Sergio Mendes revisita suas raízes brasileiras na trilha sonora de Rio
O pianista e bandleader Sergio Mendes talvez ainda seja o músico brasileiro mais conhecido na atualidade. Neste novo milênio, ele se reinventou ao gravar com nomes como Black Eyed Peas e ao juntar o balanço da bossa nova com sons mais adequados aos ouvidos modernos. Neste mês, a música dele vai circular novamente: o músico de Niterói, que há décadas está radicado nos Estados Unidos, é o produtor musical da trilha de Rio, animação dirigida por Carlos Saldanha. A seguir, Mendes dá mais detalhes sobre a música do filme e também fala sobre os seus 50 anos de carreira.
Apesar de sua longa trajetória, esta é a primeira vez em que você é responsável por uma trilha sonora. Como foi o seu envolvimento no projeto?
Pois é, já fiz um pouco de tudo e senti agora uma dinâmica diferente. Mais do que tudo, cinema é um trabalho de equipe. Eu recebi o convite diretamente do Saldanha. Ele achou que minha música era a cara do Brasil e, principalmente, do Rio de Janeiro. A música precisava ser uma celebração da sensualidade, ritmos, da natureza e da hospitalidade do povo carioca. O trabalho pedia um cartão de visita positivo e acho que chegamos lá.
Por falar em equipe, quem mais está no trabalho?
Nestes últimos tempos tenho colaborado muito com o Carlinhos Brown. Achei que ele seria o cara ideal para trazer um astral contemporâneo para as canções, e ele acabou ajudando a escrever algumas das músicas do filme. Meu querido amigo - e vizinho em Los Angeles - Will.i.am não poderia ficar de fora, ele está em "Hot Wings (I Wanna Party)", que também tem Jamie Foxx e a Anne Hathaway. Temos na trilha também Gracinha Leporace, Taio Cruz, Bebel Gilberto, Sieda Garrett. Enfim, um time de primeira.
Um dos destaques da trilha é outra nova regravação de "Mas Que Nada". Essa música do Jorge Ben parece ser a mais duradoura do seu catálogo.
Nós costumamos brincar, chamando-a de "o hino nacional". Mas, falando sério, "Mas Que Nada" é tão para cima, tem um apelo tão universal, que não poderia ficar de fora do filme.
Fora "Mas Que Nada", você usou canções originais e se distanciou da bossa nova na trilha. Foi intencional?
Sim, o som das músicas reflete a vibração atual da música popular brasileira. Tinha de ser algo com um apelo mais moderno e balançado. Nas canções tem forró, sambão, música romântica, tudo o que faz sucesso.
Em fevereiro você completou 70 anos de idade e em 2011 celebra 50 de carreira. Tem algo especial programado?
Bem, esta trilha não deixa de ser uma celebração! E não é só isso. Está saindo também Celebration: A Musical Journey. É uma compilação dupla que pega toda a minha carreira, desde os tempos dos grupos Brasil '66 e Brasil '77, chegando até colaborações com o Black Eyed Peas. O disco vai ter duas gravações inéditas e feitas para o trabalho, que são "Chove Chuva", com a Ivete Sangalo, e "The Fool on the Hill", com a Sieda Garrett.
E shows por aqui, nada?
Já falei várias vezes e repito: só não toco mais no Brasil por absoluta falta de convite! A última vez que me apresentei aí foi na festa do Réveillon do Rio, em 2006. Mas agora, com os 50 anos de carreira, com o filme e tudo mais, vamos ver o que acontece. Não paro. Neste mês já tenho shows agendados para o Japão e devo também participar de alguns festivais de jazz no verão europeu.