No início dos anos 80, alguns artistas claramente não achavam que a coisa do videoclipe iria engrenar. E não demoravam muito mais do que um dia para gravar um vídeo, que muitas vezes mostrava apenas o artista fingindo tocar a música em um estúdio – caso de “Goodbye to You”, do Scandal, e “Workin’ for a Livin’”, do Huey Lewis & The News. A banda de John Cougar tocou instrumentos imaginários em “Ain't Even Done with the Night”, assim como fez Phil Collins em “I Missed Again”.
Na era dourada da MTV, a banda sabia que iria dar certo assim que fizesse um vídeo de mais de US$ 1 milhão. Com grandes orçamentos, eles poderiam gravar no Sri Lanka (Duran Duran), recriar um filme dos anos 20 (Madonna) ou usar animações profissionais (Peter Gabriel). Mas, neste quesito, “Thriller”, de Michael Jackson, é inalcançável. Três décadas mais tarde, gente de todo o tipo e todo lugar do mundo continua a repetir os icônicos passos de dança.
Nos anos 80 as cores selvagens eram adoradas. Em “Cool it Now”, do New Edition, cada integrante do grupo veste uma cor vibrante diferente – vermelho, amarelo, azul. Sem contar as polainas (Olivia Newton John), spray de cabelo (Bananarama), brincos gigantes (Cyndi Lauper), luvas com os dedos pela metade (Madonna) e, claro, neon (Wham!).
Você não precisa fazer muito esforço para lembrar de em que década saiu o clipe “Land of Confusion”, do Genesis. Com bonecos assustadores de gente como Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, este é um “quem é quem” do período final da Guerra Fria. Antes da queda do comunismo, artistas constantemente nos lembravam que o fim do mundo como conhecíamos dependia apenas de um botão vermelho.
Nos primórdios, o rock and roll era dominado por homens. Mesmo quando as mulheres chegavam lá, uma imagem sofisticada e sexy era uma grande ajuda na busca pelo sucesso. Mas nos anos 80, algumas mulheres resolveram mudar, vestir casacos de couro e adotar o estilo desleixado. Joan Jett se vestiu como uma motoqueira em “I Love Rock ‘n’ Roll”, Pat Banatar liderou uma revolta em “Love is a Battlefield” e Wendy O. Williams explodiu coisas em “The Damned”.
Enquanto algumas mulheres ganharam poder em clipes dos anos 80, outras simplesmente circulavam no colo de bandas. (Como uma regra, quanto mais cabelo em uma banda, mais mulheres “objeto” em seus clipes). O Mötley Crüe levou strippers para “Girls Girls Girls”, ZZ Top escolheu modelos altas para “Legs” e David Lee Roth convidou diversas garotas para vestirem biquínis em “California Girls”.
Antes do rap ser “gangsta”, alguns rappers vestiram roupas de cor pastel e escreveram sobre seus pais. Enquanto nomes mais pesados como N.W.A. e Ice-T estavam prestes a incomodar os mais conservadores, outros nomes como o Fat Boys estavam estrelando vídeos inofensivos como “The Twist”, com Chubby Checker no beatbox.
Um símbolo de poder nos anos 80 era colocar rostos famosos em clipes. Billy Joel conseguiu Joe Piscopo para “Keeping the Faith”, Madonna chamou Danny Aiello para “Papa Don't Preach” e muita gente trabalhou com Chevy Chase e Rodney Dangerfield. O vídeo para “Ghostbusters”, de Ray Parker, incluiu diversos famosos, incluindo Chase, e “Liberian Girl”, de Michel Jackson, contou com celebridades dos anos 80 como Jasmine Guy, Lou Diamond Phillips, Mayim Bialik e Steve Guttenberg.
A década de 80 foi a era dourada das trilhas sonoras, e neste quesito Kenny Loggins é imbatível. Com “Danger Zone”, de Top Gun, e “Footloose”, do filme homônimo, ganhou grande exposição nos cinemas. Outros exemplos de grandes trilhas sonoras: “Against All Odds (Take a Look at Me Now)”, de Phil Collins (Paixões Violentas), “Let's Go Crazy”, de Prince (Purple Rain), “The Heat Is On”, de Glenn Frey (Um Tira da Pesada), “Maniac”, de Michael Sembello (Flashdance), “Old Time Rock and Roll”, de Bob Seger (Negócio Arriscado), e “The Power of Love”, de Huey Lewis and the News (De Volta para o Futuro).
Young M.C. fez os amigos dizerem “Bust a Move” no bar, enquanto Ray Parker Jr. fez com que a resposta da pergunta “Para quem você vai ligar?” fosse irresistivelmente a mesma: “Ghostbusters!”. Enquanto isso, o Twisted Sister fez referências ao filme O Clube dos Cafajestes em “We're Not Gonna Take It” com o bordão “I wanna rock!”.
No clipe “Fish Heads”, do Barnes & Barnes, vemos cabeças de peixe vestindo agasalhos, jogando beisebol e bebendo café, nos levando à pergunta: “O que foi que eles fumaram?”. Quando artistas descobriram o poder do videoclipe, o público percebeu que alguns ídolos poderiam simplesmente planejar a coisa mais estranha possível. Outros casos: “She Blinded Me With Science”, de Thomas Dolby, e “Slave to the Rhythm”, de Grace Jones.
A banda REO Speedwagon fez na verdade dois clipes para “Can't Fight This Feeling”, e ambos extravagantes ao máximo. Cada deles com um considerável tempo dedicado a closes do rosto do vocalista Kevin Cronin. Diversos outros vídeos da época exageraram na breguice, tais como “Separate Ways (Worlds Apart)”, do Journey, “Rock Me Tonight”, do Billy Squier, e “Safety Dance”, do Men Without Hats.
Enquanto a Aids era um perigo cada vez maior nos anos 80, alguns artistas incentivavam as pessoas a dizerem “não”. Janet Jackson cantou “Let’s Wait a While” (“Vamos esperar um pouco”), e Jermaine Stewart, uma vítima da Aids em 1997, na década anterior disse “We Don’t Have to Take Our Clothes Off” ("A gente não precisa tirar a roupa"). “That's What Friends Are For”, de Dionne Warwick & Friends, foi regravada com gente como Stevie Wonder e Elton John para o combate à doença e arrecadou mais de US$ 3 milhões para pesquisas.
Vídeos de verão como “If This Is It”, de Huey Lewis & The News, “Rio”, do Duran Duran, “I'm Still Standing”, de Elton John, e “Cherish”, de Madonna, encheram a tela de sol e areia, mesmo se as letras não tivessem nada a ver com isso.
Tinha um jeito fácil de fazer um clipe ficar artístico nos anos 80 – tirar todas as cores. Tente, por exemplo, imaginar colorido o clipe de “Every Breath You Take”, do The Police, e é simplesmente um cara com um contrabaixo e um outro cara lavando uma janela. Retire as cores e se torna um intenso e premiado vídeo. Outros casos: “Boys of Summer”, de Don Henley, “Summer of '69”, de Bryan Adams, e até “Take On Me”, do a-ha, que levou este conceito a um novo nível.