Rock Brasília – Era de Ouro mostra cenário de música e política nos anos 80
Com direção e roteiro de Wladimir Carvalho, o documentário Rock Brasília – Era de Ouro, que foi recentemente premiado no Festival de Paulínia, chega aos cinemas neste mês. Traçando um paralelo entre música e política na capital federal, o filme junta cenas de época e depoimentos recentes e de arquivo, incluindo os de nomes como Renato Russo, Philippe Seabra (Plebe Rude), Dinho Ouro Preto, Dado Villa-Lobos, Herbert Vianna e até mesmo Caetano Veloso, que foi colega de faculdade do diretor. “Na metade dos anos 80, eu dava aulas de documentário, e a partir daí comecei a juntar cenas das bandas locais”, conta Carvalho. “Na verdade comecei a organizar todo o material de um ano para cá, quando percebi que era preciso contar essa história. Era de Ouro, apesar de ter música no meio, não é necessariamente um documentário musical.”
Segundo o diretor, a história do filme tem muito a ver com o clima político do Brasil nos anos 80. “Aquela geração de Brasília era filha de professores, diplomatas, gente que tinha o poder. Era uma classe média alta esclarecida”, ele afirma. “O Brasil estava começando a se abrir, e de certa forma aqueles garotos se rebelaram. Mas não era a rebeldia da MPB de protesto. Era uma coisa mais niilista e anarquista, motivada pelo rock.”
Mesmo rebeldes, essas bandas conquistaram o sucesso, como lembra Carvalho. “As gravadoras estavam loucas para achar bandas novas. O Herbert Vianna, por exemplo, foi um cara muito importante nesse processo, não só pelos Paralamas do Sucesso. Ele tinha morado em Brasília, conhecia todo mundo e tinha percebido todo o burburinho. Foi para o Rio de Janeiro e montou uma banda, mas nunca esqueceu o potencial dos amigos. Ele vivia pra lá e pra cá com as demos das bandas de Brasília e, se não fosse por sua insistência, talvez a Legião Urbana, por exemplo, não tivesse conseguido o sucesso.” Para o diretor, Renato Russo é, como seria de imaginar, o grande personagem do filme. “Renato foi o maior poeta do rock brasileiro. Sua sensibilidade permitia que ele falasse com propriedade sobre vida, morte e solidão. Por isso não foi e não vai ser esquecido”, completa.