Os shows de Springsteen chegaram a um momento único
Bruce Springsteen aponta para um papel na mesa do camarim – alguns títulos de música escritos em caneta – e ri. “O set list não sobrevive ao primeiro contato com o público”, ele confessa, alegremente, fazendo uma pausa na organização do repertório para o show desta noite no Stadio San Siro, em Milão. “É puramente algo para fazer a banda sentir que sabe o que vai acontecer. Ela sabe que isso não vale o papel em que está escrito.” Springsteen – um dos maiores e mais empolgantes artistas para se ver ao vivo – levou o nível de busca por comunhão a novos patamares dramáticos em suas apresentações durante a turnê de Wrecking Ball, que passa pelo Brasil com apresentações em São Paulo (no Espaço das Américas, no dia 18 de setembro) e no Rock in Rio (dia 21). Na aclamada temporada europeia, que teve datas em estádios e em festivais, onde alguns shows passaram da marca de três horas e meia, ele atendeu a pedidos do público e clamores surpreendentes por material mais antigo e raro – uma parte vital do arco emocional de cada show. “Na verdade, eu não olho muito para eles durante a noite”, ele diz sobre os set lists. “Estou ouvindo a música que tocamos – ela me fala o que tocar a seguir, e observo a plateia. Às vezes, está no olhar de uma pessoa o quanto ela quer ouvir a música escrita em um pedaço de cartolina, ou na camiseta na cabeça.” Ele sorri. “O sistema de entrega de pedidos é muito amplo.” Na atual formação da E Street Band, com 17 integrantes, Springsteen tem um grupo tão grande e diversificado quanto as raízes dele: R&B, gospel, folk, rock de banda de bares. Compensou a morte do saxofonista Clarence Clemons (em 2011) com o talento e a exuberância do sobrinho dele, Jake, que diz ter aprendido muito sobre como Springsteen “se comunica com a banda toda noite, guiando uma experiência específica para aquele público”. Depois de mais algumas datas em 2014, na Nova Zelândia e na Austrália, a turnê de Wrecking Ball pode se encerrar, mas Springsteen está olhando para o futuro. Gravou novas faixas em estúdio com a E Street Band neste ano, na primeira passagem pela Austrália, e diz que gostaria que “a banda tocasse mais vezes”. Obviamente, novos set lists serão escritos – e, depois, ignorados.