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A Queridinha Mais Durona do Cinema

Como Jennifer Lawrence, estrela de Jogos Vorazes, tornou-se a garota mais interessante de Hollywood?

Josh Eells Publicado em 13/04/2012, às 15h00 - Atualizado em 09/01/2014, às 12h03

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- - Theo Wenner
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"Cara!", diz Jennifer Lawrence ao celular. “estou muito perdida! Estou dando voltas há, tipo, 10 minutos. Onde diabos é esse lugar?” Ela está procurando por um estábulo. Temos planos de cavalgar nos cânions acima de Malibu, mas nenhum de nós consegue achar o local. A jovem atriz mais talentosa de Hollywood está parada em uma rua lateral dentro de seu Volkswagen branco, usando jeans, camiseta cinza e óculos de sol estilosos. Seu cabelo naturalmente loiro está preso em um rabo de cavalo e os cotovelos estão para fora da janela aberta. Ela é famosa por interpretar jovens vulneráveis com disposição de aço, como no papel indicado ao Oscar em Inverno da Alma, ou como a arqueira Katniss Everdeen, no recém-lançado Jogos Vorazes. Neste momento, a expressão no rosto mostra que ela está falando sério. “Preciso muito ir ao banheiro.”

Dirigimos um pouco mais e encontramos o estábulo, que, afinal, não é um estábulo, só um estacionamento empoeirado onde um trailer com cavalos está parado. Jennifer sai do carro e dispara como um raio, correndo pela trilha em busca de um arbusto. Duas gatas de 20 e poucos anos, de óculos de sol e sutiãs esportivos, em roupas de caminhada chiques, olham duas vezes quando ela passa por elas. “Aquela não era...?” Jennifer, 21 anos, tem um jeito especial de causar uma primeira impressão. O ator Woody Harrelson, colega dela em Jogos Vorazes, ainda se lembra do primeiro encontro dos dois. “Estava no meu ônibus”, conta, “e lá tenho um balanço para ioga. Jennifer entra e fala: ‘Oi, Woody, sou J.... isso é um balanço sexual?’ Foi a primeira frase que ela me disse.” Josh Hutcherson, também de Jogos Vorazes: “Quando fui contratado, ela me ligou para uma daquelas conversas tipo ‘Estou empolgada em trabalhar com você, blá blá blá’. O papo começou com ela dizendo: ‘Pense em um cateter entrando – ai’. E isso se transformou em um falatório de 45 minutos sobre zumbis e o apocalipse.” Diz Zoë Kravitz, que contracenou com Jennifer em X-Men: Primeira Classe e é uma das melhores amigas dela: “Tínhamos nos encontrado algumas vezes e ela falava: ‘Vá lá em casa uma hora dessas’. Chego lá, ela abre a porta enrolada na toalha. Diz: ‘Entra, desculpe, você chegou cedo e eu estava indo tomar banho’. Deixa a toalha cair no chão, entra no chuveiro e começa a depilar as pernas, totalmente nua. Dizia: ‘Já chegamos a este nível de intimidade? Tudo bem?’ E pensei: ‘Acho que chegamos lá!’”

Jennifer faz xixi em tempo recorde (“Sou a mijadora mais rápida que existe”, afirma mais tarde. “Sou famosa por isso”) e começa a voltar pela trilha. Mal teve tempo de abotoar o jeans quando duas pessoas a interrompem. “Desculpe incomodar”, um diz, “mas posso te pedir um autógrafo? Minha sobrinha tem 15 anos, vai ganhar o dia com isso.” Sobrinhas de 15 anos são o ponto fraco de Jennifer no momento. A trilogia de Jogos Vorazes é a maior sensação adolescente desde Crepúsculo, com 24 milhões de cópias do livro impressas. Como uma história de amor pós-apocalíptica e cheia de ação, atrai garotos e garotas. Especialistas preveem que, no total, o filme faturará zilhões de dólares. Três continuações já estão em andamento, com o segundo longa planejado para novembro de 2013.

