Um dos maiores vexames da história do Grammy aconteceu na premiação de 1990. Na categoria Revelação, a dupla Milli Vanilli foi considerada a vencedora – até aí, nada demais. O problema foi quando veio à tona que as vozes presentes no disco dos alemães não era dos músicos que se apresentavam como Milli Vanilli. O resultado? O primeiro (e até hoje único) troféu Grammy que foi devolvido à Academia.
O Grammy de 1992 tinha tudo para coroar o trabalho de Michael Stipe e seus companheiros do R.E.M., que no anterior haviam gravado um de seus maiores discos, Out of Time, com o hit “Losing My Religion”. No entanto, a Academia Nacional de Ciências e Artes da Gravação, em descompasso com a música pop daquele momento, preferiu premiar o dueto póstumo entre pai e filha de Natalie & Nat King Cole de “Unforgettable” na categoria de Música do Ano.
O ano era 1969 e entre os concorrentes para Música do Ano estavam dois dos maiores clássicos da história do rock: nada menos que “Mrs. Robinson”, da dupla Simon & Garfunkel, e “Hey Jude”, dos Beatles. Mas a vitória naquela noite acabou ficando mesmo com a country “Little Green Apples”, gravada por Glen Campbell.
Outra vitória de artistas country que parece inexplicável aos olhos de muita gente é a de “Need You Now”, do grupo Lady Antebellum. A canção foi eleita a Gravação do Ano de 2011, superando fortes adversárias como “Fuck You” (Cee-Lo Green) e “Empire State of Mind”, da parceria entre Jay-Z e Alicia Keys.
“We Are The World” pode ter ajudado muitas crianças a matarem sua fome ao redor do mundo, mas não é uma canção incrível, digna de receber prêmios e mais prêmios. Mas não foi isso que aconteceu no Grammy de 1986, quando a música escrita por Michael Jackson e Lionel Ritchie venceu “Money For Nothing”, do Dire Straits, “Power Of Love”, de Huey Lewis e “Born in the USA”, do chefe Bruce Springsteen.
Às vezes, as ideias da Academia Nacional de Ciências e Artes da Gravação parecem descompassadas com o tempo. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2001, quando The Marshall Mathers LP, do rapper Eminem, e o experimental Kid A, do Radiohead, foram preteridos na categoria Álbum do Ano por Two Against Nature, do grupo de jazz-rock setentista Steely Dan.
O disco do grupo de blues-rock Blood Sweet & Tears é bom. Mas é difícil dizer que ele merecia a estatueta de Álbum do Ano em 1970, pela força de seus concorrentes. Afinal, não é todo dia que uma premiação tem de optar entre álbuns como Abbey Road, dos Beatles, o álbum ao vivo de Johnny Cash gravado em uma cadeia, At San Quentin, e a estreia de um dos maiores supergrupos de todos os tempos, o Crosby Stills & Nash.
Outro descompasso temporal da Academia aconteceu em 1993. Um ano depois da vitória de Natalie & Nat King Cole sobre o R.E.M., a organização do Grammy concedeu à versão acústica de “Layla” o troféu de Melhor Canção de Rock, ignorando duas dos maiores símbolos musicais daquela década: “Jeremy”, do Pearl Jam, e “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana.
A Academia do Grammy gosta de meter os pés pelas mãos de vez em quando. Pelo menos é essa a impressão que fica quando se lembra da criação da categoria Melhor Performance de Hard Rock, concedida apenas em 1989. Na ocasião, a vitória ficou com o Jethro Tull, pelo disco Crest of a Knave, derrotando trabalhos como ... And Justice for All, do Metallica. A estranheza foi tanta que o Jethro Tull nem compareceu à premiação, porque sua gravadora à época comunicou a banda para não se preocupar com isso, porque provavelmente eles não iriam vencer.
O nome da categoria é esquisito, e já nem existe mais, mas é um dos maiores descasos da história da premiação. Em 1967, o Grammy premiou como Melhor Gravação Contemporânea de Rock’n Roll a faixa “Winchester Cathedral”, da desconhecida New Vaudeville Band, em uma temporada que tinha “Good Vibrations”, “Monday Monday”, “Last Train to Clarksville” e “Eleanor Rigby” como candidatas à vitória. Vai entender.