Jonah Weiner | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 08/12/2013, às 08h21 - Atualizado em 21/02/2014, às 19h51
Se você quer saber como seria a beatlemania em 2013, veja o que acontece quando Paul McCartney faz um show gratuito em plena rua em Los Angeles. Horas antes de entrar em cena, olhe a multidão de gente suada amontoada ombro a ombro na sacada do 2o andar do restaurante Sun Taco, na Hollywood Boulevard. Olhe mais para cima, as cabeças pontilhando cada telhado e janela em vista; mais para cima, um helicóptero de TV sobrevoando a avenida; ainda mais para cima, três pequenos aviões circulando lentamente – curiosos que têm brevê de piloto, invadindo do alto. Na rua, observe as grades altas na calçada, cobertas com vinil preto, marcando o perímetro de um cercado de dois quarteirões que receberá 10 mil pessoas que irão gritar a plenos pulmões essa noite.
A apresentação de McCartney, do lado de fora do El Capitan Theatre, marca a estreia desta temporada do talk show Jimmy Kimmel Live! O ex-beatle está aqui para promover New, 24º álbum dele pós-Beatles. Quando o Live! entrou em contato pela primeira vez com a prefeitura sobre fechar a Hollywood Boulevard, o astro cotado para a apresentação era Justin Timberlake. As autoridades negaram o pedido. Quando o programa fez o pedido novamente, desta vez dando o nome de McCartney, o “não” virou um “sim”. Timberlake acabou se apresentando na noite seguinte. Mas mesmo assim, há regulamentos para se cumprir. Scott Igoe, programador musical do Jimmy Kimmel, está na frente do teatro esperando o chefe dos bombeiros, que precisa dar autorização à pirotecnia de McCartney. Igoe fala com o gerente de produção de longa data de McCartney, Mark Spring, para lembrá-lo da visita. “Tudo bem”, Spring diz, “mas não sei bem se usaremos pirotecnia hoje. Só se Paul decidir que quer.”
Pouco depois das 3 da tarde, McCartney sai de um carro atrás do teatro e é protegido por uma equipe de segurança chefiada pelo guarda-costas Mike, um cinquentão forte que poderia se passar por um dos mercenários do filme de Sylvester Stallone. McCartney veste uma jaqueta jeans e uma calça skinny com mais insolência do que um homem de 71 anos teria direito. O porte dele é esbelto, resultado de décadas de vegetarianismo, ioga e um treino de resistência que ele segue mesmo durante turnês, ficando de ponta-cabeça em academias de hotel com seguranças por perto para afastar curiosos. O cabelo, tingido de castanho, está na altura do colarinho da camisa, e a idade não combina nem com a aparência, nem com o prazer travesso que ele ainda sente com o fato de ser Paul McCartney. Ao ver fãs acampados nas duas pontas de um beco, ele faz alguns movimentos de air guitar elaboradamente teatrais para a multidão.
Ele se esgueira pelos corredores, acumulando uma comitiva enquanto caminha, passando por uma sala onde wraps de quinoa e sanduíches de tofu transbordam de sacolas de supermercado marcadas com a anotação “Paul McCrew” – nos shows de McCartney, os funcionários dele são livres para comerem todos os cheesebúrgueres com bacon que quiserem, desde que seja em outro lugar. Ele sobe uma escada até o nível da rua, vai até o palco e, reconhecendo os gritos que vêm desde o Sun Taco, acena e gesticula naquela direção, duplicando a gritaria dos fãs.
Algumas semanas atrás, McCartney estava lutando contra um resfriado e ficou nervoso com a voz. Mas tomou vitamina C e usou um remédio para garganta que Little Richard (cujo grito inspirou o seu) ensinou décadas atrás. “Pegue uma chaleira de água fervente, coloque óleo de eucalipto com hortelã nela” – inclinando-se, ele faz de conta que coloca uma toalha sobre a cabeça – “e sniffff – gahhh! Isso te derruba”, conta. “Eu o vi fazer isso em Hamburgo pela primeira vez, e ele saía da inalação, olhava no espelho e dizia ‘Richard, você é tão lindo!’” Hoje, o tom barítono de McCartney soa desgastado, mas forte – o uivo é ainda incrivelmente preciso. Ele continua temendo o dia em que procurará uma arma querida em sua munição vocal e sairá de mãos vazias, “mas isso ainda não aconteceu”, conta.
Depois de cantar uma faixa matadora de New chamada “Save Us”, McCartney franze a testa; a bateria soa significantemente mais monstruosa do que o normal. “É um perigo quando tudo está alto e louco; você se engana e na TV vai sair uma porcaria”, afirma. Ele se vira e fala para o baterista. “Abe, vamos fazer só baixo e bateria para garantir que não estamos distorcendo muito.” Eles entram no groove até McCartney aprovar – ele simplesmente tinha esquecido como um palco pequeno soa. “Estou mais perto do meu amplificador do que o normal”, diz.
Os membros da banda de McCartney são profissionais experientes e o conhecem como um líder de banda minucioso. “Não há erros quando se trabalha com Paul – nenhum”, afirma Barrie Marshall, promotor de turnês de McCartney desde 1989. “Quer dizer, você pode cometer um erro, mas tem de assumir. Levante a mão, olhe nos olhos dele e diga: ‘Estraguei’. E nunca mais faça isso!”
Enquanto McCartney canta “Drive My Car”, os fãs do lado errado do cercado já não aguentam mais: arrancam a cobertura preta e começam a bater de ombros nas grades, movendo-a para a frente. Nove grandalhões da equipe correm para devolver tudo ao lugar, reforçando a cerca com mais sacos de areia.
“Obrigado, plateia pequena, mas barulhenta!” McCartney grita, levando na boa. “Obrigado, cidadãos!”
Depois de dar à equipe suas anotações – aviso: nada de pirotecnia hoje –, McCartney olha em volta do estúdio de Kimmel e pede algumas modificações técnicas. “Estão trazendo mais luzes”, diz John Hammel, técnico de guitarra, chofer ocasional e assistente de campo de McCartney. Ele aponta para a parte sob o queixo. “Para os jovens, uma sombra aqui é legal. Para nós, velhos, não. A gravidade toma conta!”
Um produtor do Live! logo chega com um roteiro para aprovação de McCartney: o programa lhe pediu para aparecer durante um trecho do monólogo. A proposta original seria usar o velho boato “Paul está morto”. McCartney iria admitir que as teorias malucas seriam verdadeiras e que, na verdade, ele era um impostor chamado Gary. Em vez disso, McCartney concordou em participar de um esquete mais simples, no qual ajuda o coadjuvante de Kimmel, Guillermo, a participar de um questionário sobre nomes de músicas dos Beatles. A fala de McCartney foi cortada de meia dúzia de linhas para uma única palavra “para facilitar para você”, diz o produtor. “Não há muito o que ensaiar aqui!”, responde McCartney.
Os redatores também querem que McCartney se junte a Kimmel no telhado, comentando sobre a enorme multidão na rua para uma abertura pré-gravada. Ele aceita, ciente de que isso só contribuirá para a sensação de importância da noite. Enquanto a hora de ir ao ar se aproxima, McCartney desaparece no camarim. A rotina típica de aquecimento inclui o truque com água fervente e um gargarejo com água e sal. Surge Nancy Shevell, esposa dele há dois anos. É uma morena elegante com nariz aquilino e bolsa de couro de cobra falso desenhada por Stella, filha de McCartney. Boa parte de New é feita de canções de amor, incluindo a animada faixa-título e “Save Us”, que trata do “aspecto salvador de ter uma boa mulher”, segundo McCartney. Quando o programa começa, o casal está lado a lado perto de um dos dois sofás enormes na sala de espera, assistindo ao monólogo de Kimmel em um monitor de tela plana. As outras pessoas estão vários metros atrás deles. McCartney desliza a mão pelas costas da jaqueta de Nancy, deixando-a pouco acima do bumbum, rindo de algumas piadas de Kimmel sobre o Emmys, mas permanecendo impassível em outras. Quando recebe a chamada para ser entrevistado, Nancy diz “Eu te amo, docinho”. “Eu te amo”, ele responde (alguns minutos depois, quando o programa entra no comercial, Nancy, uma magnata de uma empresa de transportes que claramente conhece música, grita “‘Temporary Secretary’!”, identificando corretamente a faixa 2 do álbum McCartney II, de 1980).
Antes de McCartney passar pela porta que dá para o palco, sua maquiadora, Lauren, ajusta a franja e aplica spray na nuca. Ao lado de Kimmel, McCartney transita com elegância da leveza à comoção ao descrever os perigos de derramar lágrimas durante apresentações ao vivo de “Let It Be”. Quando volta à sala de espera, é recebido com aplausos pela comitiva.
