Estes são alguns dos atletas que estão em Londres pelo ouro
MAURREN MAGGI
Primeira dona de ouro olímpico individual do Brasil ainda quer mais
Quatro anos atrás, Maurren Maggi entrou para a história do esporte nacional. Nas Olimpíadas de Pequim, ela conquistou a medalha de ouro no salto em distância, tornando-se a primeira atleta brasileira a ser campeã olímpica em um esporte individual. “Com certeza foi o momento mais marcante de toda a minha carreira. Não por ser a primeira mulher, mas sim pela conquista pessoal”, diz a paulista de 36 anos.
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Mesmo assim, um dos maiores desafios da carreira de Maurren foi cumprir a suspensão referente a uma acusação de doping – poucos dias antes do Pan de Santo Domingo, em 2003, Maurren foi flagrada no exame e posteriormente suspensa, o que a impediu de disputar os Jogos Olímpicos de Atenas. “Foi uma sensação horrível. As pessoas te julgando, e você tendo consciência da sua inocência”, relembra. “O atletismo, como esporte, trata casos de doping de uma forma diferente e mais rígida.”
Hoje, os resultados recentes de Maurren indicam que ela é capaz de manter o título em Londres; no GP Internacional de São Paulo do ano passado, Maurren alcançou a marca de 6,85 m, uma das três melhores do mundo na temporada. No Pan de Guadalajara, no mesmo ano, ela ganhou medalha de ouro, com um salto de 6,94 m. “Estou bem, preparada. A rotina de treinos é intensa, mas a cabeça está limpa, hoje estou satisfeita com meu momento.”
O início da carreira, curiosamente, não foi no atletismo. Ela relembra: “Até os 15 anos eu fazia ginástica olímpica. E era boa!”, diz. “Mas cresci demais, estava alta e a professora disse que não teria futuro.” Ela não teve alternativa. “Aí o salto me escolheu”, completa.
Antes da disputa na China, Sofia, 7 anos, filha de Maurren, pediu insistentemente a medalha de prata. Após o ouro conquistado pela mãe, em rede nacional, a garota insistiu no desejo pela prateada. Para Londres, a menina não mudou de ideia: “Ela gosta da prata, não tem jeito!”, ri a mãe. “Se bem que com ela é mais tranquilo, ela vai gostar de qualquer uma que vier. Ela gosta mesmo é de medalha.”
OSCAR DOS SANTOS
Pés quentes do jovem meia buscam medalha de ouro inatingível para o futebol brasileiro
Aos 20 anos, Oscar dos Santos Emboaba Júnior tem um currículo invejável. Já conquistou pelo Inter, como titular, dois estaduais e uma Recopa – além de estar no grupo campeão da Libertadores em 2010. Na final do último mundial sub-20, marcou três gols na vitória contra Portugal. “Com a camisa das seleções de base, foi meu momento mais marcante. Hoje, vários nomes da sub-20 estão lá na principal, como Neymar e Lucas”, diz.
Oscar já enfrentou adversários ainda mais duros, como a perda do pai aos 3 anos e a novela judicial envolvendo seu antigo clube, o São Paulo. “Foram momentos difíceis. Embora os companheiros
tenham me apoiado, foi complicado ficar fora de jogos decisivos”, diz. “Na verdade, acredito que prejudicou mais o Inter. Fiquei triste.” Com o fim da disputa – o Inter de Porto Alegre pagou R$ 15 milhões para ter o jogador, maior transação da história entre clubes brasileiros –, está em paz para assumir a camisa 10. Afinal, já atuou como titular na última série de amistosos da seleção, marcando contra a Argentina. “Acho que cumpri bem meu papel. Agora precisamos dar continuidade no trabalho para a disputa dos Jogos Olímpicos.”
Ele não esconde a ansiedade com a convocação. Na seleção olímpica, reencontra Lucas, colega da época do São Paulo. “Continuamos amigos. Na base, ele era conhecido como Marcelinho. Continuo chamando -o dessa forma.” Para Oscar, a seleção já entra naturalmente pressionada, por ser a única conquista que falta ao futebol brasileiro. “Espero que possa ajudar o país a conquistar o ouro.”
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JAQUELINE
Superando problemas na busca pelo bicampeonato inédito
Aos 11 anos, quando ainda se dividia entre o vôlei e o basquete, Jaqueline Carvalho já respirava esporte. Não demorou muito para que sua mãe pedisse que ela optasse por uma das modalidades. A pernambucana escolheu o vôlei e não se arrependeu. Em 2001, aos 17 anos, foi convocada para a seleção juvenil e eleita a melhor jogadora do campeonato mundial. Logo em seguida, se tornou titular da seleção principal. De lá pra cá são quase 30 conquistas coletivas em seu currículo. Mas Jaqueline vai além: a ponteira do Sollys/Osasco já superou uma trombose no braço direito, duas cirurgias no joelho e uma fratura durante os últimos Jogos Pan-Americanos que quase a deixou paraplégica. Hoje, mais madura, a ponteira revela uma tranquilidade maior em quadra, muitas vezes auxiliando na defesa – aliás, tanto na seleção como em seu clube, ela é a principal jogadora neste fundamento. Jaqueline fez parte do grupo que conquistou o inédito ouro para o vôlei feminino em Pequim. Agora, ao lado de nomes como Sheila e Mari, ela vai a Londres em busca da segunda conquista olímpica.
