"É muito natural pensar no que o futuro nos reserva e querer destruir determinadas partes de si mesmo para se tornar uma pessoa melhor"
A frase, um tanto complexa, é de Conor Oberst, 27 anos, músico prodígio e o cérebro por trás do coletivo indie Bright Eyes. Em 2006, Oberst embarcou numa jornada de purificação que o levou a viajar por todo os Estados Unidos, incluindo paradas em Los Angeles, onde passou por um regime de desintoxicação, e em Cassadaga, uma comunidade espiritualista na Flórida que dá nome ao novo disco. A viagem espiritual parece ter funcionado: Cassadaga é o álbum mais refinado da história da banda. Antes de sair em turnê, um etéreo Oberst conversou com a Rolling Stone.
Algumas músicas de Cassadaga apresentam vozes de vários clarividentes. Quem são eles?
São gravações que fiz com alguns médiuns. Sempre fui fascinado pelo poder mediúnico e pelas pessoas que percebem a realidade de uma forma mais profunda do que eu. A vida muda e evolui constantemente. Eu sei que me sinto diferente a cada dia.
"I Must Belong Somewhere" parece falar sobre "estar contente em sua própria pele". É isso mesmo?
Sim, e tentar estar o mais presente possível. No passado, eu era obcecado com as coisas que já tinham acontecido, as que iam acontecer e as que poderiam acontecer. E me acostumei com o fato de que parece sempre haver um lugar onde eu preferiria estar.
Mesmo quando você está em cima do palco?
Às vezes, pode ser uma experiência sensacional, mas você ficaria surpreso com a quantidade de vezes em que o estado de transe é quebrado e você se sente como se estivesse em um zoológico.
Qual foi o maior objeto que já atiraram em você em um show?
Me acertaram uma lata cheia de cerveja uma vez. Aquilo realmente doeu. Foi em Atenas, na Georgia. É uma cidade legal, mas cheia de universitários idiotas.
O que você acha que seus fãs querem de você?
Alguns querem música depressiva para adolescentes, alguns querem música de protesto, alguns querem rock. Ou sou muito expansivo, ou não sou expansivo o suficiente. O melhor que posso fazer é ser natural e fazer o que a musa me manda fazer.
Em "Cleanse Song," você fala sobre desintoxicação.
Há uma certa autopreservação que talvez eu tenha negligenciado por um tempo. Quero manter minha saúde e sanidade o máximo possível. Mas as baladas às vezes atrapalham isso.
Conforme você ficou mais velho, as suas ressacas pioraram?
Com certeza. Eu acho que é uma questão de aprender que, seja lá qual o tipo de escape, sensação boa ou momento sensual que você alcance, ele pode não valer a ansiedade e o sentimento de solidão do dia seguinte.
As pessoas que o conhecem dizem que você é mais feliz hoje do que antigamente.
Acho que sim. Estou aprendendo a não me estressar quando as coisas parecem impossíveis, porque geralmente esse sentimento logo vai embora.