Exposição revela imagens inéditas da obra de Diane Arbus e traz um novo olhar sobre o legado da enigmática fotógrafa
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"Dar uma câmera a Diane Arbus é o mesmo que colocar uma granada nas mãos de uma criança”, declarou Norman Mailer. O comentário veio depois que a fotógrafa clicou o jornalista e escritor com um ar presunçoso, sobre uma poltrona aveludada. Apesar da natureza ambígua das palavras de Mailer, há, de fato, uma agressividade desconcertante nos trabalhos da norte-americana – ou, como a escritora Susan Sontag rotulou em Ensaios sobre Fotografia, há uma espécie de “ingenuidade sombria” na obra de Diane.
“Ela tinha a extraordinária habilidade de retratar simultaneamente sociedade e indivíduo, uma coisa que poucos artistas são capazes de fazer”, afirma Jeff Rosenheim, curador da mostra Diane Arbus: In the Beginning, do museu The Met Breuer, em Nova York, que até 27 de novembro apresenta ao público trabalhos até então inéditos da fotógrafa. “A verdade é que ainda desconhecemos muita coisa sobre ela”, ele complementa.
Natural de Nova York, Diane viveu e registrou através das suas lentes a vida na metrópole até 1971, quando cometeu suicídio, aos 49 anos. Como herança de uma existência conturbada e marcada por recorrentes episódios maníaco-depressivos, ela deixou um proeminente e complexo legado artístico. Embora fotografasse desde os 18 anos, a norte- americana considerava 1956 a gênese de sua carreira fotográfica, ano do qual data boa parte das imagens presentes na exibição. “Em 1956, ela deixou de trabalhar exclusivamente no estúdio ao lado do marido [Allan Arbus] e começou a se descobrir como fotógrafa de rua”, explica Rosenheim. “Ela estava começando a desenvolver uma poética própria.”
Depois de fotografar para revistas de moda como Vogue e Harper’s Baazar, Diane se dedicou exclusivamente a registrar pessoas à margem do sonho americano e completamente fora dos padrões de beleza impostos – prostitutas, artistas circenses, homossexuais e transexuais permearam por quase uma década o imaginário da fotógrafa. Contudo, a preferência da artista por eternizar o que a sociedade norte-americana tachava de a “escória do mundo” causou o estranhamento de críticos como a própria Susan Sontag. Para Susan, Diane não passava de uma voyeur insaciável tentando embelezar mazelas sociais.
Já para o curador, os trabalhos dela são, primeiramente, frutos da empatia que sentia em relação aos excluídos. “Acho que o que Diane queria representar não se encaixava na visão de Susan do que o mundo deveria ser”, afirma Rosenheim. “Diane era como Goya ou Velázquez, um ser fascinado pelas diferenças. As pessoas nas fotos queriam compartilhar os segredos delas com Diane, mesmo que por meio de um vislumbre.”
Na Cultura Pop
Trabalho de Diane pode ter servido de inspiração para Stanley Kubrick
Uma das fotografias de Diane Arbus pode ser vista na capa do disco Exile on Main St. (1972), dos Rolling Stones. A foto do artista circense Hezekiah Trembles aparece logo abaixo da palavra "Exile". Além disso, reza a lenda que Stanley Kubrick teria se inspirado na foto "Identical Twins, Roselle, 1967" para criar as gêmeas do filme O Iluminado. "Kubrick também era fotógrafo e atuava no mesmo terreno que Diane, então é bem provável que ele tenha se inspirado nessa imagem", afirma Jeff Rosenheim.