Astro da televisão e cinema, ator não se prende a estereótipos da indústria
“Precisamos parar de nos encontrar assim!”, brinca Neil Patrick Harris ao chegar à mesa em um canto escuro de um restaurante em Cancún, no México, onde estava para divulgar Smurfs 2 (que estreia em agosto no Brasil). “Cadê as velas?” Aos 40 anos, o ator se prepara para o encerramento, no ano que vem, do sucesso televisivo How I Met Your Mother – depois de nove temporadas – e divide o tempo entre trabalho e administração da vida pessoal (abertamente gay desde 2006, ele e o parceiro, David Burtka, são pais de gêmeos). Harris também será o apresentador, em setembro, da entrega dos prêmios Emmy pela segunda vez.
O que ficou para a última temporada de How I Met Your Mother?
Você é conhecido por atuar, dançar e cantar – uma “ameaça tripla”. Como isso começou?
Na infância, eu sempre estava envolv ido com corais e bandas. A música provavelmente veio antes, então. Como eu também era extrovertido, comecei a me apresentar em um teatro comunitário da escola. Só não danço muito bem... Acho que o terceiro item da ameaça seria ler o teleprompter, sou muito bom nisso! [risos]
O público parece aceitar você em qualquer papel.
Obrigado. Comecei criança, depois tive de lutar para superar aquele personagem [Doogie Howser, do seriado Tal Pai, Tal Filho, exibido na década de 90]. Tive certo sucesso nisso. Talvez tenha a ver com isso: comecei cedo, parece que todos estão acostumados comigo e me aceitam melhor. Mas não sei.
Há algum tipo de orgulho por você ser gay e muitas vezes interpretar um heterossexual pegador?
Só penso nisso quando olho para trás. Nunca me planejei a ponto de querer ser alguém que conquistou algo. Na época eu estava fazendo testes para pilotos, aí fiz um para o Barney [de How I Met Your Mother]. Não achei que seria uma afirmação nem nada assim. É divertido interpretar algo tão diferente da minha vida. Ter meu marido em casa, filhos, e ir para o trabalho fazer uma cena de pegação com uma mulher de 75 anos! Me faz rir!
Ainda assim, há quem pense que se assumir pode acabar com a carreira do artista.
Não acho que seja assim, a sociedade não é tão dura com as pessoas. As pessoas que são duras com elas mesmas. O processo de se assumir é muito íntimo, interno, cheio de demônios pessoais. Sim, há caras que têm um estilo mais James Bond e que, talvez, fosse ruim para eles, mas nem sei se isso ainda existe. Ainda bem que não sou assim!
No primeiro filme dos Smurfs, você interpretava um pai de família. Agora, você é um. Isso influencia em algo?
Um pouco. Na filmagem do primeiro eu já sabia que seria pai, mas era segredo. No novo, há muitos problemas do meu personagem com o pai dele – e na vida real eu amo o meu pai, então essa parte foi difícil, não consegui me conectar. Mas, sim, me senti confortável interpretando um pai. Não precisei trocar fraldas, então tudo bem.
Agora que How I Met... vai acabar, quais são os seus planos de carreira?
Nada está def inido, não acho que eu vá fazer outra série assim, de cara, porque nos divertimos bastante e tivemos muita sorte com o programa. Não quero que meu próximo trabalho seja comparado a isso. E a nossa agenda de gravação não permitia que eu fizesse muitas coisas, quero focar nisso. Talvez teatro, que exige normalmente uns seis meses ou mais. Ou dirigir um filme, produzir. Algo nesse sentido. E nossos filhos vão entrar na escola, vamos nos mudar para Nova York e ficar por lá. Por enquanto o plano é esse.
Qual foi o impacto da série Tal Pai, Tal Filho na sua vida?
É muito engraçado! Nunca sei como as pessoas me identificam, mas você se espantaria com a quantidade de gente que — aos meus 40 anos, mais de 20 depois da série – me diz: “Ei! Doogie Howser!” Nem passa mais na TV! Me impressiona como ela foi marcante. Na adolescência, eu odiava isso. Aí percebi que me saí muito bem na série, e que aquilo é parte de mim. Não me irrita quando falam disso, só acho aleatório que ainda achem que sou aquele personagem!
Você já parou para pensar onde esse personagem estaria hoje?
Meu Deus... Ele provavelmente seria o Dexter! [risos] Muito sombrio.