A primeira vez que ouvi falar de Elton John foi também a primeira vez que encontrei Norm Winter, seu entusiasmado agente nos Estados Unidos. Era começo do verão, nos escritórios da UNI - uma divisão da MCA - em West Hollywood. Na época, nem mesmo o pessoal da gravadora tinha ouvido falar muito de Elton John. Mas alguns deles conheciam Norm Winter, ex-assessor de imprensa veterano, cuja devoção aos valores tradicionais da divulgação e dos golpes publicitários jamais poderia ser rivalizada por seus companheiros mais jovens.
Os escritórios da UNI ficavam, na verdade, no Sol Hurok Building, naquela fileira de colossais edifícios dos impérios da música e do entretenimento, que fazem da Sunset Strip, em Los Angeles, um lugar tão divertido para se passear durante a tarde. O Sol Hurok Building, entretanto, é mais velho que os outros e só tem dois andares; ainda há em sua fachada de um marrom desbotado um sabor de história (Clark Gable? Cecil B. DeMille? Quem sabe quantos mais não passaram diante desse edifício).
A sala de Norm ficava na parte de trás do hall de recepção, perto da máquina de Coca-Cola. Ele me apresentou dois membros da banda Timber, quatro jovens bem vestidos sentados em um sofá no lado oposto ao de sua mesa. "Você precisa ouvir isso", exclamou, apertando minha mão e pegando um álbum que estava por ali. "Vai pirar. Tem um minuto?" Me apresentei ao pessoal da Timber e a Winter, que se inclinava sobre a vitrola revelando um pequeno rasgo em sua calça boca-de-sino azul-céu enquanto testava a agulha com o polegar, para depois colocá-la sobre o disco. Na hora, me pareceu estranho ouvir um grupo estando sentado a poucos metros de seus membros mas, em poucos instantes, percebi que seria mais bizarro ainda não parar para fazer isso.
"O nome desse cara é Elton John", explicou o empresário com um sorriso gordo. "Acabamos de assinar com ele. Não é inacreditável?" Era uma gravação realmente boa de "Your Song". Todas aquelas cordas e o piano beirando o clássico. Mas, de algum modo, não consegui entender a lógica de se promover uma banda tocando o disco de outro artista. Os rapazes da Timber pareciam igualmente confusos, olhando nervosos uns para os outros e para as mobílias. Norm tocou quase o lado A inteiro.
"Agora sem palhaçada, o que você acha?", ele indaga. Antes que pudesse responder, gritou, "Shelley! Shelley!", chamando sua secretária - uma mulher alta e corada, enfiada em um vestido longo - que apareceu à porta. "Diga a ele o que achou do disco de Elton John, Shelley. Vamos". A garota estava obviamente encabulada. "É... é legal", ela soltou dando de ombros. "Shelley não consegue parar de ouvir o negócio. Diga para ele, querida", corrigiu Norm, dando uma leve cutucada na moça. Enquanto ela saía do escritório batendo os pezinhos, Norman Winter foi até um quadro de recados perto de sua mesa e fez um sinal para que eu me juntasse a ele. "Tem uma coisa que quero mostrar a você." O quadro estava forrado de fotos mostrando celebridades de várias áreas. Sempre com Norm ao lado. Lá estavam Lee Marvin e Norm, Johnny Rivers e Norm, George Harrison e Norm. E muitos outros. "Reconhece esse cara?", perguntou ele, apontando para uma antiga foto de Frank Sinatra na época da Segunda Grande Guerra, com brilhantina no cabelo e tudo mais. Ao lado dele havia um indivíduo gordinho vestido com o uniforme do exército, parecendo uma espécie de escoteirinho de pelúcia. Reconheci na hora. "Só queria que ficasse claro há quanto tempo estou nesse negócio", explicou Norm, com uma certa modéstia. Logo depois disso, os rapazes da Timber se levantaram e deixaram o Sol Hurok Building. Na sequência, abandonaram a MCA e assinaram com a Elektra.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 28, janeiro/2009