No começo da década de 1980, os Stones estavam prestes a se tornarem quarentões, mas ainda se mostravam malcriados com o sexo oposto. Em Emotional Rescue (1981), eles vieram com este rock básico com influência do punk, que acabou se tornando popular por causa do videoclipe. Na faixa, o protagonista fala que está vidrado em uma garota, mas ela não dá bola para ele já que ela é, segundo o narrador, “tão fria”. Na performance, eles não procuram se levar muito a sério, mas a letra é um tanto rancorosa e zombeteira.
Essa é mais uma faixa de Some Girls que não ganhou atenção dos programadores das rádios por causa do tema pesado. “When the Whip Comes Down” pinta uma imagem sórdida e pitoresca da vida nas ruas de Nova York, com a melodia construída em um riff cru de dois acordes. A história poderia ter saído de algum disco de Lou Reed: um vigarista gay chega à cidade grande vindo da Costa Oeste; ele está determinado a superar os problemas, seja catando lixo ou então vendendo o corpo. A letra fala: “Eu era gay em Nova York/Apenas um veado em LA”. Mas não importava aonde o rapaz fosse, ele só tomava chicotada, como o título evidencia. “Esta é uma música bem gay”, foi a descrição usada por Jagger na Rolling Stone. “Não sei por que a escrevi. Talvez tenha saído do armário.”
O LP Some Girls (1978) foi um dos maiores sucessos de toda a carreira dos Stones, principalmente por causa da inclusão de hits como “Miss You” e “Respectable”. Mas a faixa que deu nome ao álbum causou uma enorme celeuma e foi banida das rádios. Nela, Jagger diz que é perseguido por tietes que só querem se aproveitar dele. Ele descreve seus casos sexuais com mulheres ao redor do mundo (para ele, as chinesas são gentis, as britânicas são puritanas e as norte-americanas são gananciosas). Um verso em particular fez os olhos arregalarem: ele confessa não “dar conta” de satisfazer “garotas negras”, que “querem trepar a noite inteira”. Jagger falou era para ser uma piada. Como disse à Rolling Stone, em 1978: “A maioria das garotas para quem eu toquei ‘Some Girls’ gosta da música. Acham engraçada. Minhas namoradas negras só riram... Gosto muito de mulheres e não acho que tenha dito alguma coisa realmente maldosa sobre nenhuma delas.” Mas o pastor Jesse Jackson não achou graça e denunciou publicamente os Stones.
Muita gente que nunca antes tinha comprado um disco dos Stones, mas levou para casa o LP Goats Head Soul (1973) por causa da balada romântica “Angie”, deve ter ficado horrorizada com o resto do álbum, que falava de drogas e violência policial ("Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)") e satanismo (“Dancing With Mr. D.”). Tudo se encerrava com “Star Star”, cujo título verdadeiro era “Star Fucker”. Mas Ahmet Ertegun, o chefe da gravadora Atlantic, que distribuía a Rolling Stones Records, interveio e fez com que banda mudasse o título. Este rock básico à la Chuck Berry é um tributo a uma groupie. “É, eu ouvi falar de suas fotos polaróide/Isso é que é sacanagem/Seus truques com frutas são uma gracinha/Aposto que você mantém a xoxota limpa”. A frase sobre “fazer um boquete em Steve McQueen” teve que ser aprovada pelo ator – que até gostou da homenagem. A música se tornou ainda mais infame durante a turnê de 1975, quando um pênis de 6 metros era inflado ao lado de Jagger enquanto ele a cantava.
Os Stones tiveram o nome associado ao satanismo depois que lançaram a clássica “Sympathy for the Devil” em Beggars Banquet (1968). A canção, na qual Mick Jagger encarnava o demônio em várias situações históricas, parecia trazer mau agouro. Mas há um bom tempo ela perdeu esta aura maldita e hoje é obrigatória em apresentações da banda. Já "Dancin with Mr. D." ficou relegada a uma mera obscuridade de Goats Head Soup (1973). Os Stones só a tocaram ao vivo na turnê de 1973 e os radialistas também implicaram com a faixa. Ninguém queria colocar em sua playlist uma música que começa assim: "No cemitério onde temos o nosso encontro /O ar tem cheiro doce, e cheira mal/Ele nunca sorri, a boca apenas retorce/A respiração em meus pulmões começa a ficar densa /Mas eu sei o nome dele, ele é chamado de Sr. D.". A letra e a atmosfera lembram "11 Moustachioed Daughters", que o grupo satírico Bonzo Dog Band havia lançado cinco anos antes. Coincidentemente, ambas as músicas destacam o uso da substância beladona para evocar o capeta. No pouco visto vídeo da polêmica canção, Jagger está fabulosamente demoníaco.