De volta ao estacionamento, encontramos nossa guia, Jasmin, que nos apresenta a nossas montarias do dia. Jennifer fica com uma égua branca chamada Nay-Nay, que Jasmin afirma ter aparecido na minissérie Band of Brothers, da HBO. “Ah!”, diz Jennifer, fazendo carinho no nariz do animal. “Você é famosa!” Jasmin nos entrega documentos que a isentam em caso de acidente – Jennifer coloca a mãe como contato para emergências – e capacetes, e tenho uma imagem mental assustadora da estrela da mais nova franquia bilionária de Hollywood caindo de cabeça em um precipício. Só que a idéia esvanece assim que Jennifer engancha a bota no estribo e, em um movimento fluido, sobe no cavalo como uma profissional. A família dela tinha uma fazenda de cavalos quando ela era criança. Seu primeiro cavalo foi uma pónei chamada Muffin: “Era bonitinha”, diz, “mas tinha um gênio do cão”. Depois disso, passou para dois machos, Dan e Brumby. “Eles se odiavam, mas um dia houve uma tempestade enorme e eles passaram a noite enfiados no celeiro juntos, e, de repente, ficaram inseparáveis. A tensão sexual finalmente foi resolvida.” Finalmente, veio Brandy. “Tão caipira, sem classe”, conta, referindo-se ao nome do bicho. “Foi durante minha fase de blusa tomara-que-caia.”

Iniciamos a trilha, uma escalada de 548 metros aos pés das montanhas de Santa Monica. Passamos por carvalhos e salgueiros e arbustos de sálvia. Jennifer diz que não consegue cavalgar em Los Angeles com frequência. “Fiz isso uma vez, em uma arena”, conta. Pergunto como foi. “Era uma construção grande”, diz com um sorriso, “com um teto.” Subimos um pouco mais. “Dá para ver a bunda do seu cavalo”, fala. “Está suada. Consigo ver a secreção suada da bunda dele.” Ela também fala muito sobre vomitar. Recentemente, estava em casa, no Kentucky, e pegou uma virose. “Vomitei por todos os cantos”, conta. Também tem uma lembrança vívida da vez em que comeu salmão estragado. “Vomitei, tipo, dois dias seguidos. Agora, estou em uma cruzada contra salmões.” No entanto, não vomita depois que bebe, pelo menos não mais. “Aprendi minha lição. Agora paro antes de desmaiar. De qualquer forma”, diz, “qual foi a última vez em que você vomitou?”

Bradley Cooper, que recentemente terminou de rodar um filme com a atriz, diz que ela é “o tipo de pessoa que você quer no set contigo às 4 da manhã, quando está ficando maluco”. “Ela fala qualquer coisa”, concorda Lenny Kravitz, com quem contracenou em Jogos Vorazes. “Qualquer coisa.” (Ele também conta que ela insistia em chamá-lo de “senhor Kravitz”, porque ele é pai de Zoë).


De forma lenta e constante, percorremos nosso caminho até o topo do cânion. À nossa frente há uma vista panorâmica do azul Oceano Pacífico, com as mansões brancas de Malibu pontuando os penhascos abaixo. Chegamos a um ponto sombreado e desaceleramos os cavalos, com o meu começando a comer grama. “Não deixe ele fazer isso!”, diz Jennifer. “Não é bom para ele – tem um pouco na boca dele.” Só que, alguns minutos depois, olho para trás e vejo Nay-Nay curvada, mordiscando um arbusto de sálvia. Jennifer está deitada sobre o pescoço do animal, sussurrando. “OK”, diz. “Só um pouquinho.”