KAIO MÁRCIO
Recordista mundial dos 200 m borboleta tenta bater o supercampeão Michael Phelps
Filho de professor de natação, Kaio Márcio começou a nadar aos 9 anos. Adolescente, participou do campeonato brasileiro, ficou em sétimo lugar e decidiu abraçar a carreira. Desde então, são oito medalhas pan-americanas – três douradas – um título mundial e o recorde nos 200 m borboleta. “A primeira coisa que senti quando toquei a parede foi o grito da torcida. Olhei para o placar, vi o tempo no relógio e fiquei muito feliz”, relembra. Para Londres, Kaio segue uma rotativa de 11 sessões de treino por semana – mais de 10 mil metros por dia – além da intensa preparação física. “Estou buscando a melhor forma. Claro que a expectativa é conquistar uma medalha”, define. “Na Grécia, era minha primeira vez, estava totalmente encantado, boquiaberto. Já em Pequim, mais experiente, pude dar uma segurada. Afinal, é uma competição em que se coloca muita pressão, tem que estar preparado psicologicamente para suportar.” E haverá pressão: ele enfrenta o norte-americano Michael Phelps, recordista em medalhas olímpicas. “Ele tem um talento enorme. Nadar ao lado dele é difícil pra caramba”, diz. “Existe o respeito, e dentro da piscina cada um faz a sua parte. Poucos conseguiram vencê-lo, mas ele não é imbatível.”
EVERTON LOPES
Perseverante, ele promete surpreender nos ringues
A infância de Everton Lopes foi difícil em um bairro pobre de Salvador. Antes de chegar ao boxe, o menino ainda tentou se aventurar pelo futebol: chegou a ser convidado para treinar no Santos, mas, como era jovem demais, a mãe não deixou o então garoto se mudar para São Paulo. O tempo passou e o sempre atleta, aos 16 anos, acabou escolhendo o boxe. Mais tarde, chegou às mãos do técnico Luiz Dórea – mentor de nomes como Acelino “Popó” Freitas e Junior Cigano, campeão dos pesos pesados no UFC. Em 2008, nas Olimpíadas de Pequim, Everton foi eliminado logo na primeira rodada. Já em 2011, nos jogos Pan-Americanos de Guadalajara, o baiano chegou com status de favorito, em razão do título mundial na categoria meio médio ligeiro amador (até 64 kg) conquistado semanas antes, mas acabou saindo com a medalha de bronze. Hoje, Everton é uma das esperanças brasileiras em Londres. Aos 23 anos, o pugilista tem em seu cartel mais de 200 lutas, 50 vitórias por nocaute e 45 derrotas.
ANDERSON VAREJÃO
Com time experiente, basquete pode surpreender
Sete anos após chegar aos Estados Unidos, Anderson Varejão é unanimidade na NBA. Na última temporada, o pivô ouviu Doc Rivers, consagrado técnico do Boston Celtics, dizer que seu trabalho defensivo é fenomenal. Byron Scott, seu atual treinador no Cleveland Cavaliers, o classificou como “insubstituível”, enquanto Dan Gilbert, dono da franquia, disse que ninguém tem um pivô defensivo como o Cavs. Já Dirk Nowitzki, um dos maiores jogadores da atualidade e MVP das finais da temporada passada, foi ainda mais direto: para ele o brasileiro é “um animal”. Hoje, aos 30 anos, Varejão se mostra mais do que nunca à vontade e participativo no ataque, ultrapassou a média de dez pontos por jogo e está preparado para ajudar a seleção em seu retorno a uma Olimpíada. Afinal, a seleção masculina ficou fora dos jogos olímpicos durante 16 anos. Aliás, da equipe brasileira que deve ir a Londres, o único integrante com experiência olímpica é o técnico Rubén Magnano – responsável por levar a seleção argentina à conquista do ouro nos Jogos de Atenas, em 2004.
NATÁLIA FALAVIGNA
Após bronze, campeã mundial do tae kwon do aposta em controle para trazer o ouro
Natália Falavigna começou cedo no esporte. Aos 4 anos já dizia aos pais que pretendia disputar uma Olimpíada. Ela se aventurou pelo vôlei, handebol, basquete e natação até chegar ao tae kwon do, já na adolescência. “Logo na minha primeira aula, meu professor, Clóvis Aires, disse que eu deveria continuar treinando e que seria campeã mundial juvenil em dois anos”, relembra. “Aquilo me motivou muito, me dediquei e fui para essa competição. Ganhei, me tornando a primeira brasileira campeã mundial da modalidade.”
Em Pequim, com o bronze, Natália se tornou a primeira atleta a trazer uma medalha do esporte. Para Londres, ela reitera que empenho e dedicação não vão faltar. “Procuro sempre dar o meu melhor. Estou treinando para fazer tudo que está sob meu controle no momento da competição. Medalhas são consequência”, diz.
Nos últimos dois anos, a atleta enfrentou inúmeras lesões. Chegou a temer não conseguir voltar às competições. “Após minha primeira cirurgia, minha confiança na perna operada não era como antes”, conta. “Isso me afetou muito, tanto no esporte quanto na minha vida pessoal. O tempo passava e as coisas não melhoravam, o que gerou um desgaste mental muito grande.” No entanto, ela diz que hoje, aos 28 anos, está completamente recuperada. “Faz parte do passado. Estou muito motivada.”
Mesmo assim, Natália faz ressalvas sobre o atual momento do taekwondo brasileiro. “É um momento crítico, de incertezas. Temos atletas mais experientes em fase final de carreira neste momento, mas nenhum projeto de renovação para os próximos anos.”