Ator fala da paixão pelo cinema latino e da carreira na literatura que opta por não seguir
Apaixonado por teatro e cada vez mais um nome forte no cinema, Caio Blat está em cartaz com o filme Xingu, que conta como os irmãos Villas-Bôas lutaram pela criação do parque indígena. O estudioso intérprete de Leonardo tem na ponta da língua toda a história do país relacionada à expedição retratada no longa-metragem, e conta com paixão os detalhes que aprendeu ao se preparar para o papel. Essa curiosidade incessante é o maior trunfo de Blat, 31 anos, um dos alunos mais aplicados que as artes dramáticas do país poderiam desejar. O ator investe agora em uma adaptação inédita e ousada para os palcos de Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski, e estreia em breve em seu primeiro documentário, Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat.
Você já tinha curiosidade e conhecimento dessas questões da terra e dos direitos dos índios antes de Xingu?
Isso era muito distante pra mim. Eu tinha uma série de dúvidas sobre como sobrevive a cultura do índio depois do branco, principalmente porque a gente sabe que hoje nas aldeias os índios têm televisão, andam de roupas. O que os Villas-Bôas estabeleceram no Xingu é um modelo em que o índio determina até onde ele quer receber a cultura do branco dentro da terra dele, e é fascinante. Atualmente, o Parque do Xingu é administrado pelos próprios índios, que têm acesso a todo tipo de tecnologia e a usam para preservar a própria cultura, não para destruí-la.
Xingu foi muito bem no Festival de Cinema de Berlim e agora foi selecionado para o Festival de Tribeca. Esse boom de diretores e atores brasileiros lá fora faz você pensar em investir em Hollywood?
Não penso nisso, nem passa pela minha cabeça, não seria um objetivo meu. Gosto muito do cinema que a gente faz no Brasil e há muitos espaços que ainda podem ser conquistados. Acho que a coisa mais triste sobre a nossa dramaturgia é o fato de o Brasil se isolar da América Latina por causa da língua e da cultura. Tenho inveja quando vejo que um Gael [Garcia Bernal] pode ser considerado um ator latino e filmar indiscriminadamente na Argentina, México, Chile, Espanha. Esse é um mercado que a gente tinha que conquistar também. Meu sonho é filmar na Argentina, acho que é onde se faz o melhor cinema do mundo atualmente.
Sua carreira parece percorrer em grande parte dois temas: justiça político-social e ditadura. Será que o mundo perdeu um grande advogado quando você abandonou o direito?
[Risos] Não tenho a menor ideia. Tenho medo de que pudesse me tornar um advogado empresarial de terno e gravata. Foi uma atitude completamente planejada estudar direito,mesmo correndo um grande risco de me tornar ator. Eu tive essa formação durante a minha infância e quando precisei escolher um curso optei por algo que me desse uma formação mais ampla. Foi muito importante ir para a USP, principalmente pelo ambiente político e pelos poetas. Tudo o que eu faço da minha cabeça, para teatro ou cinema, é sempre a partir da literatura.
Você tem um romance inédito, O Último Suspeito, e paixão por escrever. Isso nunca vai tomar um rumo mais sólido?
Escrevi esse romance quando tinha uns 13 anos. Era fã de romances policiais, sempre tive fascínio pela literatura e facilidade para escrever, mas é uma coisa que eu não assumo muito. Acho que sou um pouco covarde com relação a isso. O que fiz foi usar isso para trabalhar como adaptador. Estou com o meu primeiro roteiro de cinema pronto, formalizando o processo para entrar nessa trilha aí que o Matheus [Nachtergaele] e o Selton [Mello] foram abrindo. O que vivemos no cinema brasileiro hoje é um idílio para nós, atores jovens. Nunca imaginamos que poderia haver uma carreira de cinema.
Na preparação para a novela Um Anjo Caiu do Céu, você se envolveu com o taoísmo. Como é sua relação com isso hoje?
Quando fui estudar, li sobre todo tipo de símbolo, mitos religiosos e tradições, e o que realmente me bateu muito forte foi o taoísmo. Uma cultura chinesa, milenar, mais do que qualquer cultura ocidental ou até mesmo mais do que as correntes orientais mais em voga, como o budismo.
Você começou a carreira em uma boy band no seriado infantil Mundo da Lua e agora interpreta uma pessoa que ajudou a mudar a história do país. O que faltou aí no meio? De repente retomar esse talento musical?
[Risos] Tenho uma paixão pela música e uma frustração de não ter desenvolvido isso. Se existe uma frustração é o fato de não ter aprendido a cantar e poder trabalhar em musicais. Até tentei fazer aula várias vezes, e não tinha o menor talento.