“É hora de beber!”, ele grita.
Todos aplaudem novamente.
New começou a tomar forma há alguns anos, com McCartney tendo ideias no Hog Hill Mill, seu estúdio no interior da Inglaterra, a 20 minutos da fazenda orgânica que ele chama de lar durante parte do ano. O trabalho realmente começou quando o músico decidiu fazer um teste com produtores. Em alguns momentos de sua carreira, o ex-beatle quis trabalhar em música com os outros e, às vezes, só queria ficar em um cômodo juntando ideias sozinho – fez McCartney e McCartney II por conta própria, o último em uma fazenda escocesa com alguns sintetizadores e um estoque infinito de maconha.
“Comecei compondo sozinho, porque não tinha ninguém”, conta McCartney. “Era eu, sentado na casinha onde morava quando criança. Então, conheci John e ele fazia a mesma coisa, e viramos colaboradores. Depois vieram os Beatles, e não havia mais motivo para compor sozinho – ótimo. Só que quando aquilo acabou, depois que os Beatles fizeram muito sucesso, não estávamos juntos em quartos de hotel o tempo todo. John morava em um lugar, eu em outro, e nos separamos novamente. Realmente conheço as duas formas de escrever música e ambas eram boas.”
Para escrever New, McCartney estava se sentindo sociável. A primeira parada dele foi em Londres, no estúdio de Paul Epworth, o jovem produtor e compositor mais conhecido pelo trabalho no álbum 21, de Adele, que o ex-beatle, assim como milhões de pessoas, adora. Ele chegou de mãos vazias. “Pensei: ‘Ok, o que vou fazer aqui?’”, lembra. “Sou muito aberto – só não quero ficar entediado.” Epworth foi assertivo. Fez uma batida de rock forte e rápida com a boca, dizendo a McCartney que esse era o tempo e a energia que ele deveria atingir. “Falei: ‘É uma boa ideia, vamos ficar animados, nada de ser profundo e sério’”, conta o músico. A sessão rendeu “Save Us”. Depois, foi a vez de McCartney convocar o produtor Ethan Johns. “Ele gravou discos com o Kings of Leon, então eu sabia que havia uma autenticidade e uma realidade naquilo que fazia”, afirma.
Vieram testes com Mark Ronson (McCartney admirava o trabalho dele com Amy Winehouse; Ronson acabou sendo o DJ do casamento dele com Nancy) e Giles Martin, filho do produtor George Martin. Giles havia trabalhado com McCartney em 2006, nos remixes dos Beatles para o show Love, do Cirque du Soleil. Finalmente, em vez de escolher só um produtor para o álbum, o músico acabou contratando os quatro, dividindo a lista de faixas.
McCartney revela que há décadas existe outro parceiro que o ajuda a compor. “Se estou em um ponto de uma música em que penso ‘Não tenho certeza disso’, jogo a questão para o John [Lennon] do outro lado da sala”, diz. “Ele me fala: ‘Você não pode ir para esse lado, cara’. Eu respondo: ‘Você está certo. E assim?’ ‘É, ficou melhor’. Nós temos uma conversa. Eu uso isso, é muito valioso. É algo que não quero perder.”
No dia seguinte à apresentação no Live! , McCartney entra em uma SUV, saindo da sessão de fotos para a capa da Rolling Stone em direção ao Beverly Hills Hotel. Ele se entendeu bem com a fotógrafa, a ponto de não conseguir pensar em se dar melhor com ela. “Foi divertido”, afirma. “Ela foi ótima, legal. Fiquei pensando: ‘Se fosse nos anos 60, eu tentaria seduzi-la’, e isso provavelmente apareceria nas fotos. Só que sou um avô e não faço mais essas coisas.” E sorri maliciosamente.
Chegamos ao hotel que McCartney frequenta sempre que vem a Los Angeles. Assim que entra no Polo Lounge, praticamente metade da equipe do restaurante parece ter se amontoado na frente: “Bem-vindo de volta, senhor McCartney!” Um guitarrista está agachado em um canto – é o responsável pelo acompanhamento musical da noite, prestes a fazer suas versões easy listening de sucessos de Otis Redding e U2 – mexendo nos cabos de som. “Fiz isso uma ou duas vezes!”, McCartney diz fraternalmente. Sentado em uma cabine no canto, pede chá verde e uma Evian. Afirma não fumar mais maconha e, embora ainda goste de beber, marcou uma massagem para mais tarde e quer ir limpo. “Queria tomar algo alcoólico, mas não daria certo”, diz. “Eu me arrependeria.”
