Depois do sucesso em Fina Estampa, o ator leva o personagem Crô para o cinema
Foram 15 anos na Rede Globo – ocupando uma posição de médio escalão, fazendo muitas novelas das 6 e séries – até que Marcelo Serrado, 46 anos, percebesse que estava em uma posição “tranquila demais, sem objetivos” e não renovasse o contrato com a emissora, em 2005. Acabou na Record, onde ganhou papéis mais densos, prêmios e o tempo para se dedicar a um projeto de quatro anos e viver Tom Jobim no teatro. Mas perdeu público. Para a sorte dele, os antigos empregadores estavam entre os que assistiam às performances. Serrado voltou à Globo em 2011 como o popularíssimo mordomo Crô, de Fina Estampa. E a volta não poderia ter mais sucesso: ele consolida agora a nova posição entre os grandes atores do país com um filme baseado no personagem, Crô – O Filme.
Mordomos homossexuais com tiradas excêntricas e referências clássicas não são exatamente novidade nas novelas. Quando você recebeu o Crô como papel, achou que o seu seria diferente?
Achei que tinha uma possibilidade muito grande ali. Vi um filme que me ajudou muito, Santiago, do João Moreira Salles. Fiz uma homenagem a ele. Vi alguns filmes assim, O Fiel Camareiro, e coisas que foram referência para mim. A gente nunca vai fazer um personagem achando “ah, vai ser um sucesso”. Não temos essa bola de cristal. Achei que era um personagem forte, mas nada da maneira que foi.
Mas por que ele deu mais certo do que os outros?
Os outros até fizeram [sucesso], mas não tanto quanto ele. Lembro-me do Cecil Thiré em Roda de Fogo, ótimo. O Sérgio Mamberti também. Personagens que foram importantes. Mas, dessa maneira, não. Isso se deve também ao Aguinaldo [Silva], que é o escritor. Ele tem essa característica de criar tipos tipicamente populares, tem realmente mão para isso.
O que diferencia o Crô de uma caricatura ofensiva?
Acho que botei verdade no personagem. Ele tem emoção, chora, não é um boneco. E no filme ficou muito claro isso. O Aguinaldo recomeçou a história do zero, depois da novela. Quem não viu a novela vai poder ver o filme e se divertir. Falei assim para o Bruno [Barreto, o diretor]: ‘Esse filme é Mazzaropi!’ Escrachadão mesmo. Não é Woody Allen, não é uma comédia sutil. E acho que o diretor entendeu. É um filme para toda a família, para as famílias verem, se divertirem, levarem os filhos...
Em Crô, são usadas as expressões “bicha”, “bichona”, “veado”, que podem ser ofensivas. Isso te preocupa?
Quem se preocupar com isso é bobo. O filme é uma brincadeira, A Gaiola das Loucas e outros vários filmes já tiveram gente falando isso. É normal, nada de mais, uma brincadeira. Quem for levar a sério não vá ver. Vá ver outro filme.
Você fez uma novela superelogiada na Record, Vidas Opostas, pela qual ganhou o prêmio APCA de Melhor Ator. Mas imagino que, mesmo assim, a repercussão tenha sido diferente da de um papel não premiado na Globo. Como o ator sente isso?
Vou falar uma coisa pra você, sou muito grato à Record. Muito grato. E gosto de falar isso, porque ela me colocou em uma posição muito bacana na minha carreira, que eu acho que mereço. Falo para os atores que estão em outras emissoras: “Não deixe de fazer qualquer trabalho que você está fazendo da melhor maneira possível, porque vai ter sempre alguém vendo”. E dei muita sorte, também, de pegar personagens fortes lá e de as novelas darem certo. E aí o Aguinaldo me viu fazendo o delegado Dênis Nogueira, a Globo já estava me chamando de volta... A repercussão é menor, claro. Mas em Vidas Opostas eu saía na rua e era uma coisa absurda. O personagem era muito carismático. Tanto que virou uma série depois, que o Milhem Cortaz fez, porque eu já estava na Globo.
Seus trabalhos antes e depois da Record têm pesos bem diferentes. Você diria que a emissora te levou a outro patamar como ator no mercado?
Com certeza. A Record foi fundamental para mim. E acho que, talvez, eu também tenha dado uma guinada internamente. Tudo isso que aconteceu, mesmo o filme do Crô, é sinônimo disso. Eu acredito no trabalho. Não tem lobby, não tem negócio de amiguinho. Ninguém consegue trabalho com ninguém assim. Tem que trabalhar, trabalhar, trabalhar. Um dia as coisas acontecem.