No Brasil, Ozzy Osbourne avalia o final de um ciclo com o Black Sabbath
Sentado na sala reservada para entrevistas em um hotel da zona sul do Rio de Janeiro, trajando um vistoso casaco azul e óculos de lentes coloridas, Ozzy Osbourne pouco lembra aquela figura errante eternizada no reality show The Osbournes. Prestes a completar 65 anos, o vocalista do Black Sabbath passou uma semana no Brasil para realizar os primeiros shows no país à frente da banda e para divulgar 13 – o primeiro álbum dele com o grupo desde Never Say Die (1978) – e o DVD ao vivo Live... Gathered in Their Masses, previsto para o fim do ano. Disperso mas escolado, Ozzy falou com serenidade sobre o futuro ao lado dos parceiros Tony Iommi e Geezer Butler, a sensação de dever cumprido e a inaptidão para o papel de celebridade.
13 faz referências ao primeiro álbum (de 1970), especialmente com os ruídos de sinos da introdução de “Black Sabbath”, que se repetem em “Dear Father”. 13 representa o fechamento de um ciclo?
Sim, fechamos um ciclo. Começamos nossa carreira com um álbum muito fácil de ser feito, e [o produtor] Rick Rubin quis exatamente isso em 13. Talvez outro tentasse fazer com que a música soasse perfeita, mas ele quis registrar a energia dentro do estúdio.
Rubin pediu que vocês usassem o primeiro álbum como referência...
[Interrompe] Nós começamos como uma banda de blues e jazz, e o primeiro álbum tem esse clima. Quando Rick nos pediu isso, eu me perguntava: “De que porra ele tá falando?” Depois entendi: ele queria a liberdade dos primeiros álbuns. Rick sempre me disse que se eu decidisse gravar com os membros originais do Sabbath, ele queria produzir. Era o sonho dele. E ele deve ter feito algo direito, porque o álbum ficou em primeiro em mais de 50 países, o que nunca tinha acontecido comigo – nem na minha carreira solo, nem com o Sabbath.
Você disse que enfim se sente em paz por ter gravado um bom disco com o Sabbath novamente...
No último disco que fiz com a banda, eu estava tão ferrado de drogas e álcool que ficávamos culpando uns aos outros pelos erros que cometíamos. Consegui muito sucesso sozinho e todos nós sobrevivemos, mas nunca fiquei satisfeito com aquele último álbum, sabe? Minha cabeça estava completamente fora do lugar. Mas agora terminar assim com um trabalho tão bem-sucedido... Finalmente posso descansar.
13 será o último álbum do Black Sabbath?
Eu não sei. Se não pudermos gravar um novo álbum, vou seguir fazendo música sozinho, enquanto eu aguentar, enquanto quiserem me ouvir e enquanto a música continuar boa. Mas estou feliz por ter reencontrado Tony e Geezer. A única parte triste é que não deu certo com [o baterista] Bill Ward. Mas não podíamos deixar as pessoas esperando.
Em “Live Forever”, você canta: “Não quero viver para sempre, mas não quero morrer”. Você se sente mais vulnerável com o passar do tempo?
Sim! Estou envelhecendo. Como disse, não quero viver para sempre, mas também não quero morrer. Vivi a vida como se estivesse na sarjeta. Talvez até seja diferente, mas gostaria de ficar aqui por mais uns anos.
Como você lida com o status de celebridade? Porque quando começou a cantar o foco era na música, não na fama.
É o preço que se paga. As pessoas dizem “Você se vendeu”, mas se o que faço não for comercial, vou fazer o quê? Vou gravar um disco para vender só uma cópia? Eu não circulo entre os famosos, em bares ou boates, não há razão para isso. Às vezes vou a restaurantes, mas não para ser visto. Minha família fez parte de um reality show que ficou maior do que esperávamos, e cheguei a um ponto em que não tinha como não encontrar com gente tipo o Arnold Schwarzenegger. Eu não saio por aí dizendo “Eu tenho um álbum em primeiro lugar!”, mas fico feliz com isso.
O novo DVD foi gravado na Austrália. Soube que na primeira turnê do Sabbath por lá, nos anos 70, você ficou torrado no sol e desde então nunca mais se bronzeou.
Sim, eu nunca mais tomei sol na vida. Foi em Perth, fiquei completamente queimado. Eu nunca tinha tomado sol. Fiquei por apenas 20 minutos e tssss... [ faz ruído de fritura]
E alguém recomendou que você tomasse um banho quente para se sentir melhor, não foi?
Sim, Tony disse isso. Aí entrei no chuveiro e “Ahhhh!” [risos].
Então você não gosta mais do sol. É, de fato, o Príncipe das Trevas.
Com certeza!