, country, rock e pop e a americana (como é chamada a música de raiz dos Estados Unidos) ainda não possuía uma identidade definida. De lá pra cá, essa música se afunilou em diferentes gêneros e estilos; o rádio e depois a TV foram fundamentais em sua proliferação; e o seu registro passou do cilindro fonográfico ao gramofone, do vinil à fita cassete e do CD ao MP3 - este último promete aniquilar os outros dois formatos sobreviventes. Mas existe um elemento físico que resistiu a todo esse movimento e até hoje se mantém inalterado: o violão, ou "guitarra acústica". E se houvesse uma metonímia que, a partir do nome de uma marca, seria capaz de representar o violão enquanto objeto, seria a Martin & Co., que em novembro deste ano completa 175 anos de existência. "É o violão mais clássico do mundo", reconhece Marcelo Gross, guitarrista do quinteto gaúcho Cachorro Grande. "Ele tem o som do folk."
Os violões Martin passaram pelas mãos de artistas tão seminais quanto distintos. Seja o ícone do bluegrass Clarence Whit como o pioneiro do rockabilly Eddie Cochran; o influente violeiro folk Woody Guthrie e a lenda country Hank Williams; estrelas universais como Buddy Guy, Elvis Presley, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Johnny Cash, Bob Dylan, Joan Baez, Neil Young, Paul Simon, Eric Clapton, Merle Haggard, Mark Knopler, Tom Petty, Sting, Peter Framptom; além de músicos vanguardistas dos tempos atuais, como Beck, Ben Harper e o blueseiro John Mayer. A lista é infindável. Fazendo analogias óbvias, a Martin & Co. representa para os admiradores de violões o que a marca Harley-Davidson significa para os motociclistas old-school; ou o que a marca Jack Daniel's significa para os amantes do uísque norte-americano; e ainda mais do que a Fender ou a Gibson para os aficionados pela guitarra elétrica. É um ícone cultural, a maior fabricante de violões do mundo (no ano passado, foram feitos 81 mil instrumentos) e a mais antiga marca de guitarras que existe.
O luthier alemão Christian Frederick Martin (descendente de uma longa geração de marceneiros) fundou a C.F. Martin & Company logo que chegou aos Estados Unidos, aos 37 anos, em 6 de novembro de 1833. Nos primórdios, a empresa consistia em uma oficina montada nos fundos de uma casa localizada no número 196 da rua Hudson, em Nova York, cujo proprietário era o único funcionário. Por insistência de sua esposa, Ottilie Lucia Kühler (filha do renomado luthier Karl Kühler), seis anos mais tarde o casal, acompanhado do primogênito Martin Jr., se mudou para a cidade de Nazareth (Pensilvânia), onde até hoje se encontra a sede da Martin & Co. "Naquela época, eram poucos indivíduos trabalhando em um pequeno galpão. Hoje são mais de 600 funcionários operando em uma grande área [que tem mais de 18 mil metros quadrados]", conta Christian Frederick Martin IV, atual presidente e membro da sexta geração da família Martin. "Hoje, estamos equipados com excelentes ferramentas e computadores, mas ainda fazemos tudo à mão", celebra.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 24 da Rolling Stone Brasil, setembro/2008