A vida triunfante e os dolorosos últimos dias de um gênio da comédia
Kid Rock esperava fazer uma viagem maluca com Robin Williams naquela semana de dezembro de 2007, e não ficou decepcionado. Williams, cujo pai tinha sido da Marinha, já havia ido duas vezes ao Afeganistão para levantar os ânimos das tropas norte-americanas pela organização não governamental USO – United Service Organizations; desta vez, Rock se juntou a ele. Os dois haviam se conhecido alguns meses antes, quando o ator assistiu a um show do músico e, nos bastidores, fez uma improvisação inspirada nas letras mais obscenas do cantor. As aventuras da dupla continuaram: durante uma apresentação no Iraque, eles criaram uma sátira ao ritmo de blues e, ao lado do ex-ciclista profissional Lance Armstrong e do comediante Lewis Black, dividiram beliches sem luxos em quartos do Exército. Embora todos estivessem tentando dormir, Williams começou a fazer músicas sobre qualquer coisa que conseguisse ver (e ouvir), incluindo os peidos de Armstrong.
No entanto, quando Williams e Rock passaram um tempo sozinhos, o cantor viu outro lado, assombrosamente diferente, do novo amigo – um homem visivelmente entristecido com a vida. “Ele ficava animado, empolgado. E depois, quando me sentei com ele, chorou e começou a falar da vida pessoal”, Rock lembra. “Foi algo que nunca esperaria.” Como Rock ficou sabendo, Williams estava prestes a se divorciar da segunda esposa – “Ele estava estraçalhado com isso”, diz. “Sei que comediantes podem ser sombrios, mas foi esquisito estar na porra do Afeganistão e ver alguém realmente se abrir daquele jeito”, conta Rock. “Quando ele ficava profundo, ia com tudo.”
Àquela altura, o ator era uma instituição, reverenciado pelas causas beneficentes que apoiava e pelo cérebro rápido e brilhante. “Ele era como um computador”, diz Martin Short, que o conheceu em 1979. “Cospia listas de nomes de um filme que viu uma vez em 1956. Era simplesmente um gênio. Eu ficava de queixo caído.” Williams tinha um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante (pelo papel em Gênio Indomável, de 1997) e uma carreira que alternava filmes para agradar ao público, como Patch Adams – O Amor É Contagioso e Uma Babá Quase Perfeita, com produções independentes como Retratos de Uma Obsessão e Insônia. Também tinha a reputação de ser um dos mais generosos em sua profissão, de trabalhar incansavelmente para ajudar os sem- -teto em shows beneficentes do Comic Relief e de fazer doações regulares a instituições de combate à aids.
Ao longo da carreira, Williams falou abertamente sobre a luta contra o álcool e as drogas, o final dos primeiros dois casamentos e outros problemas pessoais. “Ah, não tenho paz de espírito”, afirmou em entrevista à Rolling Stone, em 1988. “Acho que nunca serei o tipo de pessoa que diz ‘Agora estou tranquilo comigo’. A essa altura você já está morto, sabe? Está fora de seu corpo.” Ele rotineiramente transformava pensamentos mórbidos como suicídio em combustível para piadas. Nos anos 1970, no set da série Mork & Mindy, viu uma corda pendurada e fingiu se enforcar. Em um podcast com Marc Maron em 2010, tagarelou um pouco sobre a própria consciência questioná-lo quanto a pensamentos suicidas: “O que você faria, cortaria os pulsos com um irrigador dental?”
Ainda assim, o ator sempre deixou a impressão de que estava no controle, que não acabaria como muitos artistas antes dele, de que haviam sucumbido a seus demônios. A maior prioridade de Williams era entreter, arrancar risadas, em vez de pensar em si. “Ele falava sobre beber e um pouco sobre depressão, mas de leve”, conta Bob Zmuda, organizador do Comic Relief, que o conheceu Williams no final dos anos 1970. “Sempre esteve sob controle. Então, todos achamos: ‘OK, bom, sei que o Robin tem alguns problemas com a bebida e que às vezes fica um pouco deprimido. Quem nunca?’ Você pensava: ‘Tudo bem, ele sabe enfrentar isso’.”
Nos últimos anos da década de 1970, o então novato comediante começava a elaborar suas apresentações em clubes como The Comedy Store e Improv (“Às vezes excelente, às vezes péssimo, mas sempre diferente”, diz o coempresário Larry Brezner). Mas o aprendizado nos clubes não durou muito tempo. Quando Garry Marshall, produtor executivo de Happy Days, teve a ideia de chamar um ator para interpretar um alienígena no seriado, em 1978, Williams fez um teste e conseguiu o papel. Ele incorporou Mork – um visitante interplanetário que observava e absorvia as fraquezas humanas com uma ingenuidade quase infantil – de uma maneira tão encantadora que foi convidado a ter a própria série, Mork & Mindy.