Apesar das massagens de fim de tarde, McCartney afirma ter dificuldade para relaxar. Sente que não consegue repousar sobre seus louros; a inércia o agita profundamente. Quando os Beatles estavam se desfazendo em 1969, ele sofreu de depressão – ficava na cama, esquecia-se de se barbear, bebia demais, buscava consolo em pouca coisa além do casamento com Linda Eastman. “Em dado momento, me perguntei: ‘Você vai ficar sentado sem fazer nada ou vai compor novamente?’ Eu ficava em casa dedilhando alguma coisa na guitarra, e Linda dizia: ‘Ah, não sabia que você conseguia fazer isso!’ Depois eu ia para a bateria – ‘Não sabia que você tocava!’ Então, eu voltei a tocar só para impressionar Linda, realmente. Queria provar que era útil de novo.”
Provar que é útil é parte do motivo pelo qual McCartney ainda faz shows que duram mais do que uma sessão de O Hobbit, pelo qual ainda grava discos aos 70 anos, pelo qual ainda é duro consigo mesmo. Seja invocando o fantasma de Lennon ou outra voz interna, ele diz que “sempre tem a crítica em mente”. “É uma constante, sempre no mesmo volume. Ela me mantém cuidadoso – ‘Não seja tão indiferente com isso’. Não quero ficar convencido demais, achar que sou ótimo. Vamos falar sério: sou legal. Todos me dizem que sou. Tenho um histórico. É de se imaginar que eu pararia de questionar se qualquer coisa que faço é boa. Tenho um monte de prêmios, de sucessos, mas, por algum motivo, não tenho uma sala de prêmios. As pessoas perguntam: ‘Onde estão todos os seus discos de ouro?’ Não faço isso. Não quero ficar arrogante – mas, claro, por outro lado quero achar que sou ótimo, porque quando vou me deleitar com isso? O que vou fazer, esperar até morrer e dizer: ‘Ah, droga, deveria ter tirado uma semana de folga’?”
Trabalhar lhe dá prazer – e atos de simples recordações também. A memória dele é formidável. Ele se lembra, por exemplo, de caçar maços de cigarro descartados em Liverpool, um hobby que inspirou as letras com um olhar mais nostálgico em New. “Morei perto do ponto final de um ônibus e nossa versão de colecionar figurinhas era com maços de cigarros”, conta. “Você rasgava a parte da frente, juntava um monte deles, trocava com os amigos. O ônibus vinha do distrito financeiro de Liverpool, bem do outro lado de onde vivíamos, do lado chique ao lado pobre. Então, você tinha os cigarros de pobre, os de classe média, os de rico. Conhecíamos todos.”
McCartney aplica seu encantamento igualmente, diz, a músicas antigas e novas. Já tocou “Blackbird” e “Yesterday” zilhões de vezes, mas mistérios e significados novos se apresentam com cada performance. “Logicamente, eu deveria estar cansado dessas músicas e espero todo o tempo me sentir assim”, conta. “Só que não foi bem assim. O que acontece é que tento tocar a música como se a conhecesse sem esforço, mas há um padrão que não devo perder, e letras que devo encaixar naquele padrão, então normalmente ainda estou tentando acertar. E o que me vejo fazendo é reexaminar o trabalho daquele cara de 20 e poucos anos. É como se não fosse meu. Não é enrolação. Dificilmente há alguma coisa que eu passe para o piloto automático. Em vez de ficar entediado com uma música, ainda tento olhar para ela e pensar: o que diabos é isto? Por que fiz isso?”
Ele não tem mais a pilha de embalagens de cigarro. Hoje, coleciona suvenires dos Beatles, além de arte moderna e contemporânea: de Kooning, Picasso, Philip Guston. O título de uma música, “On My Way to Work”, veio ao folhear um livro sobre Damien Hirst. “Estava folheando para ter inspiração”, conta. “Olho para um lugar, abro um livro e espero que o primeiro parágrafo tenha uma linha matadora.” Quando chegou a hora de conceber a capa de New, ele juntou sua equipe criativa, que inclui o marido de Stella, Alasdhair Willis, e uma dupla de consultores que atende por Rebecca e Mike. Eles criaram um design elegante, mostrando o nome do álbum com nove hastes fluorescentes em homenagem ao escultor minimalista Dan Flavin. “Gosto das coisas dele”, afirma. “Não comprei nenhuma, mas gosto da ideia quando você a vê em uma galeria.”
