PORTNOY destila lirismo assumido no punk de garagem dos anos 90
O rock nunca fez parte da vida de Alexander Portnoy. Não é dizer que o anti-herói criado pelo escritor norte-americano Philip Roth em O Complexo de Portnoy (1969) não tivesse nada a ver com o gênero. Sagaz, irônico e obcecado por sexo, o fictício judeu nascido em Nova Jersey trouxe muita inspiração às gerações seguintes, a contar por seu sobrenome. Em 2007, quase 40 anos após a criação do personagem, Portnoy virou o nome de um trio de rock formado em São Paulo.
Fã da obra de Roth, Conrado Corsalette viu uma rara coincidência para batizar sua banda. "Eu tive uma seqüela da síndrome de Osgood-Schlatter", diz o guitarrista, lembrando os meses de perna engessada para se livrar de uma má-formação óssea. "Nunca vi ninguém com essa porra de negócio", ele ri, explicando que o protagonista do romance de Roth sofreu do mesmo problema.
Conrado e seu irmão, Caio, faziam parte de outra banda, Barra Mundo. Juntos com o baixista e professor de conservatório Lefê, ex-Cascadura, formaram o trio e gravaram seu primeiro e recém- lançado álbum, homônimo e independente. Logo que deixaram o estúdio, Caio decidiu sair da banda. O baterista Kleber Kruschewsky, que havia tocado anteriormente com Lefê em Salvador (ambos são baianos), o substituiu, completando o trio.
Produzido por Iuri Freiberger, o disco traz um punk garageiro que remete ao som produzido em Seattle nos anos 90. Conrado não discorda: "Kurt Cobain foi um dos meus ídolos. Esses caras são os que fizeram eu ter vontade de tocar guitarra". Simples e direta, a gravação traz apenas guitarra, baixo e bateria, sem nenhum overdub. Ainda assim, a crueza não foi suficiente para encobrir a voz de Conrado e algumas letras excelentes, como a de "Sem Controle" (parceria com o primo/escritor Fabrício Corsaletti) e "Só um Homem", assumindo um eu feminino tal qual um Chico Buarque punk.
A idéia do Portnoy é não parar até a gravação do próximo disco, programado para este ano. "Temos 11 músicas novas", o vocalista revela. Enquanto isso não acontece, Portnoy também ganha uma versão virtual, oferecida de graça na rede. "As possibilidades da internet não permitem mais que a gente imponha barreiras comerciais para o uso da música", Conrado justifica. "É ilusão querer cobrar."