Brincando no set do programa vestido com a roupa característica para o papel – calças largas e suspensórios nas cores do arco-íris –, ele aproveitava ao máximo a premissa boba da série, improvisando amplamente os roteiros (alguns tinham trechos que simplesmente diziam “Robin faz o lance dele”). A série foi um sucesso instantâneo quando estreou, em 1978, e na segunda temporada o salário de Williams saltou de US$ 15 mil para US$ 40 mil por episódio. Os números de stand-up que ele fazia também decolaram: em uma apresentação típica, podia ir de referências a filmes para uma imitação de Jimmy Carter a outra de Albert Einstein.
Essa capacidade de improvisação influenciou uma geração de comediantes – mas o talento do tro não tem herdeiros. “Não dá para olhar para nenhum comediante atual e dizer ‘Este é descendente de Robin Williams’, porque não é possível ser uma imitação de Robin Williams”, afirma Judd Apatow. “Ele fazia algo tão peculiar que ninguém conseguiria nem tentar uma versão daquilo. Ele elevou o padrão do que é possível fazer e fez com que muitíssimos de nós quiséssemos ser comediantes. Parecia que estava se divertindo muito.”
Noites passadas na boate Studio 54, bonecos de Mork, uma frase que virou febre nos Estados Unidos (a fala “Nanu, nanu”, do personagem): a vida de Williams se transformou. Em 1980, ele voou para Toronto – aparentemente de última hora, pois só levava as roupas do corpo – para se juntar a Martin Short em um grupo de improvisação. Hospedado na casa de Short, um dia passou três horas vendo as crianças locais jogarem hóquei na rua. “Ele era famoso demais para sair e perguntar: ‘Posso jogar também?’”, lembra Short, “mas amava observá-las. Era profundamente doce, como um menino inocente”.
Nos anos antes de Mork & Mindy, o lado baladeiro de Williams estava sob controle. Só que, tempos mais tarde, ele tinha acesso a tudo o que queria e, assim, mergulhou na devassidão dos anos 1970. “Eu perguntei o que rolava em Mork & Mindy”, conta Kid Rock. “Ele respondeu: ‘Ah, montanhas de cocaína!’ Falei: ‘Eu sabia!’ Como alguém que gosta de cheirar de vez em quando, pensei apenas ‘caralho’ – nunca fui trabalhar drogado.” “Usava cocaína para não ter que falar com ninguém”, Williams confessou à Rolling Stone em 1988. “Para mim, era como um sedativo, uma forma de me afastar de pessoas e de um mundo dos quais tinha medo.”
Uma noite, em março de 1982, a vida louca que ele estava levando o golpeou em cheio. Ao ouvir que John Belushi queria vê-lo, foi ao bangalô do comediante no hotel Chateau Marmont, em Hollywood. Como parecia que Belushi não queria visitas, saiu; algumas horas depois, Belushi morreu de overdose e Williams teve de testemunhar perante um júri. “No final, só fiquei lá por cinco ou dez minutos”, contou depois. “Eu o vi e fui embora. Ele realmente não me queria ali. Tinha outras coisas para fazer, obviamente.” Williams largou as drogas; quando o amigo e escritor Armistead Maupin, conterrâneo de São Francisco, lhe ofereceu um baseado um tempo depois, ele recusou.
Quase uma década após o estouro de Mork & Mindy, Robin Williams finalmente encontrou um papel no cinema que capturava sua vivacidade e seu lado gentil: o DJ da Força Aérea Adrian Cronauer em Bom Dia Vietnã. O sucesso do filme – que resultou na primeira indicação de Williams para o Oscar – revitalizou a carreira dele. Até o final dos anos 1990 Williams estrelou uma enxurrada de filmes elogiados em uma variedade de papéis: Sociedade dos Poetas Mortos, Tempo de Despertar, O Pescador de Ilusões, Uma Babá Quase Perfeita, a voz do Gênio em Aladdin, da Disney. Os críticos começaram a reclamar que ele estava investindo além da conta em filmes para a família, mas o público discordava: Patch Adams, detonado pela crítica, arrecadou impressionantes US$ 135 milhões em 1998. Na época, dizia-se que Williams ganhava até US$ 20 milhões por filme.
