O uruguaio Jorge Drexler fala sobreconceitos musicais, futebol e medicina
Quase Brasileiro
Jorge Drexler está circulando pelo mundo. Agora, fala diretamente de Toronto, no Canadá. Seu novo disco, Amar a la Trama, deixa de lado o revestimento eletrônico que caracterizou seus trabalhos de maior sucesso, como Frontera (2000), Eco (2004) e 12 Segundos de Oscuridad (2006). E ele também viaja, agora figurativamente, pelo mundo do cinema e da música brasileira.
Amor a la Trama tem arranjos de metais. Você está cansado de usar elementos eletrônicos em sua música?
Eu quis fazer um disco "pós-protools". Busquei uma gravação baseada na interação subliminar entre as pessoas. Quis lidar com as imperfeições, com o ocasional. Eu tive a intenção de registrar essa espontaneidade emocional, com erros e alguns ruídos, evitando uma perfeição que não surpreenderia ninguém. Muita gente está buscando isso no mundo, de Bon Iver a Moreno Veloso e Marcelo Camelo.
Suas canções são extremamente visuais, você se considera um observador?
Sim, mas eu diria que observo mais auditiva que visualmente. Meu disco anterior, Cara B (2008), trazia a premissa de andar pelo mundo com ouvidos abertos. Para isso gravamos sons de várias cidades, ruídos de aviões, carros. Eu me sinto observador e o resultado natural é uma música com característica "visual".
Como foi trocar a medicina pela música pop?
Foi algo violento e fácil, não por conflito, mas sim por ter sido uma mudança súbita e profunda. Eu mudei de país [do Uruguai para a Espanha] e minha situação econômica, horários, rotina, tudo mudou. Outras mudanças na minha vida me apavoraram muito mais do que essa. Eu amo a medicina e sempre procurei trazer algo dela para a minha música. Nunca perdi a maneira de ver as coisas com o olhar da medicina.
Várias canções suas mencionam termos científicos. Qual o segredo para transformar essa linguagem em música?
Eu gosto muito dessa observação sobre nossa condição de seres pequenos em um universo enorme. Isso sempre me fascinou. Eu não tenho formação literária, mas biológica. Por isso enxergo essa coisa da percepção do entorno, de gostar de opostos, do perto e do longe ao mesmo tempo, do problema e da solução. Gosto da surpresa, de tornar o imprevisível, previsível e vice-versa. Caetano Veloso tem essa habilidade de ser imprevisível, de não se acomodar. Chico Buarque também. Quero isso para mim. No disco tem uma canção chamada "Noctiluca", que eu fiz para meu filho Luca. A noctiluca é um protozário marinho que emite uma luz.
O que você tem ouvido?
Estou encantado com os trabalhos de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Orquestra Imperial, Moreno Veloso, Kassin e Domenico. Gosto da maneira como esse pessoal busca a música mais imperfeita, sem a preocupação com os padrões e, ainda assim, ser totalmente MPB. Aliás, fiquei muito feliz quando o jornalista Nelson Motta fez menção a mim como "um integrante da MPB". Eu quis um pouco desse espírito para o meu disco, de buscar a arte nas canções através da espontaneidade.
Você também se interessa por futebol. Quais as chances do Uruguai na Copa da África do Sul? Seu segundo time é o Brasil ou a Espanha?
Vou torcer para o Uruguai, claro. Em segundo lugar vem a Espanha. O Brasil vem em terceiro lugar! Espero que eu não tenha que abrir mão da minha torcida muito cedo!