Ator fala do prazer no esporte e do peso de viver um personagem com esquizofrenia
Em império, Paulo Vilhena vive o pintor esquizofrênico Domingos Salvador, que foi tão bem recebido pelo público que acabou ganhando mais espaço na novela. Mergulhado em pesquisa sobre transtornos mentais por causa do trabalho, o ator mantém a sanidade fora das telas investindo na paixão pelo surfe de maneira compulsiva, enquanto revela o lado obsessivo na hora de ouvir música.
Quanto de conhecimento a respeito da esquizofrenia você tinha antes do Salvador?
Não sabia o que era realmente a doença, não conhecia a patologia em si, as reações, os níveis, onde pode começar e até aonde pode chegar. Esse estudo mais a fundo é muito recente.
Você sente uma cobrança para ser muito fiel na forma de retratar os sintomas, por ser uma questão delicada?
Existe a necessidade desse cuidado, é uma questão social, de saúde pública. Claro que não podemos ser levianos ou ridicularizar as pessoas ou a doença, mas tem uma liberdade pela licença poética, estamos falando de uma obra fictícia.
E a pintura? Até o fim da novela veremos um quadro original de Paulo Vilhena no ar?
[Risos] Acho pouco provável. Tenho pouco talento para pintura. Gosto muito do surrealismo e do expressionismo, mas alguns artistas com quem conversei me contaram que a grande busca deles é voltar àquela origem dos primeiros traços, nos quais não existe muita técnica. É como se fosse uma coisa genuína, mais pura, igual a quando uma criança começa a pintar. Os artistas plásticos tentam buscar isso durante toda a trajetória, é quando você coloca a alma, a tristeza, as dores, a alegria [nas obras].
Com a correria da novela, tem dado tempo de surfar?
Tenho sempre pranchas no carro, estão sempre lá com uma bermuda e uma roupa de borracha. Eu inevitavelmente vou dar um jeito de surfar. É prazeroso ficar em pé na prancha, fazer uma manobra, me traz a coisa da conquista, de me aprimorar.
Tem acompanhado os campeonatos, os nomes que estão despontando?
Acompanho! Tive o prazer de conhecer toda essa molecada, Gabriel Medina, Miguel Pupo, Alejo Muniz. É uma honra para o Brasil tê-los nos representando, estamos em um nível diferenciado.
Por praticar o esporte, sempre o associam ao que chamam de “música de surfista”, na linha Jack Johnson. É o que você curte mesmo?
Ouço de tudo! Do jazz ao forró, hardcore, rap. Sou daqueles que colocam o CD e deixo lá ate furar [risos]! Vou ouvindo e me atento à letra, depois aos instrumentos, fico mergulhando no disco.
Você toca alguma coisa?
Tenho esse projeto há cinco anos [risos]. Queria aprender violão, guitarra, algum instrumento de corda.
Como galã, você é sempre fotografado. A privacidade – algo que ficou mais em voga ainda após o vazamento de fotos íntimas de atrizes internacionais – é uma questão para você? Porque, com essa história, se mostrou uma questão para todo mundo, com muita gente argumentando: “Quem mandou serem famosas?”
Isso é quase uma infantilidade! É como se as pessoas não se interessassem de fato e não percebessem como aquilo pode afetar alguém. É um comentário muito leviano, sem respeito ou critério. Não estamos falando de dez ou 12 atrizes, estamos falando da vida de cada um. E acontece com os outros também. Teve o caso da menina novinha que o namorado vazou o vídeo, a família ficou destruída. Deveria existir, senão um pouco mais de preocupação, pelo menos respeito.
Você sempre trabalhou na Globo, uma emissora que, por ser líder de audiência, é referência do que é feito na TV brasileira. E sempre apanha da crítica. Acha que a TV brasileira e a Globo são mesmo tão conservadoras? Ou o Brasil é conservador?
Enquanto o Brasil continuar não apenas conservador mas hipócrita, isso vai influenciar em tudo na sociedade. Tem exemplos claros. As novelas têm falado muito sobre homossexualidade. Tenho uma sobrinha homossexual e eu lido de uma maneira. Não sei como a família do vizinho lidaria. Cada um tem sua educação e valores, não tem como falar que é algo simples no Brasil, um país enorme. Temos uma sociedade toda segmentada: uma parte aceita, outra diz que aceita, outra não aceita. E isso reflete na TV, que é feita para todo esse público. Afinal de contas, é uma empresa que trabalha para esse público. Somos todos clientes da Globo, é uma empresa que lida com clientes.