Anos antes, no final da década de 1980, enquanto a trajetória dele como ator começou a atingir picos inimagináveis, Williams enfrentou a primeira grande crise pessoal pela qual passaria, com o divórcio da primeira esposa, Valerie Velardi. Os dois haviam se conhecido em São Francisco, onde ela era garçonete, e se casado em 1978, antes de Mork & Mindy. “Não consigo pensar em uma pessoa melhor para mantê-lo com os pés no chão e prosperando durante aqueles anos iniciais de sucesso”, afirma a comediante Elayne Boosler, que havia tido um relacionamento com o ator antes da fama. “Quando você é tão famoso e ganha tanto dinheiro, ninguém te diz ‘não’, só que é exatamente disso que você precisa, mais do que tudo.” No entanto, Williams e Valerie tinham problemas, presumidamente com relação à suposta infidelidade dele. O casal se divorciou em 1988 e, rapidamente, Williams arranjou uma nova companheira – Marsha Garces, que tinha sido babá do filho deles, Zachary. Williams sempre afirmou que Valerie e ele já haviam se separado quando começou a se envolver com Marsha, mas as fofocas dos tabloides sobre o caso o deixaram arrasado.
Quando a primeira filha do casal, Zelda, nasceu, em 1989 (seguida por Cody em 1991), Williams tinha uma nova paixão – o ciclismo. Antes de morrer, tinha acumulado mais de 50 bicicletas. A obsessão dele pelo esporte levou a uma forte amizade com Lance Armstrong: os dois pedalavam juntos, e Williams foi a diversas provas da Tour de France. Sempre dava a Armstrong um relógio de presente depois de cada corrida que ele vencia (um deles, um Rolex GMT, tinha gravado “ride on, dawg” – algo como “siga em frente, mano”). “Nunca perguntei, mas muita gente vê isso como uma fuga, um lugar seguro para escapar de tudo”, diz Armstrong sobre o fascínio de Williams pelo ciclismo. “Ele brincava: ‘Ah, a Marsha ficou louca comigo porque comprei outra bicicleta. Eu disse para ela que, bom, poderiam ser Ferraris’.”
Mesmo enquanto a fixação de Williams pelas bicicletas crescia, outra grande crise estava prestes a esmurrá-lo. Ele tinha começado a ampliar o espectro como ator; em 2002, havia interpretado um perturbado revelador de filmes em Retratos de Uma Obsessão, um assassino em série em Insônia e um astro infantil depravado na comédia sinistra Morra, Smoochy, Morra. Esses filmes representam alguns dos trabalhos mais corajosos e ousados de Williams, e neles o ator tentou arduamente abafar seu lado brincalhão. “Ele era tão viciado em entreter as pessoas e fazê-las rir que precisava ser engraçado entre as filmagens para botar aquilo para fora, para que, quando entrasse no personagem, conseguisse estar completamente livre daquela necessidade”, conta Mark Romanek, diretor de Retratos de Uma Obsessão.
Apesar de bem recebidos, esses títulos não foram sucessos como Uma Babá Quase Perfeita, e Williams começou a se preocupar com a carreira nas telas. Atordoado com esse panorama, em uma loja no Alasca, abriu a guarda e acabou comprando uma garrafa pequena de Jack Daniel’s. Engoliu todo o líquido assim que saiu do lugar. “Em uma semana, comprei tantas garrafas que soava como um sino de vento andando pela rua”, contou à revista Parade. O alcoolismo de Williams se tornou tão grave que ele ficou bêbado durante um jantar de Ação de Graças e, só depois de uma intervenção da família, foi para a reabilitação em uma clínica, em 2006, onde Armstrong o visitou uma vez. “Quando cheguei lá, não fazia ideia [do alcoolismo de Williams]”, conta o ciclista, que tinha estado com o ator em Cannes poucos meses antes. Não havia sinais visíveis de estresse. “Ele escondia incrivelmente bem. Desviava, evitava e voltava àquele ponto de fazer as pessoas rirem.”
Cada vez mais, o padrão começou a se repetir: para amigos e estranhos, Williams rapidamente se lançava em uma de suas rotinas malucas de improvisação, quase como uma forma de não falar sobre si mesmo e sobre os problemas que o assombravam. “Ele conversava conosco sobre os problemas do vício, mas não sobre os da depressão”, diz o amigo Bing Gordon, que passou muitas férias em família com o ator. “Isso ficava guardado. Ele sempre estava animado.”
Em 2011, dois anos após passar por uma cirurgia no coração, Williams parecia diante de um novo começo. Em julho daquele ano, sua festa de aniversário de 60 anos teve a presença de Billy Crystal e outros amigos. Outra convidada foi a namorada dele, Susan Schneider, que ele havia conhecido no começo de 2009, após o fim do casamento com Marsha. Três meses depois da festa, eles se casaram. Segundo Armistead Maupin, “parecia haver muita felicidade ali”.