Em uma manhã de inverno em Janeiro de 2011, Jennifer Lawrence tomava chá no lobby de um hotel chique em Manhattan. Estava a poucos dias de sua indicação ao Oscar, mas estava mais empolgada com um livro. “Estou lendo Jogos Vorazes agora”, contou. Mal podia esperar para voltar a seu quarto e terminar de ler. “Estão adaptando”, acrescentou. “Vão começar a fazer testes e tal.” Ela tinha acabado de chegar de Londres, onde estava filmando X-Men: Primeira Classe. Para o papel como a mutante azul Mystique, passava oito horas por dia colocando a maquiagem (e duas para removê-la). No final da produção, teve de brigar para receber de volta o depósito-caução de seu apartamento em Notting Hill porque a banheira tinha ficado azul.

Pouco tempo depois, conheceu Gary Ross, diretor de Jogos Vorazes. “Ela estava bem vestida porque era temporada do Oscar”, relembra Ross. “Veio a meu escritório, que tinha copos de isopor e caixinhas de entrega de comida por todo lugar, toda produzida. Muitas garotas ficariam encantadas com a ideia de se arrumar para o baile, mas para Jen era tipo: ‘Você acredita que tenho de usar este vestido?’” Ele perguntou como ela estava lidando com tudo. “Para ser sincera”, afirmou, “eu me sinto uma boneca de pano.” Estilistas e maquiadores ficavam bajulando, enfiando-a em vestidos estranhos e sapatos desconfortáveis. Era até perfeito, disse Ross – porque é exatamente assim para Katniss Everdeen. Katniss é a heroína de Jogos Vorazes – uma garota de 16 anos determinada e mortal com arco e flecha. O livro é ambientado em um futuro desesperançado, em um país devastado por rebelião e guerra, onde, todo ano, 24 jovens são levados ao Capitólio para competir em um reality show. Eles passam por transformações no visual e dão entrevistas no horário nobre – e, então, são jogados em uma arena e forçados a lutar até a morte.

Katniss foi o papel feminino mais disputado em Hollywood desde Lisbeth Salander de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Jennifer também fez testes para ele; ainda tem uma foto vestindo de roupas de couro e piercings, “totalmente gótica”, no iPhone). Só que, na cabeça de Ross, “não havia muita concorrência. Lembro que saí da reunião dizendo que ficaria chocado se esta garota não fosse aprovada”. Ela passou por meses de treinamento intenso para o papel, incluindo escalada em rocha e combate sem armas. Também trabalhou com uma técnica de arco e flecha, quatro vezes medalhista olímpica pela Geórgia (“o país, não o estado norte-americano”), chamada Khatuna. “É irritante o quão perfeito tinha de ser”, conta. “Você faz uma coisa errada e leva uma chicotada.” (Da corda do arco, não de Khatuna) No entanto, o trabalho compensou: ela diz que agora, de dez flechas, consegue acertar quatro ou cinco na mosca. Ainda tem algumas no carro. “Quer ver agora mesmo?”, brinca. “Quer ir pegar uma pilha de feno [para fazer um alvo]?”

As filmagens duraram quatro meses nas florestas perto de Asheville, Carolina do Norte. Foi basicamente como um acampamento de verão: houve guerra de pegadinhas, troca de quartos e até multas para adultos que falavam palavrões perto de crianças (Ross estima que Jennifer contribuiu com pelo menos metade da quantia. “Ela é fantástica, mas xinga como um caminhoneiro”). Uma noite, Jennifer comemorou seu 21º aniversário com a equipe, em um bar local; em outra noite, todos invadiram o quarto de Lenny Kravitz, no hotel. “Ficamos todos enfiados lá, experimentando as roupas de Lenny, foi bem divertido”, conta Harrelson. O figurino ou as roupas verdadeiras? Harrelson explica: “É meio difícil diferenciar”.

