Zeca Baleiro discursa sobre suicidas e os tempos modernos
Após três anos sem lançar um disco de músicas inéditas, o maranhense Zeca Baleiro retorna com O Coração do Homem-Bomba, primeira parte do trabalho que terá um segundo volume em novembro. Durante o hiato, não parou de trabalhar: compôs trilhas sonoras, investiu no projeto de um disco infantil e, claro, teorizou sobre a vida e a arte.
Quais sensações lhe transmite a figura do homem-bomba que dá nome ao disco?
O homem-bomba é um personagem muito intrigante. O que o leva a se explodir? Coragem, loucura, fé, desapego? É um mistério. Imagino que isso intrigue muita gente também. Mas o meu homem-bomba quer explodir pela causa da música. Só.
Você acredita nesse poder? Acha que uma canção pode mudar profundamente a vida de alguém?
Pode até parecer ingênuo, mas acredito nesse poder da música popular. Claro que hoje essa influência tende a ser menor. Lembro do Walter Franco contando sobre o cara que o abraçou no bar, agradecido, porque sua canção "Coração Tranqüilo" teria feito ele desistir do suicídio. E tem o caso do fã do Judas Priest que se suicidou ouvindo uma música da banda. Quando eu tinha 8 anos, ouvi o primeiro disco do Secos & Molhados e aquilo mudou minha vida. Vi que havia outro modo de existir, -de pensar, de fazer música.
No texto de divulgação do disco, você menciona que este é um álbum que traz temas "deste tempo tecnológico e cínico". O que você quis dizer com isso?
Este tempo é filho do rock'n'roll. Por ironia do destino, se o rock foi a grande revolução lá atrás, é responsável também por este recrudescimento de hoje: o cinismo da publicidade, o Big Brother, essa "cultura de celebridades", tudo isso é cria do rock.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 24 da Rolling Stone Brasil, setembro/2008