No entanto, ao mesmo tempo, Williams sofria. No auge da fama, ele tinha o papel principal em dois a três filmes por ano; em 2010, nenhum filme foi lançado. A atuação excelente como um pai que explora a morte do filho para conseguir fama em O Melhor Pai do Mundo passou praticamente despercebida. Com a carreira abalada nos cinemas, Williams recorreu à TV pela primeira vez desde Mork & Mindy, entrando para o elenco da série The Crazy Ones, de David E. Kelley. O dinheiro – acredita- -se que cerca de US$ 200 mil por episódio – também o ajudaria a pagar duas pensões alimentícias, que, como ele costumava brincar, “comiam todo o salário” dele.
Durante a escalação do elenco de The Crazy Ones, Williams conheceu um de seus futuros coastros, James Wolk. “Quando apontei para a sala onde faríamos o teste, ele me deu um sorriso como se dissesse ‘Para onde vou?’”, lembra Wolk. “Falei: ‘Acho que estão esperando por você’.” Essa sensação de autodepreciação agora assombra alguns amigos de Williams. “Nunca, jamais subiu à cabeça dele”, afirma Bob Zmuda, do Comic Relief. “Agora sabemos por que. Por baixo daquilo, ele sempre achou que não merecia. Era quase como um grande segredo que um dia alguém revelaria: ‘Eles vão descobrir que realmente não sou tão bom nem tão talentoso assim. Cara, enganei todo mundo’.”
The Crazy Ones foi cancelada em maio; Williams não aceitou bem a situação. “A principal coisa que o incomodava era a quantidade de gente que ficaria sem trabalhar”, diz o coempresário do artista, David Steinberg (que não tem relação com o comediante homônimo). “Se ele estava preocupado com a percepção ou com a imprensa tentando transformar aquilo em uma grande coisa? Não, não estava.” Menos de dois meses depois do cancelamento, o artista voltou para a reabilitação na clínica Hazelden, em Minnesota, para “ajustar” sua sobriedade. Na época, também foi diagnosticado com mal de Parkinson.
Poucos meses antes de morrer, o ator foi à casa do amigo Peter Asher, em Malibu, Califórnia. “Ele estava triste”, conta Asher. “Estava infeliz, não parecia nem um pouco alegre. Não era nada em particular. Não era o dinheiro. Todos estávamos preocupados com ele.” Em 10 de agosto, Robin Williams ficou acordado até tarde em casa, em Tiburon, Califórnia. Na manhã seguinte, depois de Susan Schneider sair por volta das 10h30, o assistente do ator foi vê-lo no outro quarto. Pouco antes do meio-dia naquela segunda- feira, 11 de agosto, ele encontrou o corpo frio e sem vida de Williams, vestido e com um cinto em volta do pescoço. Ele parecia, de acordo com a delegacia de Marin County, “estar sentado em uma cadeira”. A morte foi declarada como sendo por asfixia devida a enforcamento. A delegacia também revelou que um estilete tinha sido encontrado perto do corpo e que no pulso esquerdo havia cortes superficiais, indicando que Williams pode ter tentado cortar os pulsos antes de presumidamente se enforcar. Ele tinha 63 anos.
O que levou um dos maiores nomes do cinema na década de 1990 a profundezas sombrias pode nunca ser totalmente conhecido, mas os ingredientes para uma trágica tempestade estavam ali: depressão como uma possível sequela da cirurgia no coração, preocupações com a carreira depois do cancelamento do seriado e, com isso, o pensamento possivelmente paralisante de que ele talvez não conseguisse mais fazer as pessoas rirem tanto quanto antes. Para alguém cujo cérebro ágil e proeza física eram tão cruciais para sua identidade, talvez a ideia de ficar sem ambos devido ao Parkinson fosse demais para suportar. “Robin tinha uma calma, meio que um contraste com o quão surreal e energético era nos palcos”, diz o comediante David Steinberg, que fez uma turnê de apresentações com Williams no ano passado. “Só que aquela decepção consigo mesmo – dava para ver como aquilo era algo muito profundo dentro dele.”