Apesar das raízes nos jovens, o filme é muito mais sombrio e cheio de nuances do que a maioria das produções para maiores de 13 anos. Há muito sangue e várias mortes horríveis de pré-adolescentes. Como nos livros, há uma mensagem sutil, mas poderosa, sobre violência, cultura pop e a política da guerra. “Teria sido muito fácil transformar esses filmes em algo legal, como uma garota durona com arco e flecha”, afirma Jennifer. “Só que não é legal. É uma história triste e uma reflexão terrível sobre a humanidade.” O filme é uma condenação da violência como entretenimento, e a atriz está previsivelmente excelente nele. “Já trabalhei com atores incríveis”, diz Ross, “mas nunca vi alguém com tanto talento bruto. Há uma reserva de poder emocional nela que é impressionante. Às vezes eu perguntava: ‘De onde veio isso?’ E ela respondia: ‘Olha, realmente não sei’.”


Jennifer foi uma surpresa desde o nascimento. “Só percebi que meu apelido era Brinca com Fogo quando fiquei mais velha”, conta. “No entanto, meus pais brincaram com fogo e se queimaram.” A mãe dela concorda: “Achávamos que não teríamos mais filhos. Já tínhamos jogado o berço fora e tudo”. Ela cresceu em um bom bairro no subúrbio de Louisville, Kentucky. O pai, Gary, tinha uma empresa de construção; a mãe, Karen, dirigia um acampamento de verão chamado Hi-Ho. Jennifer foi a primeira garota nascida na família do pai em 50 anos, e os pais a criaram da mesma forma que os dois irmãos mais velhos dela. “Não queria que ela fosse uma diva”, diz Karen Lawrence. “Não me importava que ela fosse feminina, mas tinha de ser firme.” Jennifer era tão durona que, na pré-escola, não podia brincar com as outras meninas porque era bruta demais. “Não que ela quisesse machucar”, conta a mãe. “As meninas só estavam interessadas em fazer biscoitos e Jennifer queria jogar bola.” Jogou softball, hóquei e basquete em um time de garotos que seu pai treinava, mas também foi animadora de torcida por muitos anos. Pergunto se ela se lembra algum dos gritos de torcida. “Sim”, diz, depois balança a cabeça. “Nem pensar.” Qual é, só um! Ela revira os olhos e coloca as mãos nos quadris. “Sem problema! [palmas] O jogo ainda não terminou! [palmas]”. Ela até cerra os punhos.

A mãe conta que Jennifer tem o senso de humor dos irmãos mais velhos. “Ela citava Mong e Loide e Um Herdeiro Bobalhão quando tinha quatro ou cinco anos”, diz. “Falava: ‘Para de olhar para mim, cisne!’, e os dois rachavam de rir”. Aos 9 anos, ela atuou em uma peça da igreja baseada no “Livro de Jonas”. Era uma prostituta de Nínive e roubou a cena. “As outras meninas só ficavam lá usando batom”, conta a mãe, “mas ela entrou rebolando e desfilando. Nossos amigos disseram: ‘Não sei se devemos dar parabéns ou não, porque sua filha é uma ótima prostituta’.” Jennifer passou mais alguns anos fazendo peças na igreja e musicais na escola. Então, houve um encontro casual que mudou tudo. Quando tinha 14 anos, ela e a mãe visitavam Nova York durante as férias. Estavam vendo dançarinos de break na Union Square quando um homem com uma câmera se aproximou dizendo ser recrutador de modelos e perguntou se poderia tirar algumas fotos de Jen. Soava suspeito – mas, desta vez, era verdade. Pouco tempo depois Jennifer tinha um agente e era chamada para testes de atuação.

