Artistas internacionais lucram mais lançando música diretamente aos seus fãs
Quando os Smashing Pumpkins recentemente anunciaram que estavam deixando o sistema de grandes gravadoras, eles se juntaram a um crescente grupo de músicos que se viram capazes de lançar música, se conectar com os fãs e ganhar mais dinheiro ao não trabalhar com uma major. "Estamos livres", diz o líder dos Smashing Pumpkins, Billy Corgan, que pretende distribuir canções diretamente para os fãs pela internet. "Saímos do purgatório. E estamos empolgados para levar todo mundo ao território aberto que são as novas mídias."
No ano passado, artistas como Radiohead, Madonna, Nine Inch Nails, Eagles e The Black Crowes lançaram - ou anunciaram planos para lançar - música sem o suporte de uma grande gravadora. A tendência sinaliza uma mudança no modo de pensar de artistas e empresários: graças à distribuição digital em sites como MySpace e YouTube, além do crescente contingente de empresas que procuram se unir aos artistas, as gravadoras se tornaram menos necessárias do que nunca.
O Eagles - que em 2003 fundou seu próprio selo, Eagles Recording Company 2 - lançou o álbum Long Road Out of Eden exclusivamente pelo Wal-Mart em outubro de 2007. A rede de supermercados ofereceu "uma porcentagem em direitos autorais de que nenhuma gravadora conseguiria chegar perto", disse o guitarrista Glenn Frey na época. O CD duplo colocado à venda em todas as lojas da rede pela barganha de US$ 11,88 (o equivalente a R$ 19,99) ganhou espaço de destaque nas prateleiras e um investimento de US$ 40 milhões em publicidade. E ele se tornou o terceiro álbum mais vendido de 2007.
Desde então, o Wal-Mart selou acordos similares com a banda Journey e com Bryan Adams. "Quando você estabelece parcerias, não precisa de todas as coisas que uma gravadora iria oferecer: marketing, assessoria de imprensa, departamentos de arte", explica o empresário do Journey, Irving Azoff. "Você só precisa soltar um trabalho no mercado." Baruck diz que os royalties oferecidos pelo Wal-Mart são cerca de quatro vezes maiores do que um típico contrato de lançamento.
Trent Reznor queria lançar Year Zero, último do Nine Inch Nails, por uma grande gravadora, em seu site, sem proteção de cópias, por US$ 5, deixando todas as faixas disponíveis para os fãs remixarem, e vender um pacote especial incluindo um livro mais elaborado e outros artigos. Seu selo, Interscope, não permitiu. Depois desse disco, Reznor optou por não renovar o contrato. "Me dá muito prazer poder finalmente ter um relacionamento direto com o público, do modo que achar melhor," ele escreveu na época no nin.com.
Em março, Reznor disponibilizou o novo álbum do Nine Inch Nails, Ghosts I-IV, com 36 faixas, no site da banda. Cerca de 780 mil fãs compraram o disco instrumental em uma semana, rendendo a Reznor mais de US$ 1,6 milhão. "São necessárias apenas três coisas para que uma estratégia dessas dê certo", esclarece o empresário de Reznor, Jim Guerinot. "Você tem que controlar a publicação, tem que dar um jeito de controlar suas masters, e tem que conseguir controlar a marca. Trent tem as três." Para Guerinot, a liberdade que acompanha a independência tem um preço. "Deu um trabalho enorme", diz o empresário. "Tentar entender as políticas de licenciamento na Escandinávia, na Alemanha, na França, na Itália requer um grande esforço humano."
No ano passado, Dolly Parton e sua empresária, Danny Nozell, se reuniram com várias gravadoras grandes na esperança de conseguir um contrato. Descontente com as propostas que estava recebendo, Parton fundou o selo Dolly Records em 2007. "Decidi que não vou medir esforços para voltar às paradas e às rádios de música country," conta Parton. Nozell e Parton lançaram uma empresa de música digital, a Echo Music, contrataram um publicitário autônomo e um time de promotores independentes de rádio. "Estamos meio que cobrindo todo o mercado", diz Parton.
O primeiro single de Parton, "Better Get to Livin'", ficou no número 48 da Hot Country Songs (uma das paradas da Billboard) - sua maior posição em 15 anos. E Parton consegue uma porcentagem bem maior dos lucros do que em um contrato de gravadora. "Não vai levar mais do que algumas semanas para recuperarmos o que investimos."
Os membros do Black Crowes, que ganham grande parte da renda com as turnês, estavam dispostos a trocar a alavanca promocional que a Columbia, sua antiga gravadora, poderia oferecer, para ter mais controle sobre suas músicas. "Estávamos presos em um sistema e era deprimente", diz o líder Chris Robinson, que fundou o selo Silver Arrow Records para lançar o novo álbum da banda, Warpaint, depois de anos de frustração com as majors. "Agora não precisamos ter 5 mil reuniões para discutir por que isso ou aquilo não é certo para a gente. Sabemos o que é certo."
Outros artistas, como Prince e Pearl Jam, assinam contratos de um álbum com grandes gravadoras enquanto lançam bootlegs (versões não-oficiais) e outros materiais bônus diretamente aos fãs pela internet. "Acho que a noção de fazer as coisas por mais de uma vertente faz muito sentido", diz Guerinot, que também é o empresário de Gwen Stefani e do Offspring.
A idéia de lançar música de uma forma independente - mantendo a maior parte do lucro - não é nova. Em 1999, o cantor e compositor Jimmy Buf-fet lançou o seu próprio selo, Mailboat Records, após ter se frustrado com as políticas de gravadora. Ele ganha cerca de US$ 5 por álbum vendido e sua renda total em 2005 foi de 44 milhões de dólares, incluindo as turnês.
Bandas menores, que normalmente assinariam com um selo independente, também estão achando formas de levar sua música diretamente aos fãs. A dupla de electro-dance Ghostland Observatory lançou três álbuns, atraindo público de todo os Estados Unidos e conseguindo uma aparição no programa Late Night with Conan O'Brien, enquanto rejeitava oportunidades de assinar com uma gravadora, major ou indie. "As propostas não eram boas o suficiente para mudar o que estávamos fazendo", diz o produtor e baterista da banda, Thomas Turner, que estima uma vendagem de aproximadamente 50 mil álbuns até o momento.
O senso comum diz que artistas bem estabelecidos podem se dar bem fora das grandes gravadoras, mas as bandas novas - especialmente artistas do mainstream que dependem de divulgação em rádio - precisam do empurrão promocional, publicitário e de marketing que uma gravadora pode oferecer. Mas isso é menos verdadeiro do que nunca. A cantora e compositora Ingrid Michaelson lançou seu álbum de estréia, Girls and Boys, em seu próprio selo, Cabin 24. Quando suas músicas foram tocadas no seriado Grey's Anatomy, gravadoras começaram a ligar, mas ela decidiu permanecer por conta própria. "Está indo muito bem, e não devo nada a ninguém", ela admite. "Então por que iríamos dar o poder de escolha para outra pessoa?"