Aos 18, Letícia Bufoni se firma como uma das melhores skatistas street do mundo
Bicampeã mundial feminina de skate por duas vezes consecutivas, em 2010 e 2011, a paulistana Letícia Bufoni, 18 anos, precisou de pouco tempo para se tornar profi ssional. Começou quando ela tinha 10 anos, nas ruas do bairro paulistano do Tatuapé, onde conheceu Anderson “Pig”, seu primeiro incentivador. Foi graças a ele que Letícia começou a praticar em uma hoje extinta pista de skate no Shopping Aricanduva, onde conseguiu o primeiro patrocínio, de uma marca de tênis. Não demorou a competir em um primeiro torneio, na modalidade street.
O começo não foi fácil, mesmo sendo um prodígio. “Eu estava na rua com os meninos e minhas vizinhas me apelidavam de ‘Maria-João’ e coisas assim. Foi por isso que meu pai, na época, falou para eu parar e cortou meu skate”, ela relembra, sentada ao lado das instalações que outrora abrigaram a pista em que começou a moldar seu talento.
“No dia seguinte, eu montei outro skate e ele viu que não ia ter jeito. A partir daí, começou a me apoiar. Depois que eu comecei a andar pra valer, nunca mais houve isso.”
Em 2010, Letícia conseguiu o primeiro título na World Cup Skateboarding, repetindo o feito um ano mais tarde. Anos antes, ela havia participado de sua primeira grande competição internacional, o X Games, onde conseguiu a oitava colocação. “Cheguei lá e não conhecia ninguém, nem falava inglês. Eles só me contavam a hora que ia começar e o formato do evento”, diz. Acabou fincando os pés em Los Angeles, com retornos esporádicos ao Brasil. Com o ritmo intenso de viagens, teve de largar a escola (mas, garante, a vontade de concluir o ensino médio continua). Enquanto isso, segue realizando outros sonhos: hoje, por exemplo, é amiga do maior ídolo dela no esporte, o carioca Bob Burnquist, que também serve como uma espécie de conselheiro. “As coisas que ele faz ninguém mais consegue”, ela define, com um sorriso.
Ponderando sobre a atual situação do skate feminino no Brasil, Letícia concorda que contribuiu para o crescimento do esporte, mas ainda espera por dias melhores – mais e melhor equipadas pistas públicas e patrocinadores interessados em investir em mulheres. Sem pretensão de sair do street por causa do medo de altura (“Prefiro cruzar de um prédio a outro do que encarar uma megarrampa”, brinca), ela confessa não sentir muitas saudades da antiga pista descoberta na zona leste, onde tudo começou. “Quando estou aqui e chove, dá até vontade de chorar.”