Os Rolling Stones gravaram inúmeras canções fazendo alusão às drogas, algumas de forma velada, e outras não. “Sister Morphine” é um das mais explicitas. Tudo relativo à esta canção gerou polêmica. Ela apareceu pela primeira vez como o lado B do single “Something Better”, de Marianne Faithful, lançado em 1969. A cantora começava a consumir drogas de forma intensa. Inspirada em “Heroin”, do Velvet Underground, Marianne fez a letra descrevendo a sensação gerada pelo feito de entorpecentes. Jagger ajudou na melodia. Dois anos depois, a faixa apareceu em Sticky Fingers, creditada somente a Jagger e Richards. Marianne entrou na justiça e agora o nome dela também aparece nos créditos. “Sister Morphine” é uma balada acústica cujo destaque é o violão executado por Ry Cooder. A melodia e os arranjos são belíssimos, mas nenhuma rádio tinha condições de colocar no ar uma letra que falava: “Aqui estou na minha cama do hospital/Irmã Morfina, você veio para o seu turno?/Por favor, Irmã Morfina, transforme meus pesadelos em sonhos/Você não percebe que eu estou me acabando rapidamente?”.
Albert De Salvo ficou conhecido como O Estrangulador de Boston, um serial killer que, na década de 1960, foi responsável por uma série de estupros e assassinatos perpetrados na cidade que deu a ele o apelido. A barbárie do Estrangulador mexeu com imaginação dos Stones, que se inspiraram nele para criar “Midnight Rambler”, que faz parte de Let it Bleed (1969). A estrutura teatral da faixa lembra canções do The Doors como “When The Music Is Over” e “The End”. O blues longo começa cadenciado e aos poucos vai crescendo, até explodir em uma orgia de fúria e violência. “Vocês ouviram falar de Boston...”, canta Jagger. Depois, um poderoso acorde imita uma porta sendo arrombada. Como um ator, Jagger se coloca na pele do “andarilho da meia-noite” e começa a recitar o modus operandi usado por ele para pegar as vítimas. E conclui com a infame frase: “Eu vou enfiar uma faca em seu pescoço, baby, e vai doer”. Albert de Salvo morreu em 1973, mas os Stones seguem tocando “Midnight Rambler” até hoje.
Uma das faixas mais polêmicas de Beggars Banquet (1968), “Stray Cat Blues” foi inspirada no Velvet Underground, em termos de musicalidade, como os Stones mais tarde assumiriam. A ruidosa parede de guitarras e o feedback já denunciavam a influência da banda de Lou Reed. Mas foi a mensagem da música – sexo com menores – que tornou a canção “maldita”. Na faixa, Jagger canta: “Eu percebo que você tem 15 anos, não, eu não quero ver o seu RG”. Ao vivo, ele trocava a idade da garota de 15 para 13. E ainda leva uma com a cara dela: “Eu aposto que sua mãe não sabe que você grita deste jeito”. Depois, tudo vira um ménage à trois, quando ele fala para a garota: “Eu vejo o que você tem uma amiga/ Que ela é mais doida do que você/ Porque você não a convida também?/Se ela é tão doida, pode se juntar a nós”. Por causa do tema incômodo, “Stray Cat Blues” foi banida por muito tempo, embora eles a tenham tocado na turnê de 2002/2003 Licks.
Aftermath (1966), o primeiro álbum dos Rolling Stones contendo apenas músicas compostas pela dupla Jagger/Keith Richards, era uma espécie de manifesto. O disco falava de sexo, drogas e rock and roll. Sim, hoje isso é clichê, mas os Stones foram os pioneiros em tratar os assuntos de uma forma nada romântica ou idealizada. Aftermath também é lembrado por conter faixas que despertaram a ira das feministas, como “Out of Time”, “Under my Thumb” e “Stupid Girl”. Esta última hoje parece estar esquecida em meio ao enorme catálogo dos Stones. Trata-se de uma torrente de insultos, diz que a garota em questão é uma fofoqueira “que falava sobre coisas que não entendia”. E seguia: “Ela é a coisa mais doentia deste mundo, é a pior coisa deste mundo”. E ordenava: “Cale a boca, cale a boca”. Em uma entrevista à Rolling Stone em 1995, Jagger falou sobre a origem da música: “Bem, eu não estava vivendo um bom relacionamento. Ou melhor, eu estava metido em muitos relacionamentos ruins”. Mas hoje não existe muita dúvida de que a “garota estúpida” é a namorada dele na época, a modelo Chrissie Shrimpton.
Esta faixa foi escrita para o amigo Chris Farlowe, que teve um hit com ela em 1966. Aparentemente poucos prestaram atenção à letra – talvez só tenham ficado ligados na bela melodia, no arranjo ao estilo pop barroco e na voz poderosa de Farlowe. Os Stones gravaram a versão deles em 1965, mas ela ficou arquivada e só foi revelada na coletânea norte-americana Flowers (1967). É uma típica canção da época em que os músicos começaram a conhecer garotas da aristocracia e da classe média alta britânica – e se decepcionavam com a hipocrisia delas. Jagger já havia explorado o tema em “Play with Fire”, mas com mais sutileza do que em “Ride on, Baby”. Ele disse ao jornalista Roy Carr, da NME, sobre o tema desta canção: "Trombávamos com aquelas garotas pseudo-descoladas, que se diziam emancipadas, mas viviam encostadas na mãe. Achavam legal sair com um rockstar, mas depois nos esnobavam”. A letra de “Ride on Baby” não deixava dúvidas: "Circule, baby, você é bonita, mas não posso dizer o mesmo da sua mente". E sentenciava de forma impiedosa: "Ria um pouquinho/Não custa tentar/ Se eu não me impressionar/Você ainda pode chorar/Quando você tiver 30 anos, vai parecer que tem 65/Você vai estar horrenda/ E seus amigos vão virar as costas".