Boni pode ter construído o maior império de TV do Brasil, mas parece que o povo gosta mesmo é de assistir a outra coisa. Durante uma animada passagem pelo país, a ex-atriz pornô e atual artista multifacetada Sasha Grey, 25, apresentou sua estreia na literatura, o romance Juliette Society. E atraiu muita gente que já conhecia os outros lados dela. Sasha bateu o recorde de autógrafos em eventos do gênero em São Paulo, que até então pertencia ao lançamento da biografia do ex-chefão da TV Globo. Dona de uma carreira fulminante no mundo dos filmes adultos, ela se tornou objeto de culto pop ao emprestar o talento a uma proposta pessoal carregada de tintas filosóficas para explorar os limites da pornografia. Ao entrar na indústria aos 18, escreveu uma famosa declaração em que se dizia “determinada a ser uma commodity para satisfazer as fantasias de todos”. Anos depois, cruzou a fronteira para o mainstream em grande estilo nos cinemas, pelas mãos do diretor Steven Soderbergh, no filme Confissões de Uma Garota de Programa. E agora, se divertiu muito no Brasil.
Você esperava toda essa recepção por aqui?
Foi uma loucura! Mas muito boa. Eu não sabia muito bem o que esperar, porque não viajei muito internacionalmente com o livro. Sem dúvida, é diferente. Não passei por nada assim, talvez algo similar na Rússia e na Ucrânia.
E o que acha que há em comum entre seus fãs do Brasil, Rússia e Ucrânia?
Muitos dos meus fãs são pessoas que gostam da noite [Sasha já teve uma banda de industrial e se apresentou como DJ em duas festas durante a estada por aqui]. E acho que é o que acontece nesses casos, é um público meu que é animado e que acompanha também esse lado do meu trabalho.
Seu livro é um romance erótico lançado logo após o marco do mercado que foi a trilogia 50 Tons de Cinza. A edição nacional traz na capa uma citação que a chama de “a nova E.L. James”. O que há de comum entre as obras e de justiça na comparação?
Li o primeiro volume da trilogia de 50 Tons, e não é o tipo de livro que eu gosto de ler, apesar de ter o mérito de tratar de sadomasoquismo e levar o assunto para ser discutido em um nível inédito. A heroína dela está em busca do homem perfeito, o que não é o caso de Catherine, protagonista de Juliette Society. Acho que meu livro trata o sexo de uma maneira mais autêntica. Minhas influências vieram de clássicos, como The Sadeian Woman, Voltaire e Sade. 50 Tons foi criado a partir de uma fan fiction de Crepúsculo, já tinha uma base de fãs sólida quando foi lançado, isso faz muita diferença.
E o que tem achado do tratamento dos críticos?
Estou muito satisfeita com a crítica. Metade gosta, metade não. Está bom.
O processo de produção de escrita é muito diferente do das artes performáticas, como a atuação. Você sentiu alguma dificuldade de adaptação?
Escrevo para mim mesma desde os 9 ou 10 anos, então esse processo não é novidade, e foi muito natural. Quero continuar fazendo as coisas que estou fazendo atualmente, atuação, música, fotografia, escrever... Gosto muito da ideia de que posso estar em qualquer lugar do mundo com apenas uma caneta e um papel e poder me expressar.
Em todos os seus projetos, você é apresentada como “ex-atriz pornô”. Até quando acha que será desse jeito?
Isso depende da cultura da sociedade.
Por outro lado, quase todos seus projetos até agora ainda tratam de sexo, ainda há uma referência à sua experiência no que você produz.
Sim. Apesar de isso fazer parte de mim e eu não ter nenhum problema, obviamente, em ser associada ao sexo e à indústria pornô, não sou só isso. Tenho muitos projetos futuros que se afastam do tema. Já tenho uma ideia para um novo livro, e não é sobre sexo. Também acabei de filmar Open Windows, um thriller fantástico com Elijah Wood.
Soube que você é colecionadora de vinis e fã de música brasileira. Comprou alguma coisa interessante na viagem?
Eu adoro, especialmente bossa nova, é claro. Mas a correria foi muita, não consegui ir às compras como gostaria. Por sorte, me trouxeram algumas coisas para eu dar uma olhada. Quem sabe não descubro algo legal?