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Perdeu a Graça

Não existe mais seriedade no mundo, aparentemente

Miguel Sokol Publicado em 27/09/2013, às 12h35 - Atualizado às 12h36

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O brasileiro até pode ser irreverente, mas também é incapaz de não ser engraçadinho - Reprodução
O brasileiro até pode ser irreverente, mas também é incapaz de não ser engraçadinho - Reprodução

Hahaha, kkk ou rsrsrs, qual é a sua gargalhada virtual? O Brasil é o país campeão de acessos às redes sociais e, exceto a organização de uma manifestação ou outra de vez em quando, essas redes só servem para compartilhar piadas. Conclusão: “O brasileiro é irreverente”. Esse aforismo engraçadinho se transformou na única máxima levada a sério no país e todo o resto virou comédia.

A situação da stand up comedy no Brasil é tão grave quanto a dos gafanhotos em Madagascar: uma praga. Bares do gênero pipocam pelas nossas cidades mais do que restaurantes japoneses em São Paulo ou filés à Osvaldo Aranha nos restaurantes não japoneses do Rio. Na televisão, os profissionais da stand up estão em todos os canais, em todos os programas, até nas novelas; o que não seria necessariamente ruim, se não fosse impossível assistir aos gols da rodada do futebol sem ter de aturar o maldito Mustela putorius furo, o Furão.

Daí vem o intervalo e todo comercial da TV acaba com uma tirada engraçadinha. Parece regra. A exceção é aquela modalidade de propaganda geralmente usada para vender planos de previdência em que uma voz infantil desenvolve um raciocínio extremamente adulto sobre o futuro, e aí o que era para ser fofo fica parecendo A Órfã, filme no qual uma linda garotinha é, na verdade, uma assassina de 33 anos que morre no final. (Você ainda não assistiu? Foi mal.)

Até eu, que estou reclamando, acabei de fazer uma piada sem graça. E até o porta-voz da versão oficial dos fatos no país faz as dele. William Bonner ainda não fez gracinha na bancada do Jornal Nacional – ainda –, porque no Instagram já posou até com um cone na cabeça. Como diria pausadamente o ator Jack Palance nos anos 80, com seriedade e sucesso (sim, isso é possível): “Acredite... se quiser”.

A situação é desoladora para quem pretende ganhar a vida falando sério. Padres e rabinos, por exemplo, em um enterro, descobrem duas ou três informações básicas sobre o morto e improvisam um discurso habilidoso que entristece a plateia com eficácia, uma perfeita stand up tragedy (que muito injustamente, diga-se de passagem, não rende nem a metade do dinheiro e da fama dos praticantes da stand up comedy).

Se agora tudo tem obrigatoriamente de acabar em piada, eu tenho é muita saudade do tempo em que tudo acabava em pizza, porque pizzas não são engraçadinhas. Nunca serão.