Há 50 anos, Johnny Cash se apresentava na prisão de Folsom, na Califórnia, enquanto o fotógrafo Jim Marshall clicava tudo o que acontecia
Poucos artistas são tão identificados com o lado marginal da vida e da sociedade quanto Johnny Cash. O astro country, que morreu em 12 de setembro de 2003, aos 71 anos, manteve uma relação muito particular com o mundo dos presidiários. Em 1955, ele gravou o hit “Folsom Prison Blues”, contando uma saga sobre a infame prisão de segurança máxima localizada na Califórnia. A canção, com a memorável frase “Eu atirei em um homem em Reno só para vê-lo morrer”, já definia a persona inquieta de Cash. A partir daí, ele começou a se apresentar em prisões por todos os Estados Unidos. Os detentos se identificavam com as histórias de vida dura e de injustiça que Cash contava em suas faixas clássicas.
No fim dos anos 1960, o chamado The Man in Black (“O Homem de Preto”), apelidado assim devido aos trajes de matizes escuras que usava, era um mega-astro da música country. Devido a seu status de artista rebelde e anti-convencional, também havia se tornado ídolo da turma da contracultura e da comunidade roqueira. No começo de 1968, ele aterrissou em Folsom, levando junto seus músicos, que incluíam a esposa, a cantora June Carter, os guitarristas Carl Perkins e Luther Perkins, o baixista Marshall Grant, o baterista W.S. Holland e o grupo vocal The Statler Brothers. Mas não seria um show qualquer – Cash iria gravar tudo e lançar em LP. Para registrar visualmente o acontecimento, lá estava o fotógrafo Jim Marshall.
Johnny Cash e Jim Marshall eram amigos desde o começo daquela década. O cantor sabia que, para estar em meio àquele ambiente, teria que contar com um cara durão e com muita vivência. Marshall, então, era o sujeito certo. Ele foi o único fotógrafo presente ao evento e teve acesso não só ao palco montado na cafeteria para a apresentação de Cash, mas também a outros ambientes da prisão.
As imagens de Jim Marshall capturam com precisão a música visceral e urgente de Johnny Cash. Em Folsom, foram dois shows, realizados no dia 13 de janeiro de 1968. Antes de as apresentações acontecerem, Marshall clicou Cash e sua trupe chegando de ônibus aos imponentes e proibitivos portões da prisão. Lá dentro, o cantor interagiu com o estafe e também com alguns dos encarcerados.
Por fim, teve o show, com a plateia se conectando de forma orgânica ao artista que estava no palco cantando as agruras da vida deles. Em faixas como “25 Minutes to Go” (uma contagem regressiva sobre um prisioneiro prestes a ser executado por enforcamento), “Cocaine Blues” (uma saga sobre vício, infidelidade e assassinato) e “Green, Green Grass of Home” (outra sobre uma execução iminente), eles viam suas vidas refletidas. O encerramento, com o gospel “Greystone Chapel”, oferecia redenção e conforto espiritual.
O álbum At Folsom Prison, lançado em maio de 1968, fez um sucesso enorme, e solidificou a imagem de Cash como artista “fora da lei”. Em 1969, Cash repetiu a dose na prisão de San Quentin, em outra performance memorável. Deste show foi lançado o single com o hit “A Boy Named Sue”. Jim Marshall estava lá novamente para clicar tudo. Johnny Cash dava alguma esperança e distração àqueles homens endurecidos pela vida e que lá cumpriam pena, alguns deles até o final de sua existência.
Seleção de Imagens Verdadeiras e Impactantes
Obra de Jim Marshall compila fotos das apresentações de Johnny Cash em prisões norte-americanas
O livro Johnny Cash at Folsom & San Quentin foi lançado pela editora Reel Art Press. A obra ainda não tem previsão de sair no mercado brasileiro, mas pode ser adquirida via importação. Jim Marshall, que morreu em 2010, aos 74 anos, foi um dos mais importantes fotógrafos contemporâneos. Anos depois de viver essas experiências, ele recordou os momentos ao lado de Cash dentro das prisões federais: “Quando adentramos a área de Folsom, nos deparamos com um muro gigante de granito. Após passarmos por um primeiro portão de ferro, os guardas então nos levaram para uma área de espera. Depois, fomos levados para dentro da prisão. Quando o segundo portão se fechou, fazendo um barulho assustador, Johnny se virou e me falou: ‘Jim, tem um sentimento de permanência neste som’. E eu já começava a pensar se iríamos sair de lá”.