R.E.M. faz show absoluto em SP
Michael Stipe e banda dispensaram blablablá para dominar a platéia com empatia, tecnologia e 25 canções certeiras
Carolina Requena
Publicado em 17/12/2008, às 16h58 - Atualizado em 20/02/2013, às 16h15"Nobody tells you what to do", balança os braços pra cima Michael Stipe, enquanto canta "Drive", um dos sucessos do superpop Automatic For The People. As pessoas imediatamente repetem o movimento, porque, sim, Michael Stipe te diz o que fazer.
Até esta que foi a quinta música do show em São Paulo, nesta segunda-feira, Stipe havia se detido a um discreto boa noite, em inglês, e a também discretos movimentos de reverência à platéia. Mas logo ficou claro que o sucesso do encontro não estaria em nenhum dos artifícios comuns das apresentações ao vivo - poses, verborragia ou puxa-saquismo - Stipe é uma figura compacta e hermética, mas canta e dança e sorri com verdade, e aí está o segredo da empatia.
O show começou com a primeira canção do novo Accelerate, "Living Well Is The Best Revenge", seguida de duas músicas de Monster, de 1994 ("I Took Your Name" e "What's The Frequency, Kenneth?"), além de "Fall On Me" (Lifes Rich Pageant, 1986). O aquecimento serviu para a platéia se acostumar à transmissão ao vivo do próprio show em um painel de luzes que ocupava todo o fundo do palco - com cortes variados dos músicos, em tempo real. As luzes coloridas e a cenografia de videoclipe deixaram claro que a excelência do pop do R.E.M. não se detém à precisa execução dos músicos, às letras provocadoras e à voz de Stipe, massificada pelas FMs nas duas últimas décadas.
Depois das mãos pra cima em "Drive" veio a seqüência política da apresentação, com a reafirmação da esperança da banda no recém-eleito presidente dos EUA Barack Obama ("A História mudou para melhor") e reclamações contra Bush e Reagan ("Até que enfim voltarei feliz pra casa", sorriu Stipe). Um trio de canções deu conta do momento-protesto: as novas "Man-Sized Wreath" e "Hollow Man" e a raivosa "Ignoreland".
Os vários blocos de mesclas de canções de diferentes momentos da banda pautaram, numa estratégia bem-sucedida, as duas horas de show - foram vinte canções e outras 5 no bis, que incluiu "Losing My Religion".
Mas não foi no grande hino do pop - vastamente difundido em rádios e na televisão - que Stipe rebolou e chacoalhou os braços, como nos anos 90. O auge do remelexo aconteceu na marcada "She Just Wants To Be", em que o vocalista se contorceu, em transe, de frente para uma caixa de som, roubando para si o clássico momento do solo dos shows de rock (que caberia a um guitarrista ou baterista).
Em seguida, um "descanso" reuniu toda a banda em duas canções acústicas, com o baterista tocando chacoalho e violão, respectivamente: "Sweetness Follows" (Automatic For The People) e "Let Me In" (Monster). O momento intimista serviu para exibir a potência da voz de Stipe, que não sofreu com o tempo, assim como seu corpo (só a barba grisalha denuncia os 28 anos de carreira).
"The End Of The World", escolha perfeita para o encerramento, deu voz à platéia, que repetiu de forma crescente a frase "I feel fine", enquanto Stipe se revezava entre a observação sorridente e a movimentação explosiva, feito um reserva de futebol chamado ao campo.
Mesmo com o bis pronto (a lista estava pregada à mesa de som), o quinteto lançou no painel de luzes a frase "Mais R.E.M.?", provocando o público a fazer mais barulho pelo chorinho - e então a casa literalmente tremeu. E outra seqüência de uma canção de cada disco amarrou a demonstração do que se pode chamar de pop absoluto.
Veja trechos das duas primeiras canções: