O músico fala sobre compor um balé, o show especial no Brasil e o 11 de setembro
Paul McCartney passou o verão do hemisfério norte agitando estádios norte-americanos, com shows de três horas que cobriram todo o seu catálogo. “As pessoas amaram”, diz Mc-Cartney, de 69 anos. “Todos ficaram em chamas!” Ele não está desacelerando no final do ano: recentemente, estreou The Love We Make, um documentário intimista dirigido por Albert Maysles que vai por trás das cenas do Concert for New York City, um evento repleto de estrelas que McCartney ajudou a organizar depois do 11 de setembro de 2001. O balé dele, Ocean’s Kingdom, tem temática ambiental e estreou em 22 de setembro, em Nova York, e, como se isso não fosse suficiente, ele está profundamente envolvido com os ensaios para seus próximos álbuns: um de regravações de Standards e outro de canções novas. Sir Paul – que pode voltar ao Brasil para shows em 2012 – deu a entrevista de sua casa de férias no Hamptons, área dominada pela alta sociedade nova-iorquina.
Como está saindo seu álbum de standards?
Estou me divertindo muito. Quando éramos crianças, na véspera de Ano Novo meu pai se sentava ao piano e cantava músicas antigas. [Canta] “When the red, red robin comes bob, bob, bobbin.” “Chicago, Chicago.” “The Carolina moon...” Soa muito melhor quando você está bêbado!
Minha cover preferida dos Beatles é “Eleanor Rigby”, por Aretha Franklin. Qual é a sua?
Ray Charles fez uma boa versão de “Eleanor Rigby”, também gosto dela, mas todas são boas, na minha opinião. As pessoas dizem: “Você deve ficar horrorizado quando escuta aquela versão sem graça cheia de órgãos de ‘Good Day Sunshine’!” Só que eu adoro – está brincando?
O que lhe inspirou a escrever as músicas para um balé?
No ano passado, eu não sabia nada sobre balé, mas há uma empolgação quando você não sabe o que deveria estar fazendo, o que é uma constante na minha carreira. Os Beatles nunca souberam como gravar discos, e eu e John nunca soubemos como compor músicas.
Então, do que trata o balé?
É uma história de amor centrada em torno de uma princesa de um reino oceânico. Li recentemente que, daqui a cinco anos, teremos arruinado os oceanos e perdido milhões de espécies de peixes – então o reino oceânico representa pureza, e o reino da Terra, que é uma espécie de máfia ousada, quer roubá-lo.
Com certeza haverá alguns esnobes do balé no público na noite de estreia. Isso lhe deixa tenso?
Quem sabe? Eu me vejo como um cara normal. Acredito que, se gosto de algo, outras pessoas gostarão também. Por exemplo, se gosto de “Satisfaction”, dos Rolling Stones, provavelmente muitas pessoas também. Essa sempre foi a regra para mim.
Você estava em Nova York no 11 de setembro – em um avião na pista no aeroporto JFK. Como foi?
Saímos rapidamente do avião, fomos para Long Island e assistimos a TV. Nova York é uma cidade importante para mim, sempre foi. Comecei a pensar que seria bom fazer algo para levantar o ânimo das pessoas. Quando era criança, no pós-guerra, havia um espírito de desafio através da música. Na escola, cantávamos: “Hitler has only got one ball/But poor old Goebbels has no balls at all” [Hitler só tem uma bola/Mas o velho Goebbels não tem nenhuma]. Maravilhoso!
Uma escalação incrível de músicos britânicos se apresentou no Concert for New York: Mick, Keith, Bowie...
E grandes músicos norte-americanos também. Foi assim: “Ei, se esses ingleses podem aparecer, nós também”. Demos acesso total ao Albert Maysles, então o filme conta com meu primeiro beijo em Elton John na tela. E você se lembra do bombeiro que se levantou e disse: “Se o Bin Laden está ouvindo, diga que ele pode beijar minha bunda irlandesa”? Era exatamente o espírito de “dane-se” que as pessoas precisavam ouvir.
Você tocou mais de 35 músicas por noite na última turnê. Como conseguiu?
Tenho uma ótima banda – e agora somos oficialmente uma banda. Estamos tocando juntos há quase tanto tempo quanto os Beatles e o Wings. As pessoas perguntam: “Você não fica cansado?” Respondo: “Não, é revigorante”.
Qual é sua lembrança preferida da turnê?
Tocamos “A Day in the Life” para nos divertirmos, e emendamos com “Give Peace a Chance”. É uma época muito propícia para “Give Peace a Chance” e estávamos gostando de divulgar a mensagem de John. Em São Paulo, de repente, do nada, todo o público – 60 mil pessoas – estava segurando e agitando balões brancos. Parecia um campo cheio de margaridas.