Durante meses, pediu para que os pais a deixassem se mudar para Nova York e tentar a carreira de atriz. Finalmente, eles concordaram que ela fosse – só por seis semanas. A mãe tinha de trabalhar no acampamento de verão, então o irmão Blaine, então com 19 anos, foi com ela. Na primeira noite na cidade, jantaram no Applebee’s da Times Square. Na noite seguinte, Jen ligou para contar que tinha visto um rato “do tamanho do Shadow” sair do forno (Shadow era o gato da família). No entanto, quando começou a receber papéis, a mãe se mudou para Nova York, e seis semanas se transformaram em um ano. Foi difícil no começo. “Não tinha amigos”, ela conta. “Lembro que me sentia meio sozinha.” Fez aulas online e se recorda de que os pais brigavam muito. “Parecia ser um planeta diferente”, diz Karen. “Nossos amigos achavam que estávamos loucos. Nós achávamos que estávamos loucos, mas os irmãos dela diziam: ‘Esta é a chance de ouro, vocês têm de deixá-la tentar’.”

“Então”, conta Jennifer, “a bola continuou rolando.” Fez um comercial da operadora de celular Verizon. Interpretou a filha de uma vítima na série Cold Case e uma mascote de escola em Monk (“Acho que era um urso ou um jaguar. Tenho muito respeito por mascotes”). Filmou um piloto que não virou série, Not Another High School Show, no qual acha que interpretou a “Garota dos Peitos” (“Tive de usar sutiã com enchimento. Meu pai não ficou nada feliz”). A melhor história é a vez em que fez uma sessão de fotos para a marca Abercrombie & Fitch. “Nenhuma das minhas fotos foi usada”, conta Jennifer, “e quando meu pai ligou para perguntar o porquê, enviaram os negativos – olha aqui o motivo!” Aparentemente, o fotógrafo tinha levado todos os jovens para uma praia, lançado uma bola de futebol americano para eles e dito para irem jogar. “Todas as outras garotas estão bonitinhas, fazendo pose enquanto jogavam”, conta Jennifer. “E meu rosto está avermelhado, minhas narinas abertas, e estou no meio do salto, prestes a bloquear essa menina, tipo ‘Rahhrrr!’ Nem estou olhando para a câmera. As outras garotas falavam ‘Tira ela daqui!’”

Jennifer disse uma vez que, se os pais soubessem que ela faria sucesso, nunca teriam a deixado ir embora. “Achávamos que ela iria para Nova York e diriam: ‘Cuidado com a porta ao sair’”, conta Karen. “Se não fosse o agente dela literalmente quase me estrangular, dizendo ‘Você não está entendendo, nunca vi uma garota de 14 anos assim’, não teríamos conseguido.” Ela cumpriu com as obrigações, com papéis de coadjuvante em coisas que você provavelmente nunca viu, como um filme com Charlize Theron chamado Vidas que se Cruzam e uma comédia ruim do canal TBS estrelando Bill Engvall (também fez testes para Bella, em Crepúsculo, e para o papel de Emma Stone em Superbad – É Hoje). A chance veio com Inverno da Alma, uma história enérgica e gótica de assassinato ambientada em uma Ozark, onde os homens dizem às mulheres coisas como “Já te disse com a boca pra ficar calada”. Jennifer estrelou como uma durona de 17 anos que cuidava dos irmãos menores. Karen leu o livro e disse que ela seria perfeita, mas o diretor a achava bonita demais. Então, a atriz pegou um voo noturno para Nova York, andou 13 quarteirões no granizo e apareceu com o nariz escorrendo e o cabelo sem lavar havia uma semana. Conseguiu o papel.

Passou um mês filmando no Missouri, ficando com uma família local e aprendendo a atirar com rifles e a cortar lenha (na verdade, ela já sabia: “Passei por uma fase de lenhadora quando tinha 9 ou 10 anos”). Desapareceu no papel – dentes amarelados, lábios rachados, muita roupa larga de flanela. Em uma cena, o ator John Hawkes, que fez o temível tio Teardrop, tinha de agarrar Jennifer pelos cabelos e pressionar a garganta dela. “Sempre fiquei preocupado em não machucá-la”, diz. “Mas toda vez ela me dizia para ir fundo.” A cena mais comentada foi uma em que ela retira as vísceras de um esquilo para fazer o jantar (“Devo dizer que não era real, por causa do PETA”, afirmou uma vez, “mas que se foda o PETA”). “Acho que ela gritou muito alto quando isso foi feito”, conta Hawkes. “Algo como: ‘Nunca mais vou comer espaguete’. Não sei se ela é necessariamente destemida – mas é boa em te convencer.”