Em suas últimas semanas de vida, Williams foi discreto. Participou de uma reunião dos Alcoólicos Anônimos em Mill Valley, Califórnia, em julho, onde um cinegrafista de TV que estava presente o descreveu como “muito para baixo”. Uma semana antes de sua morte, conversou com Bing Gordon sobre as famílias dos dois. “Com certeza ele não estava exuberante, mas é difícil saber pelo telefone”, diz Gordon. Os dois falaram dos filhos; Gordon tinha comprado um drone para Williams e eles fizeram planos de pilotá-lo pela baía de São Francisco. Na noite de 9 de agosto, o ator foi à abertura de uma galeria de arte perto de casa, e nada pareceu estranho. The Crazy Ones tinha acabado, mas ele estava para aparecer nos cinemas mais vezes em um futuro próximo: na comédia A Merry Friggin’ Christmas, com Joel McHale; no terceiro Uma Noite no Museu; em um filme independente chamado Boulevard; e em Absolutely Anything, no qual faria a voz do cachorro Dennis. Seus empresários estavam esperando o roteiro para uma sequência de Uma Babá Quase Perfeita, que poderia ter sido o projeto seguinte dele.
Para os colegas de Williams em The Crazy Ones, uma lembrança pode durar para sempre. Durante uma filmagem tarde da noite, o elenco e a equipe estavam em uma pausa. Alguém pegou um violão e ele imediatamente começou uma música de improviso. “São duas horas da manhã, e ele não tem 29 anos, mas segue em frente”, conta Wolk. Todos assistiram enquanto Williams, a voz cômica de toda uma geração – que, àquela altura, tentava encontrar seu lugar no mundo –, gritava o blues na escuridão da noite.
Meu Amigo Robin
Por Tom Hanks
A lenda é verdadeira. Em 1978, o falatório começou no set de Happy Days. Naquela semana, a supercelebridade de Fonzie foi ameaçada por um estranho de outro mundo. O cara que fez o alienígena era hilário. Não, mais do que hilário, era o Furacão do Humor. Executivos da Paramount apareceram para um ensaio rápido, minutos depois de avisar os mandachuvas da ABC de que algo impressionante estava acontecendo: o nome desse “algo” era Robin Williams.
Happy Days tinha um cronograma de trabalho de cinco dias: ensaios de segunda a quarta, ajuste de câmera às quintas, filmagem do episódio diante de duas plateias diferentes na sexta. Quem tinha os ingressos naquela semana testemunhou uma movimentação semelhante à que aconteceu quando um jovem caminhoneiro de Tupelo, Mississippi, cantou “That’s All Right, Mama” nos estúdios da Sun Records. Na noite de sextafeira, depois de o público ter ido embora, com os ecos das risadas ressoando no estúdio da Paramount, uma cena final curtafoi filmada na varanda de Richie Cunningham [o personagem de Ron Howard na série]. Uma voz sem corpo disse ao ET vivido por Williams que ele estava sendo enviado ao futuro para continuar estudando essas criaturas curiosas da Terra. Na temporada seguinte, estreou Mork & Mindy e Williams apareceu na capa de revistas em todos os Estados Unidos.
Meu seriado Bosom Buddiesfoi gravado de 1980 a 1982 no Palco 25 da Paramount. Williams estava do outro lado da rua, no número 27. Pensávamos no que acontecia ali, esperando conseguir ver o cara que tomou conta da cidade com a capacidade de sua mente. Um dia, ele foi a um de nossos ensaios e ficamos paralisados como se fossemos bailarinos tontos e ele fosse Baryshnikov. Williams não poderia ter sido mais gracioso, engraçado ou respeitoso e nos tratou como colegas. Você não esquece uma sensação tão boa quanto esta. Quando você o conhecia, ele era divertidíssimo, passando a bola tão livremente quanto Michael Jordan – a diversão era um esforço em equipe. Ele gritava enquanto seus filhos imitavam uma criatura de Star Wars e cantava junto com a esposa. Era um homem atencioso e gentil que fazia com que conversar fosse muito fácil, sem esforço algum. Era uma ótima companhia. Seus olhos, quando não estavam apertados ao rir, mostravam o desgaste de nossa geração e nossa profissão, os demônios enfrentados, os duros quilômetros percorridos. Ele tinha uma sabedoria nascida de todas as queimaduras e cicatrizes da vida e era engraçado quando esse era o assunto.
Se nunca nos esquecemos de como as pessoas nos fazem sentir, então nós nos lembraremos de Robin Williams para sempre. O fato de ele ter nos deixado é uma tragédia em muitíssimos níveis, e as raízes de nossa tristeza são profundas demais, como as causas da partida dele. No entanto, em vez de um réquiem para um fenômeno, um ícone, um cara generoso, vamos lidar apenas com isto: nunca mais teremos Robin Williams nos fazendo rir, bem ali, naquele palco, fazendo com que nos sentíssemos tão bem.