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BRUNO GERMANO DEIXOU O TRABALHO COM PRÓTESES DENTÁRIAS PARA SE TRANSFORMAR NO EXPOENTE BRASILEIRO NA PRODUÇÃO DE GRILLS

Tamara Emy

Publicado em 11/08/2016, às 17h25 - Atualizado às 17h43
Germano e uma de suas criações no centro de São Paulo - Fábio Bitão
Germano e uma de suas criações no centro de São Paulo - Fábio Bitão

Dia a dia ajudando o pai na confecção de próteses dentárias em Caraguatatuba, litoral paulista, foi o laboratório ideal para que Bruno Germano, de 29 anos, descobrisse a profissão que de fato queria seguir: designer das joias dentais conhecidas como grills. Hoje, por meio da grife Brasil Grillz, ele é o expoente nacional da opulenta peça, que deixou de ser comum apenas na boca de rappers e ganhou o terreno pop com Madonna, Katy Perry e Miley Cyrus, entre outros que decidiram exibir uma versão mais brilhante dos dentes. Ainda não existe um estudo preciso sobre a origem do apetrecho, mas modificações dentais existem desde os primórdios da civilização como forma de expressão. Mudar os dentes de alguma maneira podia representar poder, riqueza ou status, por exemplo. No documentário Grillz, de 2009, o rapper nova-iorquino Just-Ice atualiza o significado do uso do acessório, explicando que o objeto pode inspirar respeito nas ruas, provar que o usuário é alguém durão ou mesmo servir como sinal de que se está diante de um gângster.

A cultura hip-hop, na qual os grillz se tornaram populares (dois exemplos proeminentes: o rapper old school Slick Rick e o clipe da música “Grillz”, de Nelly), teve forte infl uência sobre Germano. Na adolescência, assistindo a videoclipes de artistas internacionais, ele se viu maravilhado com a força do ornamento. O pai do designer almejava que o rapaz também escolhesse trilhar o caminho profissional dos protéticos e, mesmo com as similaridades entre essa profissão e a de um criador

de grills, não estimulou Germano na iniciativa. Nada que contivesse o ímpeto do “escultor”: ele começou a fazer testes com a ajuda de um amigo, usando a namorada como cobaia. Depois do primeiro grill bem-sucedido, criou uma peça para o cunhado, o rapper paulistano Doncesão, que teve papel importante na divulgação da Brasil Grillz, lançada há aproximadamente um ano. Com o tempo, a clientela tomou forma – rappers brasileiros como Sain, Lucas Predella e Flora Matos tiveram o sorriso metalizado por Germano.

O processo de criação começa com a moldagem da arcada dentária do cliente (se preferir, o comprador também pode enviar o molde pelo correio). É possível customizar a peça com diferentes desenhos, formas e letras, além de escolher o material. O mais acessível é o metal cirúrgico, cujo preço parte de R$ 200 por dente; no ouro amarelo, o valor começa em R$ 1.600, e no ouro branco em R$ 2.000 por dente.

A inspiração do trabalho vem de diversos joalheiros internacionais, mas Germano cita como grande referência o designer Johnny Dang, que já vendeu grills para os rappers Rick Ross e Kanye West e para a socialite Paris Hilton. Dang usa pedras preciosas, como diamantes, em peças que chegam a custar mais de US$ 26 mil. “Eu não cheguei lá ainda, mas quem sabe um dia”, brinca o brasileiro. “Não consigo enxergar grande. Consigo ver o que tenho aqui e o que faço, mas as pessoas à minha volta acham que ainda tem muita coisa para acontecer.”

O trabalho da Brasil Grillz segue, por enquanto, em ritmo modesto. “Prefiro fazer para pouca gente que goste e use no dia a dia, e não só por modinha”, diz o pequeno

empresário. A curto prazo, o plano de Germano é fazer um curso de ourives para aprimorar a customização das joias. O cliente dos sonhos? Abrilhantar o riso de

Black Alien, Marcelo D2 ou Snoop Dogg seria uma realização e tanto, mas nenhum deles bateria a satisfação que Germano sentiria se pudesse ver o próprio pai usando

um grill. “Ele tem 30 anos de laboratório e nunca viu isso [que faço].”

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