O filme fez de Jennifer uma sensação, mesmo que hesitante. Na manhã em que as indicações ao Oscar foram anunciadas, alguém tirou uma foto dela com a família no momento em que seu nome foi lido. Sua expressão facial, conta, foi “como se estivesse sendo mandada para a cadeia”. Zoë Kravitz diz que amava provocá-la: “‘Você está disputando com a Natalie Portman, não tem chance’. E ela respondia: ‘Você está certa, não tenho mesmo!’” (No entanto, Lenny conta que a flagrou na biblioteca da casa dele, em Paris, segurando um dos Grammy deles e treinando um discurso de agradecimento). Ela realmente não teve chance (vamos ser sinceros: será que a Natalie Portman conseguiria pegar uma porção de esquilos mortos e falar: “Vocês querem fritos ou cozidos?”), mas, embora não tenha vencido, Jennifer definitivamente causou sensação no tapete vermelho, em um vestido de uma cor que era meio alta-costura, meio SOS Malibu (seu estilista contou que eles estavam “em uma cruzada para trazer os mamilos de volta à moda”). Era o oposto de Inverno da Alma – ostensivo e sexy. A melhor parte foi que, nem 15 minutos antes, Jennifer estava em no quarto de hotel, devorando um sanduíche de churrasco com queijo. “Jennifer não tem um pingo de arrogância”, diz Harrelson. “Não está tentando ser metida ou alguém que ela não é. É verdadeira. É simplesmente uma garota incrível do Kentucky que chegar longe.”

"Você está com fome?", ela pergunta. “Porque estou morrendo de vontade de hambúrguer com fritas e Budweiser agora.” Estamos em Santa Monica, onde ela mora no mesmo apartamento de dois quartos que dividia com a mãe. Karen foi embora, mas Jennifer tem muitas visitas. “Somos muito bobas – do nível Beavis e Butt-Head”, conta Zoë Kravitz. “Comemos porcaria e assistimos a programas ruins na TV” – como Scare Tactics ou Bad Girls Club – “e aí ela deita na cama e se encolhe como um cachorrinho.” (Zoë também gosta de provocar Jennifer dizendo que a página dela no site IMDb é como a de uma atriz de novelas mexicanas. “Um Novo Despertar?”, diz. “Inverno da Alma?”) Ela gosta da região. Fica a dois minutos de carro do supermercado Whole Foods e a 15 minutos de bicicleta da praia. “Mas vou ter de me mudar”, conta. “Meu endereço foi parar na internet.” Quando voltar das filmagens do próximo longa, está pensando em comprar uma casa. “E um cachorro grande”, diz. “E uma arma.”

Não conseguimos achar um restaurante que estivesse aberto e servisse cerveja, então nos contentamos com um com pátio e limonada (“Se as pessoas aprenderem uma coisa com esta matéria”, diz, “é sobre a falta de apoio a bebidas alcoólicas durante o dia em Los Angeles”). Ela pede um hambúrguer – ao ponto – e uma xícara média de chá de hortelã – sente que está ficando resfriada e não quer ficar doente antes de sua grande turnê de imprensa. “Hoje de manhã, pensei: ‘Este resfriado não é de nada’, mas acho que está piorando.” Chegou até a experimentar seu primeiro suco típico de Los Angeles, uma “mistura de espinafre com cenoura e couve. Tomei um gole e imediatamente botei um monte de açúcar naquilo”. Mais tarde, entramos em um bar do outro lado da rua para tomar uma cerveja, e Jennifer faz outra pausa impressionantemente rápida para ir ao banheiro. Dura menos de um minuto. “Não faço mais nada”, diz, “nem lavo as mãos – depois de fazer xixi? É um pouco dramático.” É bastante convicta quanto a isso. “Fiz um experimento de ciências na oitava série que quase fechou minha escola. Tinha uma teoria de que lavar as mãos é algo supervalorizado. E é verdade: a porta do banheiro tinha as mesmas bactérias do assento da privada, e a pia era a parte mais suja – mais suja do que a descarga! Tinha quantidades nojentas.”