Outra artista cuja obra ele admira? Yoko Ono. “Ela é fodona”, diz. Ele e Yoko trabalharam juntos em Love, com Ringo Starr e Olivia Harrison, e McCartney afirma que, depois de anos nutrindo recriminações e amargura um com relação ao outro, ambos se dão bem. “O tempo, esse grande curandeiro”, diz. “Pensei: ‘Se John a amava, deveria haver algo. Ele não era burro’. O que você vai fazer? Vai guardar uma mágoa que nunca realmente teve? Estávamos bravos porque os Beatles estavam se separando, porque algo estava diferente, havia uma garota no estúdio – isso nunca tinha acontecido. John queria Yoko ali e os outros três ficaram irritados. Então, meio que tive de dizer, no final, ‘Vamos ver como me dou com ela’ e nos demos bem no minuto em que decidi que não havia rancor.”
Quanto mais McCartney pensa no fim, mais pensa em reconciliação e no perdão em acabar com antigas rixas – com Yoko, com Lennon, com qualquer pessoa. “O George [Harrison] me dizia: ‘Você não quer que coisas assim permaneçam em sua vida’”, conta. Só que o impulso tem seus limites. Pergunto se ele um dia pensaria em perdoar Mark David Chapman, o assassino de John Lennon. McCartney respira profundamente. Eu digo que talvez não tenhamos tempo de responder totalmente essa pergunta. “Temos sim”, ele afirma. “A resposta é ‘não’. Aquela foi a ação de um completo idiota, não foi apenas alguém com quem você não se entendia particularmente bem. Foi muito mais, se foi maldade ou simplesmente loucura – foi imperdoável. Esse homem fez algo tão maluco e terminal, por que deveria lhe abençoar com perdão?”
“Quer uma dose de tequila?”, McCartney pergunta. O chá verde é bom, mas não está sendo suficiente. “Vamos, chame o garçom aqui. Tenho de fazer isso.” Logo dois copos de Patrón chegam, dane-se a massagem. “Um brinde a nós – saúde e felicidade”, diz, e nessa hora ganho meu momento. Damos goles profundos. “Hi-yahh!”, ele exclama, colocando o copo sobre a mesa. “Oh, baby!”
McCartney tem uma casa perto do hotel, mas passa a maior parte do tempo na Inglaterra, perto da filha Beatrice, de 9 anos, de quem divide a guarda com a ex-mulher, Heather Mills. A menina se estabeleceu como uma caixa de ressonância crucial para novas músicas. Quando McCartney pegou o bandolim pela primeira vez há alguns anos e tentou aprender a tocar, chegou a um riff animado que acabou se tornando o single “Dance Tonight”. “Eu estava lá, cantando, e ela entra correndo e começa a dançar”, Paul lembra. “Pensei: ‘Aí está minha prova’.”
Ele organiza a agenda de shows e gravações de acordo com Beatrice. Eles gostam de assistir a desenhos juntos, de filmes antigos da Disney a lançamentos da Pixar. McCartney deve voltar à estrada em novembro e fazer shows no Japão. Está no processo de trabalhar os aspectos teatrais dos shows. “Tenho uma ideia cozinhando”, diz. “Quando soube que o nome do álbum seria New, tive esta visão – sabe, como quando você acorda de manhã e está diante de uma floresta, de camisa xadrez, como se estivesse posando para uma foto. Só que do meu lado, abraçado a mim, havia um robô, um homem brilhante. Então, estou trabalhando na ideia de ter um cara enorme no palco. Gosto dessa ideia de ter um amigo que é um robô.”
Galeria: dez grandes parcerias do rock and roll, como John Lennon e Paul McCartney.
A melhor referência para a aparência do robô, ele diz, é O Gigante de Ferro – um filme favorito dele e de Beatrice. Para desenhar o robô, McCartney contratou a mesma empresa que fez as marionetes elaboradas para a versão do filme Cavalo de Guerra para o teatro. “É algo especulativo”, afirma. “Por que você construiria um robô? Só porque imaginou uma foto sua com um? Só que é assim que se faz: você tem ideias e tenta executá-las.” McCartney pensa por um momento. “Bom, essa ideia tem a ver com a novidade. Sou meio que um homem do interior, da vida ao ar livre, vivendo na floresta...” Sorri. “Só que tenho esse amigo, e ele é o homem moderno. Na verdade, ele é o futuro.”