Eterno baixista do Pink Floyd, Roger Waters fala sobre a ópera que ajudou a trazer ao Brasil
Roger Waters faz sua primeira incursão na música erudita ao criar a melodia da ópera Ça Ira - Há Esperança, com roteiro do autor francês Etienne Roda-Gil e inspirado na história da Revolução Francesa. Além de assinar a música, Waters foi o responsável pela versão em inglês da obra. Um dos fundadores do mítico Pink Floyd, o baixista, guitarrista e cantor estará em Manaus (AM) nos dias 15, 22 e 24 de abril para acompanhar a apresentação de Ça Ira no XII Festival Amazonas de Ópera, com elenco brasileiro e texto em inglês. "Sempre que posso, supervisiono as montagens, e não perderia por nada a chance de voltar ao Brasil", disse o músico, por telefone, de Nova York.
Ça Ira é uma ópera transgressora?
Totalmente! O simples fato de mostrar a história da Revolução Francesa sem rodeios é uma ousadia. E chamar um homem do rock para criar a partitura só aumenta essa transgressão&
Como você se envolveu com o projeto?
Tudo começou em 1989, durante as comemorações do bicentenário da Revolução Francesa. Fui apresentado ao compositor francês Etienne Roda-Gil e à esposa, Nadine, artista plástica. Os dois me entregaram o libreto da ópera em francês e me convidaram para escrever a música. Comecei a trabalhar imediatamente, mas tudo foi interrompido com a morte repentina de Nadine, vítima de leucemia. Retomamos a tarefa em 1997. Considero um dos trabalhos mais importantes da minha carreira.
O que o motivou a criar a música para Ça Ira?
Em primeiro lugar, a própria história. A Revolução Francesa é um tema que me fascina. E sempre gostei de trabalhos longos, com difíceis soluções melódicas e harmônicas. São desafios que gosto de encarar.
Na sua opinião, a ópera atrai os fãs do Pink Floyd?
Certamente. Várias pessoas que viram montagens em países como Bósnia, Ucrânia e Polônia me disseram que se interessaram pela ópera por causa do meu envolvimento. E também identificaram elementos do som do Pink Floyd na estrutura melódica de Ça Ira. O som do Pink Floyd teve fortes influências da música erudita de várias épocas. Álbuns como Ummagumma (de 1969), Dark Side of the Moon (1973) The Wall (1979) e The Division Bell (1994) estão repletos dela.
Você partiu de imediato para a criação das orquestrações?
Não, fiz as bases com teclado, voz e bateria. Utilizei minha experiência com o rock e a paixão pela música erudita e procurei criar fusões entre os dois gêneros. Isso só seria possível se eu partisse da base crua do rock para chegar à formatação final.
Qual sua expectativa quanto às apresentações em Manaus?
O público brasileiro é impressionante, muito entusiasmado. Acredito que a receptividade será boa. E há a questão de ser montada no Teatro Amazonas. É um local fascinante, que tive a oportunidade de conhecer através do filme Fitzcarraldo, de Werner Herzog. Fazer a ópera num teatro às margens de um afluente do Rio Amazonas e próximo à maior floresta do planeta é, no mínimo, instigante.
Quais são seus próximos projetos?
Estou terminando um novo álbum, que deverá ser lançado ainda em 2008. Farei alguns concertos beneficentes, inclusive na América Latina. Já estão confirmadas datas em maio na Argentina. E pretendo voltar ao Brasil para shows em breve.
E existe alguma possibilidade de novos trabalhos com o Pink Floyd?
Essa é uma pergunta que deve ser feita a outras pessoas, não a mim&