Também há a vida amorosa dela. Em Jogos Vorazes, uma subtrama de triângulo amoroso inspirou algumas rivalidades no estilo Crepúsculo entre o time Peeta e o time Gale. Na vida real, ela está comprometida. Depois da entrevista, ela tem planos de ir jantar com o namorado, o ator inglês Nicholas Hoult, de 22 anos, mais conhecido pelo filme Um Grande Garoto (ele fez o garoto). Eles se conheceram no set de X-Men, no qual Hoult fez o papel de Fera. Zoë Kravitz viu que isso ia acontecer. “Eles se complementam de uma forma incrível”, conta. “Jennifer é louca e impulsiva, mas ele a mantém com os pés no chão. E ela sempre o surpreende.”

Jodie Foster, que dirigiu em Um Novo Despertar, diz que a atriz tem sido inteligente na carreira. “Umas das coisas ótimas de Jen é que ela é muito exigente”, afirma Jodie. “Normalmente, garotas de 21 anos conseguem um trabalho e, de repente, só estão fazendo filmes ruins – uma comédia romântica, um musical, uma aparição em um filme sobre dançar break. Ainda não sabem quem são, então acham que podem ser qualquer coisa, mas ela tem sido muito específica quanto ao que quer fazer.”

Depois de Jogos Vorazes, Jennifer estrelará em uma comédia de humor negro chamada The Silver Linings Playbook, dirigida por David O. Russell. O papel é o de interesse amoroso de Cooper. “Foi um papel bem disputado”, diz ele, mencionando uma lista que incluía Blake Lively, Kirsten Dunst, Rooney Mara e Anne Hathaway. “Liguei para ela e tivemos uma conversa maravilhosa e totalmente indecente. Pensei: ‘Uau, esta mulher é perfeita’. Os dois gostaram tanto de trabalhar juntos que fecharam contrato para outro filme, que começa a ser rodado em Praga neste mês. “Já aprendi uma palavra em tcheco”, conta Jennifer “Pivo – cerveja.”


Ela sabe que a vida está prestes a mudar imensamente. “Comecei a ficar ansiosa nos últimos tempos”, diz. “Comecei a limpar como uma louca. Estou tendo meus primeiros paparazzi e coisas assim. Outro dia, umas 25 fotos minhas com o Nick jogando basquete apareceram e falei: ‘Jennifer, você tem que começar a usar maquiagem para jogar basquete, porque está horrível’.” Recentemente, também foi abordada em um aeroporto por um fã obsessivo que havia dirigido quase 500 km e comprado uma passagem de avião na mera esperança de encontrá-la. “Sei que pareço louco”, ele disse. “É”, ela respondeu, “parece sim, mas aqui estão suas fotos.”

Ela provavelmente vai se dar mal um dia, mas, por enquanto, ainda ri da proximidade com a fama, embora não perceba que é famosa. Veja The Silver Linings..., por exemplo. Um de seus companheiros no filme era Robert De Niro. No último dia de filmagens, ela queria um autógrafo para o pai, mas não sabia como pedir. “Estava em meu trailer, enlouquecendo”, conta. “Não queria incomodá-lo.” Estava sentada ali há um tempo, pensando no que fazer, quando de repente alguém bateu à porta. Era a assistente de De Niro. “E ela perguntou: ‘Você poderia autografar algumas coisas para o Bob?’”